Charles Darwin certa vez disse: “As espécies que sobrevivem não são as mais fortes, nem as mais inteligentes, e sim aquelas que se adaptam melhor às mudanças.” Olhando para os pelos do corpo, você chegaria a essa conclusão? Eu não. Não são estéticos e, aparentemente, desnecessários. Porque não sumiram de vez já que são um acessório obsoleto?
Na árvore da evolução de Darwin, temos um ancestral peludo em comum com todos os outros animais. Naquela época justificava ter pelos. Até que eles passaram a não ser tão uteis.
Vamos aos fatos.
Era, perfeitamente, compreensível termos o corpo coberto por pelos na era do gelo. Era uma proteção bem eficiente para a manutenção da temperatura corporal, porém, quando o planeta passou a aquecer, começou a tornar-se desnecessário correr atrás de um mamute enrolado numa manta felpuda.
Alguns pesquisadores afirmam que a radiação solar teve grande papel na queda dos pelos. Aparentemente, o bulbo capilar foi, literalmente, queimado durante a exposição solar à época. Os danos provocados nas células destruíam o folículo e, assim, mais e mais indivíduos, ao longo das gerações passaram a apresentar pele mais lisa, o que favorecia a migração e busca por alimentos num ambiente mais quente.
Também favorecia os encontros amorosos. Muitas fêmeas caíram de amores pelos machos modernos sem pelos, favorecendo a permanência da nova característica na prole.
Um fato: ainda hoje temos tantos folículos pilosos quanto um macaco.
Eles simplesmente não se desenvolvem por motivos genéticos (com algumas exceções, é claro! Basta observar Tony Ramos sem camisa. Os folículos dele estão agitadíssimos ainda…).
Não há estímulo para o seu crescimento, exceto em partes específicas do corpo, tais como: cílios, ouvido, axilas, nariz, virilha e sobrancelhas. E porque esses pelos ainda resistem à evolução?
A resposta não é fácil e, tampouco, precisa, pois, carece de pesquisas, permitindo algumas suposições como: a abundância de glândulas sudoríparas nas regiões corporais citadas e a necessidade, ainda, de proteção para essas áreas.
Os cílios servem para proteger os olhos contra a poeira, microrganismos, luz solar excessiva, entre outros. Pessoas sem eles têm mais sensibilidade ocular, sofrendo ardência e desconforto com o excesso de claridade.Em média, nasce um cílio novo por dia.
Junto com a cera, os pelinhos que nascem no interior do ouvido, atuam como se fossem um filtro, retendo partículas de poeira e microrganismos que possam entrar no nosso corpo através deste orifício. Os homens, normalmente, têm mais pelos que as mulheres e, quando estes pelos são muito longos, chamamos de “Hipertricose Auricular”. Neste caso, é recomendável apará-los, para evitar o acúmulo de sujeira e provocar uma reação inversa aquela a que se propõe.
Nas axilas, os pelos femininos dão impressão de desmazelo, embora, em priscas eras, tenham sido moda entre as damas deixá-los crescer livremente.
Não julgo.
Esses fios aparecem a partir da puberdade comandados pelo crescente aumento dos hormônios típicos dessa fase, tanto em meninas, quanto em meninos. Muitas glândulas estão presentes nessa região, inclusive as odoríferas, fazendo dos pelos um receptáculo para odores que atraem o sexo oposto (ou repelem). Além disso, os pelos nessa área evitam o excesso de fricção, protegendo a pele de assaduras.
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No nariz os pelos funcionam como uma espécie de filtro de ar. Esses pelinhos rígidos são chamados de vibrissas e quando começam a transpor a barreira do nariz, demonstra desmazelo. Natural apará-los, porém, muito cuidados ao arrancá-los, pois, apesar de feios, são úteis.
Os pelos da virilha, hoje em dia, são indesejados até para os homens. Alguns sites onde pesquisei afirmam que a moda de depilar 100% da virilha foi impulsionada por filmes eróticos. Será? É ponto pacífico entre os médicos não recomendar essa prática, considerando que os pelos dessa região protegem a entrada do canal vaginal, tão delicada e sujeita a inúmeros habitantes indesejados. No homem, a presença de pelos ajudaria, basicamente, na diminuição da fricção da pele nas roupas.
Além de dar expressão ao rosto, a presença de sobrancelhas ajuda a proteger os olhos. Esses arcos de pelos grossos desviam a água e o suor para o canto do rosto, auxiliando na visão quando se está na chuva ou suando. A cada dia surgem cerca de dez fios novos para substituir os que caem.
Destarte, resta cristalino que alguns pelos ainda são úteis, mas que, ao longo da nossa futura evolução, os que restarem vão se tornar obsoletos.
Tomara que esse texto tenha ajudado a aceitar melhor os seus pelos. Em algum momento não os teremos mais, bem como,os dentes e os cabelos. Mas, até que isso ocorra, essa nova aparência será moda e nos manteremos atraentes para os nossos parceiros, assim como ocorria na era das cavernas ou em qualquer outra época. Não se preocupe. (Foto: www.1ciltbakimi.com)
ELAINE FRANCESCONI
Bacharel em Zootecnia (UNESP Botucatu). Licenciatura em Biologia (Claretiano Campinas). Mestrado (USP Piracicaba) e doutorado (UNICAMP Campinas) em Fisiologia Humana. Professora Universitária e escritora.