Casas abarrotadas de lixo até o teto; ratos mortos por todos os cantos, fezes de animais nos colchões, urina em garrafas plásticas. Coisas assim são comuns só em seriados como Acumuladores Compulsivos, exibido no canal A&E, da TV fechada, correto? Errado! Em Jundiaí, a Prefeitura, através da Unidade de Gestão de Promoção da Saúde (UGPS), atende 77 casos. Trinta e nove acumuladores são mulheres. O restante, homens. Imagens das ações da UGPS em residências de acumuladores não foram liberadas para preservar os pacientes.

A situação de acumulação é caracterizada como acúmulo excessivo de objetos, resíduos ou animais, associado à dificuldade de organização e manutenção da higiene e salubridade do ambiente, com potencial risco à saúde individual e coletiva. De acordo com Marcelo Araujo dos Santos, psicólogo do Centro de Atendimento Psicossocial (CAPS II) de Jundiaí, por um ponto de vista simplificado e tendo em vista apenas o sintoma, “a acumulação compulsiva se refere àquele que retém ao limite do excesso seus objetos de apego. É possível considerar que tal “transbordamento”, quer seja de reciclados, restos, lembranças, animais, etc., refira-se a um modo próprio e subjetivo de lidar com seu conteúdo interno, angústias e demais determinantes do sujeito.”

Os desencadeadores dos comportamentos são difíceis de precisar e variam de caso a caso, sendo ancorados na história de cada pessoa. Em geral, os laços afetivos ficam comprometidos pela situação de acumulação; amigos, familiares e vizinhos tendem a se afastar contribuindo para o quadro de isolamento construído por aquele que acumula. Dificilmente a pessoa que acumula percebe seu comportamento como excessivo ou aceita que precisa de apoio ou algum tipo de acompanhamento profissional.

Em Jundiaí – Segundo a UGPS, não existe um único perfil para os acumuladores. Os casos de suspeita de acumulação podem chegar de diversas maneiras à Prefeitura. As mais comuns são através do telefone 156, denúncias feitas ao Ministério Público, Defensoria Pública, Unidade de Saúde, Assistência Social, Ouvidoria, Cobema, Vigilância em Saúde ou até por vizinhos e parentes.

A partir daí, a rede de atendimento do Poder Público Municipal é acionada e passam a trabalhar no caso: Unidade Básica de Saúde/Estratégia de Saúde da Família e o Centro de Referência e Assistência Social (CRAS) que também pedem apoio de outros órgãos dependendo da necessidade (CAPS, Fumas, Debea, Defesa Civil, Serviços Públicos – Geresol, Grupo de Acumulação Compulsiva e as equipes das Vigilâncias).

Quando identificado a acumulação compulsiva é elaborado um Projeto Terapêutico Singular e realizado um plano de cuidado. A princípio busca-se um conhecimento do indivíduo, é verificado os vínculos que o indivíduo possui e feitas novas tentativas de vinculação. Posteriormente é realizada avaliação de risco (pessoal, ambiental e coletivo), então é construída a estratégia de cuidado. Vale ressaltar que a retirada dos objetos ou quaisquer ações realizadas são construídas em conjunto com a pessoa, tudo que é realizado é negociado.

O programa Acumulador Compulsivo traz alguns aspectos de vivências de acumulação, sendo compartilhados em alguns pontos com perfis parecidos em Jundiaí. É importante ressaltar que a estratégia de intervenção utilizada é diferente em cada caso, afinal cada pessoa tem suas particularidades. Após as intervenções há continuidade de cuidado na rede de atenção, que envolve os serviços de saúde, CRAS e CREAS, Debea, entre outros. Na maioria dos casos a continuidade de acompanhamento é feito na própria UBS, e quando necessário outros serviços tais como o CAPS são acionados. A UGPS ressalta que parentes, amigos, vizinhos podem contribuir participando ativamente do processo de construção de cuidado, evitando julgamentos e assim promovendo saúde ao outro. (fotos: seriado Acumuladores Compulsivos).

VEJA TAMBÉM

CRUZAMENTO NO CAXAMBU GANHARÁ QUATRO SEMÁFOROS