ATALHOS e escolhas: O bom da vida é o livre arbítrio

ATALHOS

O bom da Vida é que ela própria nos oferece atalhos para que façamos nossas escolhas: não somos obrigados a ir por aqui ou por ali. Escolhemos ir. Assim como, em todos os momentos, não somos obrigados a acompanhar este ou aquele. Ou não temos de permitir ser acompanhado por alguém: nós escolhemos nossas companhias. Atalhos e escolhas existem para exercitarmos nosso livre arbítrio, nossa inteligência e nossa vontade, assim não poderemos reclamar, no futuro, da coisa que não deu certo, do temperamento estranho da parceria, dos momentos desagradáveis: foram frutos dos atalhos e das nossas próprias escolhas.

Esta leitura dos acontecimentos a que nos permitimos dá a certeza de que somos os construtores de nossa vida, somos nós que traçamos nossos caminhos e rotas e personagens e, em hipótese alguma, algo ou alguém se posiciona em nossos espaços sem nosso consentimento. É o não ao fatalismo ou determinismo: estes só existem numa politicalha suja e rasteira, que nos prega peças e age à força da conveniência e da troca de favores. Como fica claro estes comportamentos distorcidos em momentos pré-eleitorais de seja lá qual for o cargo, indo do zelador do prédio ao mais alto empresário. Atalhos e escolhas possibilita-nos amargar pela escolha errada, mas vibrar pela tomada de decisão impagável e correta.

Penso seriamente nisso quando revejo minha trajetória de atalhos e escolhas e percebo que comecei pela Educação Física e, pelas mãos de um grande mestre, professor de Sociologia, fui parar na Filosofia. Na Filosofia me apaixonei pela Psicanálise e isso mudou toda minha maneira de ver e entender o Mundo. Terminei mestrado, doutorado, livre docência para, daí, me render a Psicologia. Hoje entendo que sempre fui professor psicólogo ou psicólogo professor, tal minha interação profissional com as áreas e com aqueles que as circundam. A mesma dificuldade que tenho em ficar longe da sala de aula é aquela em que sinto fora de minha clínica. E me dedico integralmente àquilo que me sei fazer e faço com disposição e carinho.

Vejo até que me faltam horas do dia e dias da semana pra me aprimorar, para me atualizar, uma vez que conhecimento sempre é muito bem-vindo e a necessidade de uma repaginada será sempre necessária para que estejamos oferecendo um serviço de melhor qualidade e de mais alta atualização: sempre acreditei que aluno nenhum quer um professor descontextualizado e fora de seu tempo, como, também, cliente na clínica quer um terapeuta que entenda de seu tempo e de seu mundo (alguém sem foco e sem visão de contexto colabora muito pouco na caminhada daquele que busca orientação). Assim, e agora, on-line, estou me enfiando em leituras e congressos, quantos eu posso, para buscar o novo. Novos atalhos e novas escolhas, sempre.

Surpresas maiores sempre nos assustam. Fico pasmo ouvindo e lendo algumas propostas eleitorais; percebo que se houvesse mais divulgação, muitos candidatos a vereadores de nossa cidade poderiam ser indicados ao Prêmio Nobel da Paz, da Saúde, da Segurança tais as propostas e ousadia na abrangência delas. São atalhos que carecem de olhos lúcidos no momento da escolha, apesar de saber que isso não é histórico, em nossa cultura. Não há cobranças, nem lembranças, criando-se, então, o lema do “vale tudo”, possibilitando que insanidades sejam validadas como grandes propostas, no mínimo promessas que se esfacelarão no ar, a partir da eleição. Atalhos e escolhas que eles nunca se aperceberam e nunca se preocuparam, mas que agora têm até soluções para resolverem. Para os eleitores atentos (não são todos e não são poucos) também estão oferecidos muitos atalhos para uma só escolha. Que sejamos mais felizes, neste pleito.

Tive a curiosidade para me debruçar diante dos dados apontados pela Organização Mundial de Saúde Mental, no dia em que é comemorado “Dia da Saúde Mental”. A estatística comprova que temos 51% da população mundial entre aqueles que pontuam como comprometidos mentalmente, em estados emocionais frágeis até distúrbios mais severos que tiveram, em 2021, um agravamento pelo quadro imposto pela Covid-19. Somente não consegui informações se, no Brasil, haverá maiores e melhores propostas de intervenções, diante de tamanho número de necessitados de uma orientação ou acolhida psicológica. Talvez a política de ampliação destes cuidados esteja aguardando o pico da pandemia passar, para que as ações se tornem mais efetivas, porém, saber que 51% da população mundial apresenta comprometimento em sua saúde mental, é algo assustador e preocupante.

