Os irmãos Anderson, 23 anos, e Emerson Pereira Bento, 21, são de Jundiaí. Em 1997, por motivos que eles ainda desconhecem, foram tirados da família e adotados por um casal de holandeses. Vinte anos depois, os dois desejam reencontrar os pais – José Antônio Bento e Maria de Fátima Pereira -e uma irmã mais velha que foi criada pelos avós. E querem entender o que aconteceu. Eles contam com o apoio dos pais adotivos, Linda e Erik Heemskerk. A família mora em Rijnsburg, a 42 minutos da capital do país, Amsterdã.
VEJA VÍDEO DOS IRMÃOS JUNDIAIENSES QUE VIVEM NA HOLANDA:
Os dois fazem parte de uma história polêmica e que colocou Jundiaí em todos os jornais, televisões, rádios e revistas do país. O juiz que cuidava da Vara da Infância e Juventude na época, Luiz Beethoven Giffoni Ferreira, foi acusado de facilitar adoções para o exterior. O caso teve repercussão no Congresso Nacional. Enquanto isto, mães de crianças retiradas pela Justiça faziam protestos diariamente na praça do Fórum. Meses depois, Beethoven foi promovido a desembargador e passou a trabalhar em São Paulo. Nada foi provado contra ele. Beethoven processou vários veículos de comunicação e ganhou todas as ações.
Anderson e Emerson não sabem o motivo pelo qual acabaram na Holanda. O fato é que na época em que comandava a Vara da Infância de Jundiaí, Beethoven tirou muitas crianças de pais acusados de maus-tratos. Para saber detalhes da adoção, eles teriam de vir ao Fórum de Jundiaí e ler o processo. Porém, não têm dinheiro para isto. No Estado de São Paulo não é permitido mandar este tipo de informação por e-mail. Jovens pernambucanos que hoje vivem em outros países têm mais sorte. A Justiça daquele Estado permite o envio dos processos de adoção pela internet.
A adoção – Anderson trabalha como segurança. Emerson, nos Correios. O primeiro tinha três anos quando foi levado para a Holanda. O outro, apenas um ano. Erik Heemskerk, o pai, é advogado. Linda, mulher de Erik, parou de trabalhar quando os irmãos chegaram. Hoje é voluntária. Erik e Linda já estavam casados há 12 anos e não conseguiam ter filhos. A causa nunca foi diagnosticada. Até que decidiram apelar para a adoção. “Demos preferência pela América do Sul. A adoção dos irmãos foi proposta pela Organização de Adoção da Holanda e correspondeu ao nosso desejo: um ou dois filhos, não importando se eram negros ou brancos, meninos ou meninas”, conta o pai adotivo.
O processo de número 395/97 levou cinco anos para ser concluído. Teve início em 1993 e terminou formalmente em 1998 de acordo com a lei holandesa. Um ano antes já tinha sido oficializado pela Justiça brasileira. “Ficamos quase um mês em Jundiaí para resolver tudo. O juiz Beethoven teve de se convencer de que nós seríamos bons pais para as crianças. Por isso, o visitamos várias vezes no período em que estivemos no Brasil, relembrou Erik. O pai de Anderson e Emerson contou que pagou apenas as taxas determinadas pelo governo holandês. “No Brasil gastamos apenas com hotel, alimentação e viagem”, disse.
Ele e Linda afirmam que apoiam totalmente a busca dos filhos pela família biológica. “Para completar o enigma de suas vidas, nossos filhos precisam saber sobre suas raízes. Temos esperanças de que encontrarão pais, avós, tios e irmãos”, concluiu.
Ontem à tarde, o desembargador Luiz Beethoven Giffoni Ferreira disse que é normal que os jovens adotados por casais estrangeiros queiram conhecer suas origens. “Isto é comum e saudável. Tivemos muitos casos assim”, informou ele. Quem tiver informações sobre José Antônio Bento, Maria de Fátima Pereira – pais de Anderson e Emerson – ou da irmã mais velha deles (cujo nome não se lembram), pode fazer contato pelo e-mail: info@pdbeh.com ou pelo telefone 31 6 2783 3260(Holanda).
Ajuda – Os irmãos jundiaienses procuraram a ONG PDBeH – Pessoas Desaparecidas Brasil Holanda -para buscar a família. Liza Silva, uma iugoslava cigana casada com um brasileiro, passou a cuidar do caso deles e entrou em contato com o Jundiaí Agora – JA. “Não quis ler mãos. Tenho uma casa normal. Eu e meu marido também somos adotados. Aprendi o idioma português com meu marido e já estive em 13 estados brasileiros participando de encontros de jovens e suas famílias”, contou.
Um simples cartaz, com as fotos dos irmãos ainda crianças e já adultos enviados para veículos de comunicação foi o suficiente para resgatar uma história de mais de 20 anos e que ainda não teve um final feliz. “Não me considero um ‘anjo’. Mas me sinto abençoada em poder realizar os sonhos dessas pessoas em completarem suas histórias conhecendo suas raízes juntamente com as famílias biológicas”. A ONG PDBeH sobrevive de doações e conta somente com voluntários que nada recebem para fazer as pesquisas, traduções e contatos.
Um dos objetivos da ONG é ajudar a fazer o contato entre o jovem adotado e os pais biológicos, incluindo acompanhá-los na viagem até a cidade de origem. “Muitos dos garotos e garotas já não falam o português. Além disso, acompanhamos os jovens por causa da diferença cultural entre os países e também pela questão da segurança”, explicou Liza. A primeira busca da voluntária começou em 2008 e demorou oito anos. Ela encontrou a família do próprio marido. Liza também trabalhou em um programa chamado ‘Desaparecidos na Holanda’, ajudando brasileiros. O programa, infelizmente,não existe mais.
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A PDBeH – cuja equipe é formada por apenas 10 pessoas – existe desde 2013. Em quatro anos, mais de 250 brasileiros adotados por holandeses já reencontraram suas famílias biológicas. Contando com crianças adotadas em outros países, este número sobe para 3 mil.