Augusto Teixeira bebe na fonte dos grandes da MPB. E isto se traduz em músicas de um outro tempo, com melodias bem produzidas e letras profundas, coisa raríssima hoje em dia. O cantor e compositor é jundiaiense e no último final de semana se apresentou no Complexo Fepasa. Ele sabe que é pouco conhecido por aqui. Mas quem o escuta arrisca prever que Augusto Teixeira, em breve, será reconhecido como também um dos grandes. Nesta entrevista, o cantor e compositor fala da carreira, projetos e analisa o atual – paupérrimo – momento da Música Popular Brasileira. E dá um alento: embora as vitrines apresentem Anitta, Pablo Vittar & Cia como as cerejas do bolo, os talentos continuam produzindo a todo vapor. Uma hora, se Deus quiser, música de qualidade jorrará como numa enchente amazônia ou numa explosão atlântica…

Você é de Jundiaí. Onde morou? Onde estudou?

Sim, nasci em Jundiaí e morei no jardim Tamoio até meus 22 anos, em 2002. Tenho família em Jundiaí e muitos amigos e os encontro de vez em quando, principalmente em festas ou casamentos… Durante o período que morei na cidade, estudei no Sesi, Senai, no Ana Paes e no Colégio Técnico (ETEVAV). Só mais tarde que fui estudar filosofia em Marília, que também é uma cidade onde tenho familiares. Hoje moro em São Paulo.

Vem com frequência à cidade?

Vou para Jundiaí pelo menos uma vez por mês geralmente para a casa de minha mãe e pai, ou de um dos irmãos.

Como vê a cena cultural ultimamente? Já foi pior?

Acredito que a cultura é algo bastante abrangente e envolve além das artes todas, também o modo de vida das pessoas. A cena cultural nas artes, vejo como um reflexo ou um termômetro da sociedade. Estudamos as civilizações hoje, principalmente por suas artes: poesias, pinturas, esculturas, templos, música… E hoje vejo que há muita gente fazendo arte, e boa arte, mas a grande maioria está fora da grande cena. Porém há sempre pequenas cenas, pequenos públicos e que buscam aquele tipo de arte e isso é muito bom. O problema é quando tentam monopolizar um tipo de arte, e que muitas vezes nem é arte, para fins puramente comerciais, e como que invadindo espaços pequenos, saturando e diminuindo ainda mais as pequenas cenas. Mas isso também é reflexo da sociedade. Hoje é o que é comercial e as grandes marcas que dominam e vão sufocando os pequenos estabelecimentos e pequenos negócios. E isso, a meu ver, não é bom, pois, de certa forma tira a voz e a iniciativa das pessoas. Uma sociedade mais saudável, seria aquela em que as cidadãs e cidadãos tivessem voz, pudessem opinar, criar, construir, fazer sua arte de maneira mais livre, e com possibilidade de visibilidade e reconhecimento.

Você é conhecido e reconhecido por aqui?

Acredito que sou pouco conhecido em Jundiaí, mas vejo que para as pessoas que me conhecem há bastante reconhecimento do meu trabalho. Isso me traz satisfação e me estimula a continuar por esse caminho. Me importa muito mais qualidade dos encontros. A quantidade vem com o tempo.

Ouvindo suas músicas é possível identificar semelhanças com Chico Buarque, Paulinho da Viola. Você bebeu nestas fontes?

Sim, bebi e muito dessas fontes. Chico Buarque é um dos maiores mestres das letras de canção e também de melodias lindas, além de sempre estar conectado com seu tempo e não tem medo de incluir em suas letras suas posições. Já o Paulinho da Viola é uma elegância em pessoa. É aquele que uniu a tradição do samba dos fundos de quintais com as harmonias modernas e letras profundas, filosóficas até.

Outras influências?

Também ouço muito e sou influenciado por Milton Nascimento, Djavan, Elis Regina, Caetano Veloso, Ella Fitzgerald, Piazzolla, Bach, Guinga, Villa-Lobos, entre outros.

Como é nadar contra a corrente?

Talvez nem seja nadar contra a corrente, pois há muita gente que os ouve. Não tenho notícia de algum show do Chico ou Paulinho que não estivesse completamente lotado. Até quem não gosta do Chico, conhece “Roda Viva” ou “Apesar de você”. Já há um afluente do rio que está nesta direção. Mas a dificuldade está na novidade, nos novos artistas. Também ouvi histórias de quem conviveu próximo de que o Chico e também outros, tiveram muitas dificuldades de aceitação e até financeiras no início. Outros considerados grandes compositores, como Adoniran Barbosa e Cartola, passaram dificuldades em grande parte da vida e hoje quem não conhece “Trem das Onze” ou “As Rosas Não Falam”. Acho que para o artista o importante não é nadar contra a corrente mas gerar um novo afluente, nova possibilidade.

Vive exclusivamente da música?

Sim, trabalho com música há dez anos.

Como é fazer MPB da boa e ver o lixo cultural tomando conta da música, fazendo um sucesso danado, deixando milionários pessoas cujo talento é mostrar o corpo ou ‘cantar’ explorando o sexo?

