Jundiaí tem uma vasta quantidade de documentos manuscritos muito bem conservados que datam de séculos anteriores ao nosso. Eles estão depositados no Centro de Memórias de Jundiaí e podem ser consultados por qualquer pessoa. Como um exemplo, temos as Atas da Câmara de Jundiaí de 1663 a 1669, conjunto de documentos escritos à mão, com 77 páginas, feito em papel de trapo, encadernado com pele de animal e versam sobre o cotidiano e as decisões tomadas na vila durante o século XVII.
Pela leitura do documento, o que podemos observar é que Jundiaí era uma vila muito bem organizada, pois mesmo não tendo um local próprio para a realização das reuniões, isto é, não havia uma câmara como conhecemos hoje, ainda assim os vereadores se encontravam na casa de alguém para discutir as medidas que deveriam ser tomadas.
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Além disso, podemos dizer que os vereadores e o escrivão da Câmara levavam muito a sério seu papel de zeladores da vila, pois mesmo quando não tinham nenhum assunto para decidir, eles se reuniam e produziam a ata do dia.
Dessa forma, das 60 atas completas que formam o primeiro caderno de Atas da Câmara de Jundiaí, em 33 não há nada a requerer pelos oficiais e em 27 delas, o requerimento gira em torno do valor de multas que devem ser aplicadas caso vendedores abusem no preço de itens como aguardente e azeite, da fixação de impostos que devem ser recolhidos para ajudar na manutenção da vila, como o conserto de pontes e estradas, a solicitação de que determinada pessoa vá até a vila para prestar algum tipo de depoimento e o registro de que um oficial que ocupa um cargo público jurou sob ‘Os Santos Evangelhos’ prestar um bom serviço.
No exemplo ao lado, a ata foi lavrada em cinco de agosto de 1666 e nela é registrado que os vereadores solicitam a arrecadação da doação solicitada pelo rei e que um comunicado será fixado em um local público para que toda a população da vila saiba que necessário fazer uma doação para que o pedido de sua majestade seja atendido.(foto ao lado: Flávio Morbach Portella)
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É muito interessante ler esse tipo de manuscrito pois ele conta como era o dia a dia de nossos conterrâneos há mais de 300 anos e nos mostra como a vila era organizada. A transcrição completa de todas as Atas da Câmara de Jundiaí de 1663 a 1666 pode ser vista em http://phpp.fflch.usp.br/corpus.
KATHLIN MORAIS
Jundiaiense, mestra em Filologia e Língua Portuguesa pela USP, técnica em conservação e restauro de documentos em papel pelo SENAI e professora de Francês e Inglês na Quero Entender – Aulas Particulares.
Ilustração principal: