ABENÇOADA INTERNET: Da aproximação na pandemia aos golpes…

abençoada

O impacto do acesso precoce à internet e às tecnologias digitais atinge mais ao núcleo composto por crianças e adolescentes, acarretando alguns distúrbios sociais, cognitivos, afetivos e espirituais. Aos demais segmentos, o poder de modificação comportamental é grande, mas sazonal, dependendo de ocasiões, de atrativos e necessidades. Diante de uma pandemia, para toda a população, o acesso foi frequente e necessário, como modo de perpetuar os contatos humanos, de maneira distanciada e frequente, alterando a vida de todos e garantindo uma relação até que saudável, entre as partes. Poderíamos dizer: abençoada internet.

Pensando nos tipos de contatos humanos, tendo a internet como canal de ação, os traços de personalidade e as condições psicológicas passam a ter destaque, visto que a extroversão, a autoestima, o narcisismo e a solidão imprimirão um ritmo e uma frequência diferenciada nos acessos à rede de comunicação. Inclusive o narcisismo tem um papel expressivo, até que subestimado, nos comportamentos das pessoas no mundo virtual; seja a ser pouco analisado e despreocupadamente é apontado como um comportamento de risco, nas relações mediadas pela internet.

Estudos da Psicologia Social apontam para questões relativas ao maior número de amigos em rede, atualizações em ritmos frenéticos, exposições desnecessárias como indicativos desta sintomatologia que merece atenção: o narcisismo. Toda a apresentação e exposição serve para colocar a pessoa numa evidência que passa a ser cada vez mais necessária e excessiva, como se ela tivesse que dividir com seus amigos toda sua vida íntima e seus planos. Tal exibicionismo atinge raias de indiscrições e se torna desnecessário, porém não é percebido pelo seu autor: ele só quer ser ativo nas redes sociais.

A busca por admiração e estabelecimento de dominância sobre seus pares imprimem um ar de superioridade. O foco em si é forte e constante e o mundo ao seu redor faz pouco sentido, desde que seus seguidores estejam sabendo e curtindo suas aparições, o mais realmente não interessa. Ele flana para além da avaliação dos outros, uma vez que se basta a si mesmo, insanamente, nem mesmo a pequena admiração dos seus próximos mais próximos e de sua deturpadas percepções sobre si mesmo são capazes de diminuir seus ataques às redes sociais, para explicitar seus feitos. E a internet é um campo propício para estes seres carentes. Abençoada internet para estas pessoas…

Entretanto, a internet em tempos de pandemia foi um espaço de alta mobilidade social: muitos tiveram apenas o ciberespaço para se comunicar e se sentir vivo e interagindo com o Mundo. Muitas pessoas estiveram realmente em isolamento social (fizeram bem o dever de casa) e usaram dos recursos do ciberespaço para travar contatos com seus amigos, parentes e demais membros de sua comunidade, sem cair na vulgaridade nem na exposição desnecessária. Para estes, a internet foi uma ferramenta benéfica para manter e garantir a natureza humana em franca relação social.

Foi grande o número de pessoas que aprenderam a usar seus aparelhos de informática para trocar suas experiências, informações, dúvidas, lamentos, medos e angústias, de maneira que a internet teve um valor terapêutico de muita valia e, adequadamente, colocou o Mundo em comunicação, de modo razoável e adequado. Nem a falta de recursos paralisou o uso desta ferramenta: mesmo com sinal fraco, com pouco tempo de aprendizado ou com aparelhos arcaicos ela deixou de exercer seu papel de salvadora da saúde mental de muitos.

Sim, abençoada internet salvadora da saúde mental, porque quando a pressão do isolamento estava começando a doer demais, ela dava o toque de calmaria, com uma música, um filme, uma live, um show, um programa cômico. Ela não deixou ninguém solitário nem afastou ninguém de seu núcleo familiar básico, pelo contrário: entrou em espaços nunca antes visitados, aproximou pessoas que se conheciam desde muito e manteve próximo aqueles a quem escolhemos como próximos. Foi a tábua da salvação, para o mundo isolado socialmente.

Por outro lado, oportunistas se aproveitaram de uma população que não usava a internet com frequência para copiar dados pessoais, invadir contas, violentar cartões de crédito e demais crimes do mundo virtual. Claro que estamos sujeitos a tudo isto, em situações de desconhecimento, porém os benefícios que o ciberespaço nos trouxe é consideravelmente absurdo e gigante, diante do todo em que vivemos até este momento, nesta crise pandêmica. Surgiram novos crimes e novos bandidos mas, também, surgiram novos amigos, novos amores e novos mundos que se concretizam a medida que as relações se tornam mais profundas e maduras. Tudo uma questão de oportunidade e de maturidade.

Não são sonhos nem são pesadelos: a internet veio para ficar. Com ela eu posso estar aqui, lá e acolá ao mesmo tempo. Posso reencontrar quem quiser e quando quiser, posso mandar músicas, fotos, cartas, livros e, ainda, posso me materializar em vídeo na casa de quem eu quiser, tanto quanto posso recebê-los em casa. Ouvi, dia destes, da necessidade de usar uma tela virtual para não violentar minha casa, minha intimidade, mas também ouvi de pessoas outras da grandeza de receber em seu escritório ou em sua sala, dando um toque mais pessoal e fraterno ao contato. Esta é a internet. A que veio para ficar.

OUTROS ARTIGOS DE AFONSO MACHADO

CENAS BIZARRAS

FALAR O QUÊ?

HUMANIDADE TRANSFORMADA?

PRECISO DESENHAR???

Neste período de isolamento eu ministrei cursos on-line, para quatro turmas e confesso: me senti muito bem por vê-los, ouvi-los, recebê-los as 8 horas e ser recebido por todos eles. Mantive minhas turmas de Memória, com adultos, de maneira muito lúdica e especial, criando laços afetivos e firmando-os de modo a ter grandes amigos nestes grupos. Fui invadido? Por criminosos? Sim, fui. Mas recuperei o que perdi. Porém, mais do que perdas, vale o sabor das conquistas; aprendi muito, vivi muitas emoções e dividi muitas alegrias com aqueles com que travei contato. Abençoada internet, que me possibilitou perceber que juntos somos bem mais fortes.(Foto: amp.flipboard.com)

AFONSO ANTÔNIO MACHADO 

É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology. Aluno da FATI.

VEJA TAMBÉM

TIREOIDE AFETA TODO ORGANISMO DA MULHER. ASSISTA AO VÍDEO DA GINECOLOGISTA LUCIANE WOOD

ACESSE O FACEBOOK DO JUNDIAÍ AGORA: NOTÍCIAS, DIVERSÃO E PROMOÇÕES

PRECISANDO DE BOLSA DE ESTUDOS? O JUNDIAÍ AGORA VAI AJUDAR VOCÊ. É SÓ CLICAR AQUI