Ué, canto do beija-flor? Sim, eles cantam! Mas vamos explicar direito do porquê não conseguimos ouvi-lo, começando por comentar um pouco dessa bela ave.

O beija-flor pertence à família Trochilidae, composta nada mais nada menos por 108 gêneros e 332 espécies conhecidas, sendo que no Brasil alguns deles ainda pertencem a outros gêneros. Portanto, há uma grande quantidade desses pequeninos voando nos 4 cantos do País, com cores, graça e rapidez!

Extremamente ágeis, devido aos seus ossinhos curtos e flexíveis conseguem movimentar as asas em todas as direções, inclusive para trás, nos proporcionando um balé incrível na sua aproximação das flores. São delas que retiram o néctar que forma quase 90% de sua alimentação, o restante sendo de minúsculas formigas e aranhas.

Mas seu voo é realmente espetacular: conseguem bater as asas até 70 vezes em 1 segundo, e como não conseguimos captar em nossa visão esses movimentos, nos parece que ele simplesmente “pára” no ar. Defronte a um brinco de princesa, ou um camarão vermelho, plantas que eles adoram, mantém o “pique no lugar”, pois chegam a se alimentar cerca de 15 vezes por hora!

A imagem da abertura mostra o besourinho de bico vermelho, ou Chlorostilbonaureoventris. Nossa, mas o que significa isso? O nome científico serve para identificar a espécie em qualquer parte do mundo, normalmente derivando do latim, eventualmente com raízes gregas, e saber seu significado muitas vezes facilita em muito a identificação da ave. Quer ver? Chlorostilbonvem do gregokhloros = verde + stilbon = reluzente, brilhanteeaureoventrisvem do latim aureus = dourado + ventris = ventre, barriga, abdômen: portanto, pássaro verde reluzente de barriga dourada!

É isso mesmo que constatamos olhando essa pequena avezinha, com seus cerca 8 centímetros de tamanho e quase cinco gramas, olhinhos brilhantes, espécie comum no interior do Estado de São Paulo.

 

Com tantas famílias e espécies, como fica o seu canto? A revista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), de abril deste ano de 2018 publicou notícia pra lá de reveladora: grupo liderado por pesquisador brasileiro Cláudio Vianna de Mello, trabalhando com o beija-flor preto (Florisuga fusca), comum nas áreas montanhosas da nossa Mata Atlântica, descobriu que seu canto agudo atinge frequências que superam em muito a voz mais aguda do ser humano, a soprano, feminina.

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De tão agudo se torna inaudível para nós e para outras espécies de aves, acredita? Em 97% dos casos consiste em três silabas bem curtas e os estudiosos ainda não sabem o motivo de terem desenvolvido essa habilidade, acreditando até mesmo que eles mantêm um canal do tipo privado, ou seja, se comunicam livremente, mas apenas entre eles. São aquelas maravilhas da natureza…

Mas ainda que não os possamos ouvir, por franca incapacidade nossa, achamos um jeito de incluir o beija-flor, colibri ou carinhosamente, cuitelinho, em nossas canções mais diletas, para os termos sempre ao nosso lado: assim é “Cuitelinho”, uma das expressões máximas de nossa música caipira e autêntica. Canção de domínio público, foi recolhida por Antonio Xandó, Milton Nascimento e Paulo Vanzolini, assim descrita por José Hamilton Ribeiro no valioso livro “Música Caipira” (2015):

Cheguei na beira do porto

Onde as ondas se espáia

As garças dá meia vorta

Senta na bêra da praia…

E o cuitelinho não gosta

Que o botão de rosa caia, ai, ai, ai.

Para quem quer sintonizar com esse belo canto, sugerimos aqui uma das mais expressivas interpretações dessa música, com a dupla talentosíssima Pena Branca e Xavantinho. Neste livro consta que Pena Branca explica: “Cuitelinho é beija-flor: o mesmo passarinho…só o nome é que muda”. Não nos basta?


ELIANA CORRÊA AGUIRRE DE MATTOS

Engenheira agrônoma e advogada, com mestrado e doutorado na área de análise ambiental e dinâmica territorial (IG – UNICAMP). Atuou na coordenação de curso superior de Gestão Ambiental, consultoria e certificação em Sistemas de Gestão da qualidade, ambiental e em normas de produção orgânica agrícola.

 


Para saber mais:

Wikiaves: https://bit.ly/2QtnKzL

Guia de Campo Aves da Grande São Paulo. Develey, Endrigo, Aves e Fotos Editora/SP, 2004.

Aves Brasileiras e plantas que os atraem. Frisch, Frisch, DalgasEcoltec/SP, 2005.

Revista Fapesp: https://bit.ly/2Evp66I

José Hamilton Ribeiro. Música Caipira. Edições Realejo, Santos/SP, 2015.