Assusta e preocupa tanto quanto saber que países do primeiro mundo estão voltando ao isolamento severo, diante da segunda fase do Covid. Por que assusta, se eles estão lá longe? Porque nós não vencemos nem a primeira fase e porque nossos hospitais estavam e continuam desaparelhados, e os hospitais de campanha foram desmontados pelos prefeitos que entendem que suas cidades estão bem. Neste momento, em relação a este assunto, é melhor nem pensar nos atalhos e tão pouco nas escolhas: esperemos. O tempo dirá.

É gratificante poder ver o crescimento profissional e a independência de seus liderados. Fico muito feliz quando encontro artigos ou projetos de ex-alunos, agora profissionais, que se ocupam de funções e cargos diferenciados e edificantes ou que produzem com muito destaque na grande área da saúde. Saber que você fez parte daquela história de formação é um presente ao professor, que cria espaços para os seus descendentes e sai do palco para oferecer seu espaço profissional e aplaudi- los. Tenho esta conduta como uma regra sempre seguida e sempre observada, em minha carreira profissional. Deixei a oportunidade de me candidatar a minha própria vaga, com a aposentadoria, por entender que era a vez deles, dos meus, ocupando meu espaço e minhas funções. Entretanto, são caminhos e atalhos, que a legislação possibilita outros olhares e vieses; basta responder aos seus ideais e eu prefiro vê-los brilhando; é o momento deles. Fico bem na ribalta.

E, do outro lado da mesa, as propostas inusitadas em momentos de crise: a discussão sobre temas de domínio, em palestras, Lives e artigos, quando os articuladores se expõem e se entregam, apresentando seus mais recentes estudos e pesquisas. Desvelando e descortinando locais nunca antes pensado, mas o preparo do articulador e sua experiência garantem uma expertise e notoriedade na fala. Assim tem sido. Sempre acabo me convencendo de que poderia ir mais adiante, mas calmamente vou chegando e vou me posicionando, da minha maneira e com meu vocabulário peculiar: não enfeito frases nem rebusco palavras. Sou. E sendo, fico bem. Meus pontos de vista não são consensuais, mesmo porque eu não fico muito no consenso: entendo que o consenso é burro e atende à media, o que me deixa muito maluco. É preciso sair da média, extrapolar, assumir dianteiras e romper limites, este deve ser o homem do futuro: um homem sempre a frente de seu tempo e destemido diante do desconhecido. Sou.

E os atalhos me trouxeram grandes escolhas: a pós-graduação na UNITAU, o curso da Sorbonne, a parceria australiana que não teriam acontecido se eu ficasse parado, olhando para minha idade e meus limites físicos, amedrontado com a Vida. Sou. Acredito que eu seja os atalhos e as escolhas, sempre mais desafiadoras, mais irreverentes, mais instigantes; porém, a delícia da Vida está em descobrir que o moinho de ventos não é um gigante e que Don Quixote se equivocou: é preciso lutar, sim, somente para ter a ideia do poder de ataque (ou contra-ataque), mas principalmente para mostrar para a Vida que é possível superar os medos internos.

Divirto-me com pouco ou com tudo, permito-me divagar e sonhar, pois é uma maneira de manter acessa a chama da criança interior que sou e tenho, permitindo que meu olhar infantil tenha uma relação de harmonia com meus compromissos e responsabilidades adultas do meu cotidiano. De modo algum deixo de valorizar minhas opções e meus desejos infantis, dando chances de escolha e de permissão para me entregar aos sonhos mais irreais e mais conscientes: minha criança vive e quer, dentro de limites da realidade. E eu me permito aceitar estas deliciosas propostas que favorecem meu desenvolvimento humano fluir com naturalidade e leveza. Um menino irrequieto, curioso, atrevido e aventureiro habita esse corpo de muitas décadas, mas numa convivência pacífica e leve com todos meus deveres de adulto. São atalhos íntimos e escolhas íntimas que somente a mim basta entender.

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Vou pelos meus atalhos, faço minhas escolhas e, hoje, quando você estiver lendo esta crônica, já estarei num outro percurso de minha Vida. Abraçado consciente e firmemente, com cautela e rigor, apaixonado e sabedor dos desafios: hoje, domingo, 18 de outubro, estou muito abençoado e ciente de que a Vida é linda, é paciente e eu ainda tenho muito o que aprender e fazer. Carmen e Vitória, eu vou, pelos meus atalhos, mas mais do que nunca eu sei e percebo que não vou sozinho. Feliz pela transformação e pela consciência de poder ser alguém para alguém. Grandes atalhos e prazerosas escolhas.(Foto: discover.infopeake.org)

AFONSO ANTÔNIO MACHADO 

É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology. Aluno da FATI.

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