Gal Costa cantou esses versos pela primeira vez no ano de 1990. Uma linda homenagem aos cabelos: “cabelo, cabeleira, cabeluda, descabelada”. Não importa como é o seu cabelo. Ele é seu e só você pode falar mal dele.

Decidi deixar o cabelo crescer. Uma decisão que poucas mulheres na minha idade fazem, mas sabe por quê? Porque a minha cabeleireira, Andrea Amorim, promoveu um evento especial em seu local de trabalho, em outubro de 2017, alavancado por uma singela promoção: corte no mínimo 10 centímetros de cabelo, doe ao Grendacc e ganhe 50% de desconto, e isso me fez aderir. Infelizmente não tinha 10 centímetros de cabelo para cortar na época, mas esse ano terei.

Classifiquei a ação como extraordinária e não titubiei ante a possibilidade de colaborar.

Os cabelos refletem a personalidade, o estado de espírito, doenças, saúde, mas, principalmente, é um fator de vaidade muito importante. A falta deles pode abrir caminho para depressão e diminuir, substancialmente, a qualidade de vida.

Parece exagero? Não é.

Quando decidi deixar meu cabelo crescer fui motivada por um tantinho de egoísmo. Pensei em como ficaria chateada se tivesse algum problema que levasse à alopecia. Nome esquisito, mas é o que define a falta das madeixas.

Há 20 anos, quem mais reclamava de queda de cabelos eram os homens. Hoje, pesquisas mostram que mulheres na faixa etária entre 35 a 40 anos também apresentam o problema e, pior, uma a cada cinco mulheres podem padecer de calvície.

Por que nós também estamos perdendo os cabelos?

Não é muito difícil de responder. Pense um pouco e chegará sozinha à resposta. Nossos hábitos mudaram muito: usamos hormônios para evitar gravidez; iniciamos a vida sexual precocemente; mulheres são mais suscetíveis ao estresse; são tabagistas; consomem grande variedade de medicamentos; alisam as madeixas ininterruptamente com produtos nocivos à saúde dos cabelos; sofrem com a menopausa, envelhecimento, desnutrição, pós-parto, quimioterapia, além de fazer dietas como malucas.

Tudo isso afeta a saúde dos fios.

Cabelos e pelos têm, basicamente, a mesma estrutura. A unidade anatômica é formada por uma glândula sebácea associada ao fio, essa estrutura é chamada de folículo piloso, que se localiza na derme e se desenvolve a partir da nona semana de gestação.

É na raiz germinativa, no bulbo, que se encontram os fibroblastos, que controlam o número de células na matriz, portanto, regulam o tamanho do pelo, já que na fase de crescimento as células se multiplicam empurrando as mais velhas para cima.

O desenvolvimento dos fios obedece um padrão cíclico, ou seja, há fases de crescimento e fases de repouso (quando o cabelo está pronto para cair). Normalmente, cabelos femininos crescem mais que masculinos, numa média de 35mm por dia.

O corpo humano possui, aproximadamente,5 milhões de pelos, destes, 100 a 150 mil são fios de cabelo.Considera-se uma perda normal, a queda de 50 a 100 deles ao dia.Os cabelos são renovados ciclicamentede 4 a 7 anos.

Falando em números, parece muito, não é mesmo? E é! Principalmente, para quem tem cabelos escuros como eu e piso claro na casa toda. É como se um caminhão carregado de cabelosos jogasse lá em casa, todos os dias.

Quando percebo a quantidade de cabelos pelo chão, fico apavorada com a possibilidade de ficar careca.

E cabelos brancos? Eles são um pesadelo! Até o nome parece saído de um filme de terror: Canície. Eles são mais indisciplinados, parecem crescer mais rápido que os escuros e não caem! Tudo isso seria mito? Ainda não dá para dizer.

 

 

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Um estudo coordenado por pesquisadores da University College London avaliou 6357 habitantes da América Latina (Brasil, Colômbia, Chile, Peru e México) devido à imensa variabilidade genética presente nesses países.  A parte brasileira do trabalho foi feita pelo grupo dos professores Francisco Salzano e Maria-Cátira Bortolini, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Foram identificadas 18 associações entre genes e traços físicos dos participantes do estudo, sendo 10 dessas associações inéditas. Exemplo: Há genes relacionados à perda da cor (cromossomo 6)  e formato da sobrancelha (cromossomo 2).

As células-tronco do folículo capilar, localizados no bulbo capilar, se transformam em melanócitos, que “pintam” os queratinócitos com a cor do cabelo da pessoa.

Pesquisadores procurando por genes/células que pudessem auxiliar na cura do câncer de pele, talvez tenham encontrado a resposta no processo de envelhecimento capilar.

Experimentos em camundongos, de três cientistas do Instituto do Câncer Dana-Farber, da Universidade Harvard e do Hospital Infantil de Boston, EUA, liderados por David Fisher, sugerem uma nova explicação patofisiológica para o cabelo grisalho (pesquisa publicada na revista “Science”).

