Há quatro anos, Pedro Bigardi chegava à Prefeitura de Jundiaí. O eleitorado queria mudanças e interrompeu os quase 30 anos de administrações seguidas do PSDB. Foi uma guinada histórica. O eleitorado optou por um ex-petista que havia radicalizado de vez. O engenheiro Bigardi era do PCdoB quando venceu Luiz Fernando Machado(LFM) nas eleições e depois migrou para o PSD, partido pelo qual disputou as eleições para o segundo mandato. Mesmo com a força da máquina administrativa, investimentos em publicidade e a certeza de que a população aprovava o governo, Pedro Bigardi levou um choque de realidade das urnas. No primeiro turno quase foi surpreendido por Ricardo Benassi, do PPS. No segundo, a derrota para LFM foi sacramentada e o então prefeito ficou atrás, inclusive, dos votos inválidos. Hoje Bigardi deixa a Prefeitura. Porém, já dá sinais de como irá se comportar: continuará na política, não fará oposição radical ao novo prefeito, poderá disputar uma cadeira na Assembleia Legislativa e não nega a possibilidade de se candidatar novamente à Prefeitura de Jundiaí. Ainda não pensa em voltar.
A verdade é que a derrota não estava nem nos piores pesadelos do ex-prefeito. Ele tinha tudo para ganhar, aliás, como ocorre com a maioria daqueles que disputam um segundo mandato. Comandava a prefeitura de uma das cidades mais ricas do Estado e, para facilitar ainda mais, iria enfrentar um partido cujo seu núcleo histórico debandara. O PSDB simplesmente rachou já que a família Benassi não aceitava a candidatura de LFM. Na visão de Bigardi, o desempenho nas urnas deveria ter sido melhor já que sua gestão “foi realizadora e bem avaliada”. Para ele, o momento histórico do País foi quem fez ruir a sua candidatura. “Havia uma conjuntura que influenciou nas urnas. Houve rejeição política num cenário nacional e quem estava no poder sentiu mais o reflexo disso. A situação econômica do país fez a administração municipal falhar”, diz. Como outra causa da derrota, ele também aponta a ineficiência da campanha, principalmente no primeiro turno. “Houve pouca mobilização, pouca presença nas ruas”, completa.
Outros dois fatores demonstraram a fragilidade da candidatura de Bigardi. No primeiro turno, Ricardo Benassi, surpreendeu e conseguiu 43.861 votos, apenas 10 mil a menos que o prefeito. Luiz Fernando Machado recebe pouco menos do que o prefeito e Benassi juntos. Pedro Bigardi foi para o segundo turno com a difícil missão de tirar votos dos eleitores do candidato do PSDB, conquistar quem votou em Benassi e ganhar a simpatia de quem estava ignorando as eleições. Não conseguiu. Pior: ficou em terceiro lugar na disputa, atrás dos votos brancos, nulos e abstenções.
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Bigardi afirma que ainda não decidiu o que irá fazer a partir de hoje. Adianta que continuará na política e que não sairá de Jundiaí. Então, acompanhará de perto as ações de LFM. “Mas não farei oposição radical. Nunca fiz isto. Quero contribuir com a minha cidade sempre”, assegura. Ser deputado estadual é uma hipótese que consta da agenda do ex-prefeito. Quanto a candidatar-se novamente à Prefeitura, Bigardi não afirma nem nega. “É muito cedo para pensar nisto”, afirma.
PT, Lava Jato e denúncias – Para muitos eleitores, as mudanças de siglas partidárias de Pedro Bigardi tinham como objetivo descolar sua imagem do PT, partido afundado numa crise ética sem fim. Ele seria uma espécie de ‘petista disfarçado’. “Por mais que meu adversário tenha tentado colar essa imagem, não acredito que este argumento tenha influenciado no resultado das eleições. Saí do Partido dos Trabalhadores há 15 anos e o partido tinha candidatura própria em Jundiaí”, comenta.
O BRT, sistema de transportes que se transformou numa espécie de ‘meninas dos olhos’ da administração Bigardi também sofreu um forte baque quando a Vara da Fazenda suspendeu a contratação de uma empresa através de licitação. A Justiça alega que audiências públicas e debates deveriam ter sido realizados. A divulgação da decisão ocorreu após as eleições. Mesmo assim, o legado do ex-prefeito sofreu um arranhão.
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“Houve apenas um questionamento da Justiça que não atrapalha a continuidade da obra já em fase de licitação e aprovada pelo Ministério das Cidades e Caixa Econômica Federal”, diz. O Ministério Público também investiga possíveis irregularidades sobre transferência e aplicação de recursos do programa Desenvolvimento Gerencial de Unidades Básicas de Saúde. Segundo Bigardi, as respostas estão sendo encaminhadas ao MP. “A Secretaria de Saúde tem segurança de que não houve nenhuma irregularidade já que o projeto não existe mais e sequer teve recursos financeiros destinados a ele”.
O excesso de cargos comissionados também rendeu problemas para Bigardi. Até 2015, ele teria criado 423 cargos sendo que 306 deles só poderiam ser ocupados por servidores concursados. Os salários variavam entre R$ 1.600 e R$ 2.800. Em fevereiro de 2016, o Ministério Público pediu a exoneração destes 306 cargos. “Excluímos 105 cargos logo que assumimos e temos menos de 150 cargos em relação ao governo anterior”, diz Bigardi.