Então, acho que é como uma grande marca, ou um produto bastante reconhecido. A sociedade inteira funciona assim. Com raras exceções, para um artista poder aparecer um pouco na internet, nas redes sociais, para além de seus amigos próximos, é preciso ter algum tipo de financiamento. Até no próprio Google, que deveria ser uma fonte de conhecimento, o que aparece primeiro na pesquisa não é o que é mais relevante, o mais verdadeiro, mas sempre o que tem maior financiamento, o que é mais patrocinado, o que é comercialmente vantajoso. Na música é a mesma coisa. Artistas associados às marcas, a produtos, a comércio, são muito rentáveis aos patrocinadores. Em contrapartida, artistas que nos faz pensar, perceber mais criticamente a realidade, a pensar possibilidades antes de agir, geralmente não interessa aos patrocinadores. E nas raras ocasiões em que esse tipo de música ou artista consegue cair no gosto do grande público, logo alguma marca tenta se apropriar de alguma forma.

O lixo cultural sempre existiu. Mas o público sabia diferenciar. Hoje a preferência é por músicas acompanhadas por vídeos cheios de bundas e letras que só estimulam as bebedeiras. O que aconteceu? A elite cultural deixou de produzir como deveria? Não há mais “inspiração”? O ouvinte emburreceu e prefere o que é mais fácil para digerir?

As músicas que mais aparecem geralmente estão associadas a bebidas, carros, carne, rodeio, ou a algum produto e de forma a não pensar para que se consuma mais. As pessoas se cansam de ver problemas no trabalho, nos jornais, na política e nos momentos livres e querem entretenimento. E a música como forma de entretenimento é a que impera, música para não pensar, e as grandes empresas veem nestes momentos a melhor hora pra anunciar seus produtos e marcas. Cada vez mais há estudos financiados sobre marketing, propaganda, e tudo se aplica à música, à filmes e propagandas… Por isso alguém que quer compor alguma canção, por exemplo, se não entra neste jogo, é muito difícil aparecer pra um público um pouco maior. Mas mesmo assim, conheço muitos compositores, musicistas ótimos, que estão fazendo sua arte, independentemente, acreditando no que fazem. E há um público, por pequeno que seja, que quer ouvir. Sobre as diferenças de qualidade musical, fiquei sabendo há pouco tempo que na década de 70 e 80, as grandes gravadoras diferenciavam artistas que vendiam muitos discos de outros artistas que eram considerados de alto nível mas que serviam para dar qualidade à gravadora. O Milton, por exemplo, não era considerado artista que vendia muito, mas de excelente qualidade. Parece que havia uma elite que se preocupava, pelo menos um pouco, em manter uma qualidade em suas produções artísticas. Hoje parece que quem dita as regras é a elite comercial e a cultural ficou só para nichos.

A produção de qualidade continua só que não há espaço?

Sim, vejo pelas pessoas que conheço que a produção continua a todo vapor mas há somente espaços pequenos para poucas pessoas para a apreciação. A saída, pra ser sincero, não sei. Talvez seja continuando fazer nossa música, nossa arte, da forma mais verdadeira possível. Acredito que há momentos em que as pessoas sentem sede de ouvir isso, ou algo diferente do grande cena, sentem sede de pensar por si, de ouvir algo que as fazem refletir sobre a própria vida. Talvez esteja aí uma saída.

Seu trabalho traz letras inteligentes, instigantes. Vivemos uma época em que o top da poesia é da MPB é E toda vez que você sai/ O mundo se distrai/ Quem ficar, ficou/ Quem foi vai vai. Por que a letra ficou relegada a segundo plano?

Ouvi esta canção aqui pelo Youtube e na descrição aparecem os nomes patrocinadores que tem tudo a ver com o clima da música, a letra. Até que esta canção tem uma sonoridade leve nas palavras e tem um tema até que inocente: está falando com o sol. Mas é puramente comercial. De qualquer modo, não acho que essa música não seja inteligente. Acho que quem faz música assim e quem patrocina usa muito da inteligência também, pensa na letra, no ritmos, na harmonia, pensa no clipe, pensa em tudo. Estudou muito, leu muita coisa, pesquisou, sabe muito sobre como atrair pessoas e conquistar seus objetivos, que aqui me parece ser seduzir através da música para associar à marca, e de alguma forma consumir os produtos. Acho que há outro tipo de música, que eu tento fazer, que é pensar sobre a vida, sobre a sociedade, da forma mais livre e verdadeira possível. E pra isso tento ler, pesquisar, ouvir, para atingir este objetivo. Não me importa muito se tocará pra muita gente ou não, ou se ganharei pouco ou muito por isso. Considero este meu trabalho e pretendo fazê-lo da melhor maneira possível.

Você fez vários cursos na área musical. Também fez filosofia. Esta área do conhecimento influencia muito seu trabalho?

A música e a filosofia me influenciam muito e estão sempre conectados para mim. E vejo influências de filosofia em várias músicas brasileiras. Por exemplo, nas músicas do Clube da Esquina vejo muita influência da filosofia existencialista do Sartre. E em minhas composições, procuro me aprofundar nos temas e dar intenções. Mas há vezes em que a música e a poesia são inexplicáveis e dizem muito mais que qualquer teoria.

Você já gravou com Zeca Baleiro e Ceumar(vídeo acima). Outros trabalhos em dupla com artistas consagrados virão por aí?

Ah, sim. Já estou preparando o próximo e já tecendo parcerias com alguns consagrados. Algumas canções já prontas.

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Quais seus planos? O que vem por aí?

Agora estou fazendo shows em diversas cidades do meu primeiro álbum, Estação Felicidade e tenho agendado até agosto. Tenho planos de a partir do mês que vem definir as canções e trabalhar os arranjos. Pretendo gravar e lançar ainda este ano.

Já pensou em levar a sua produção para o exterior?

Ah, sim, estou me programando e fazendo contatos para fazer uma pequena turnê em Portugal e Espanha em setembro. Em breve lanço novidades nas redes sociais.