O gene Bcl2 é fundamental para proteger as células-tronco no momento em que o folículo capilar está em estado de dormência, sem crescimento de cabelo (algo que ocorre em cerca de 10% a 15% dos fios em qualquer momento). Então a equipe estudou camundongos que não tinham o gene protetor Bcl2.

O efeito foi dramático: os camundongos, mal nasceram, logo ficaram grisalhos, por terem perdido as células-tronco que dariam origem aos melanócitos, sugerindo que problemas com esse gene podem estar associados ao caso de pessoas que ficam com os cabelos brancos prematuramente.

Outro fator que influencia na ocorrência de cabelos embranquecidos é o estresse oxidativo, o qual surge devido ao acúmulo de radicais livres no organismo. Nesse caso, ocorre o acúmulo de espécies reativas, como o peróxido de hidrogênio, conhecido popularmente como água oxigenada. Com isso, a enzima responsável por degradar esse composto, a catalase, não consegue trabalhar de maneira eficiente – já que há muito substrato para pouca enzima. O peróxido não degradado, então, determina o clareamento capilar, o que também gera os cabelos brancos.

E como acabar com os radicais livres? Basta parar de respirar. Mas tal como acontece na política (não dá para acabar com eles) também para a Biologia isso tem sido impossível, por uma razão muito simples: a principal fonte dos radicais é o oxigênio, um gás indispensável para a maioria dos seres vivos.

Desde tempos imemoriais os cabelos são um dos instrumentos de sedução feminina. Já, no caso dos homens, demonstra masculinidade, força. Alguns estudos mostram que as pessoas percebem as mulheres com poucos cabelos, menos atrativas e mais velhas do que realmente são.

Alopecia tem incidência maior no couro cabeludo, mas, pode ocorrer em qualquer parte pilosa do corpo. Há duas formas clínicas: circunscrita (ou difusa) e total, esta com ocorrência mais rara.

Ocorre como consequência de alterações no folículo piloso. Se as modificações da matriz capilar forem transitórias, não destrutivas, os pelos e cabelos voltarão a crescer, porém, se provocarem a destruição da matriz, a ausência de pelos pode tornar-se permanente.

Por mais avançados e diferenciados que sejam os estudos nessa área, ainda pouco se pode fazer para reverter o processo. Existem várias causas e diferentes apresentações clínicas e o tratamento baseia-se na tentativa de repovoar uma extensão maior de couro cabeludo ou retardar o processo. Ou ambas.

Dentre as mais comuns, está a alopecia androgenética. Ela acomete mais homens e tem forte correspondente hereditário que modifica a maneira como os folículos respondem à presença dos hormônios andrógenos circulantes. Aqueles indivíduos com forte correspondência genética podem apresentarcalvície ainda jovens.

A alopecia areata, é uma afecção crônica dos folículos pilosos e das unhas, com forte componente autoimune (mediada por linfócitos T) e genético. Ela determina a queda de unhas e cabelos pela interrupção de sua síntese, sem que ocorra atrofia ou destruição da matriz, fato que a torna reversível. Pode afetar zonas restritas do couro cabeludo ou rarear os cabelos uniformemente. É uma doença comum e atinge 2/3 de adultos jovens (antes dos 20 anos).


O CANAL DA LARI ESTÁ NO TOP DIGITAIS DO JUNDIAÍ AGORA

A Larissa é de Jundiaí e sofre de alopecia areata. Os cabelos caíram. Mas a vontade de se superar, não. A garotinha criou um canal no Youtube que hoje já tem 2 milhões de acessos. Foi matéria no Fantástico. Larissa é uma fofa. Cabelo, para ela, é um mero detalhe…

 


Existe, também, a alopecia provocada por maus tratos aos cabelos, conhecida como traumática. É causada por maneira agressiva de pentear os fios, fazer penteados apertados ou escovar com muita energia. Rabo de cavalo e tranças apertadas também prejudicam o bulbo, além de torcer ou puxar em demasia, como nos casos de entrelaçamento de fios para alongá-los. Este último caso observado na modelo Naomi Campbell, portadora de alopecia na lateral da cabeça por excesso de uso de alongamento de cabelos.

Alguns tratamentos (carboxiterapia, minoxidil, finasterida, implante capilar, células tronco, fitoterapia, plasma rico em plaquetas, aromaterapia, alta frequência, desincruste, massagem, shiatsu) são indicados para todas as situações, mas, com resultados largamente variáveis.

Como foi possível verificar, há tratamento, embora deva ser muito bem estudado por um especialista na área. Portanto, não arranque os cabelos de preocupação. Vou tentar fazer o mesmo


ELAINE FRANCESCONI

Bacharel em Zootecnia (UNESP Botucatu). Licenciatura em Biologia (Claretiano Campinas). Mestrado (USP Piracicaba) e doutorado (UNICAMP Campinas) em Fisiologia Humana. Professora Universitária e escritora.