Vivências do bem e do MAL

As vivências do bem do mal são de possível escolha ao estarem explícitas, porém, inúmeras vezes, se encontram acobertadas por um véu de ilusão.

Li, há pouco tempo, um poema da escritora polaca Wislawa Szymborska (1923-2012), prêmio Nobel de Literatura em 1996, que tem como título “A curta vida de nossos antepassados”, dos quais destaco alguns versos:

Não eram muitos os que passavam dos trinta.
A velhice era privilégio das pedras e das árvores.
A infância durava tanto quanto a dos filhotes dos lobos.
Era preciso se apressar, dar conta da vida
antes que o sol se pusesse,
antes que a primeira neve caísse.

Meninas de treze anos gerando filhos (…)

Mais um passo, mais dois
ao longo de um rio brilhante,
que da treva emerge e na treva some.

Não havia nem um instante a perder,
perguntas a postergar e iluminações tardias
a não ser as que tivessem sido antes experimentadas.
A sabedoria não podia esperar os cabelos brancos.
Tinha que ver claro, antes que a claridade chegasse,
e ouvir toda voz, antes que ela se propagasse.

O bem e o mal –
dele sabiam pouco, porém tudo:
quando o mal triunfa, o bem se esconde;
quando o bem aparece, o mal fica de tocaia…

Penso que voltamos à “curta vida de nossos antepassados”. Há meninas que por maus-tratos em casa, por não serem cuidadas e pela falta de perspectiva em relação ao futuro, imaginam que a gravidez precoce pode lhes oferecer uma situação de vida diferente.

As crianças e adolescentes estão em risco. O abuso sexual se “consolida”, as drogas lícitas e ilícitas estão em oferta nas proximidades, a violência cresce e os apelos do consumismo seduzem. São trevas que se elevam.

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É preciso apressar a proteção eficaz das crianças e adolescentes. É preciso ensiná-las a se proteger.  É preciso despertar para a sabedoria. É preciso mostrar que “o mal fica de tocaia” e, na primeira vacilada, mastiga a vida e oferece a morte aos poucos.


MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE

Com formação em Letras, professora, escreve crônicas, há 40 anos, em diversos meios de comunicação de Jundiaí e, também, em Portugal. Atua junto a populações em situação de risco.