A Faculdade de Medicina de Jundiaí(FMJ) realizará o estudo “Da Descoberta à Validação de Alvos Prognósticos para o Câncer de Boca em Biópsias Líquidas”. A Fapesp(Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), encerrou recentemente prazo para uma bolsa de treinamento. O objetivo do projeto é aprimorar as formas de tratamento e, desta forma, melhorar a qualidade de vida dos pacientes. De acordo com o médico André Afonso Mimtz Rodrigues, cirurgião de cabeça e pescoço, colaborador do grupo de estudo da FMJ, existe, em média, um novo diagnóstico nos mais diversos estágios(precoce ou avançados) na região de Jundiaí a cada 20 dias. Porém, com a pandemia de Covid-19, este número vem caindo devido ao baixo número de consultas ambulatoriais. A pesquisa será coordenada pela professora dra. Nilva K. Cervigne Furlan(fotos), pesquisadora do Departamento de Clínica Médica e coordenadora do Laboratório de Biologia Molecular e Cultura Celular da faculdade de Jundiaí. Ela explicou detalhes do estudo ao Jundiaí Agora:

A Fapesp encerrou prazo de inscrição para interessados numa bolsa para esta pesquisa. Todas as atividades ocorrerão na FMJ?

Sim, as atividades previstas para esta modalidade de bolsa fomentada para a Fapesp serão desenvolvidas na Faculdade de Medicina de Jundiaí, no Laboratório de Biologia Molecular. No entanto, este é um projeto colaborativo de âmbito multidisciplinar desenvolvidas com instituições parceiras, como o LNBio, Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP-Unicamp), ICESP (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo), disciplina de Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Faculdade de Medicina de Jundiaí entre outros.

Porque a Fapesp escolheu a FMJ? 

Os processos de fomentos de bolsas e projetos regulares da Fapesp são despachados mediante avaliação dos projetos de pesquisa que submetemos na plataforma Sage da Fapesp. Os projetos são avaliados seguindo normas da agência de fomento durante o processo de revisão por pares. A Fapesp geralmente financia as atividades de pesquisa de projetos que são inovadores, que tragam achados relevante para a comunidade científica dentro daquela área de atuação. O histórico curricular do professor responsável e equipe também são importantes, devendo ser substancialmente produtivo na área em que o projeto será desenvolvido e finalmente, a anuência e suporte da instituição onde a pesquisa será realizada à realização da mesma. A FMJ é uma escola tradicionalmente apoiada no Ensino Médico e nos últimos anos tem prestado investimentos gradativos em pesquisa científica, atitude essa muito importante, uma vez que os acessos aos fomentos necessitam do constante apoio e estrutura da instituição em pesquisa, o que reflete no aumento de produção científica da instituição e pesquisadores, podendo surgir novos futuros e fortes candidatos, ao recebimento desses tipos de fomentos à pesquisa de acordo com os revisores da Fapesp. Como exemplo, a Fapesp escolheu um projeto coordenado pelo grupo da Dra. Adriana Paes-Leme, do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEN/LNBio), onde Campinas e a FMJ, colaboradores desse estudo, foram contempladas com o fomento financeiro. Dessa parceria com o grupo da Dra. Adriana surgiram diversos projetos envolvendo a busca por marcadores prognósticos em biópsias líquida para o câncer de boca. Recentemente, o artigo “Combining discovery and targeted proteomics reveals a prognostic signature in oral câncer” que foi publicado e premiado no 4° Prêmio de Inovação do Grupo Fleury (PIF) em revista de alto impacto científico (Nature Communications), em setembro de 2019 e em novembro do mesmo ano, também contou com a contribuição do nosso grupo de estudos do câncer de boca na FMJ. Esse estudo revelou uma assinatura de prognóstico para câncer de boca, por meio de exames clínicos e de imagens, com grande potencial de orientar os profissionais da saúde. Estudos como este são de extrema relevância já que teremos informações técnicas e científicas valiosas, que ajudam a complementar o conhecimento sobre as questões relacionadas à prevenção e controle das neoplasias malignas.

Há um perfil dos pacientes? Mais homens? Mais mulheres? Faixa etária? Fumantes?

No Brasil, a incidência de câncer bucal é considerada uma das mais altas do mund. Somos o terceiro país com o maior número de ocorrências desse câncer, com cerca de 15 mil casos por ano, de acordo com os dados divulgados pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA), em 2019. Existe um “perfil epidemiológico” dos pacientes com câncer oral. No geral, o tipo histopatológico mais frequente é o carcinoma espino-celular (CEC), com aproximadamente 90% dos casos, e está diretamente relacionado ao tabagismo e etilismo. Acomete principalmente homens a partir dos 50 anos(apesar de aparecer também em pacientes bem mais jovens). As localizações mais comuns para o aparecimento deste câncer são língua, lábios, assoalho bucal e palato duro. Geralmente, os cânceres localizados na língua são mais agressivos e têm um pior prognóstico em relação as outras localizações da boca. Os especialistas ressaltam que o desenvolvimento do câncer de boca está relacionado diretamente ao estilo de vida do paciente.  Os fatores que reconhecidamente aumentam o risco para o desenvolvimento do câncer de boca são: tabagismo (os fumantes apresentam um risco de cerca de 20 vezes maior de desenvolver este câncer, quando comparados aos indivíduos que nunca fumaram), o alcoolismo (o álcool atua como importante coadjuvante na gênese de vários cânceres), dieta (dieta pobre em vitaminas e sais minerais), fatores hereditários (presença de câncer de boca na família) e imunossupressão.

O que são biópsias líquidas?

São a ferramenta principal pela qual norteamos o projeto para a busca de marcadores prognóstico do câncer de boca, elas consistem em coletar amostras de fluidos corporais para a detecção de biomarcadores de câncer, que podem ser utilizados para o diagnóstico inicial, determinação do prognóstico, elucidação da predisposição ao câncer e/ou previsão de resposta à terapia. O campo da biópsia líquida emergiu como uma revolução em múltiplas áreas da oncologia e no desenvolvimento da medicina de precisão de tumores. A biópsia líquida é uma ferramenta de diagnóstico não invasiva, baseada em uma amostra de plasma ou soro, ou saliva, urina, liquido cefalorraquidiano e até amostras de fezes, para podermos detectar em laboratório células tumorais circulantes (CTCs), DNA tumoral circulante (ctDNA), RNA tumoral circulante (ctRNA), proteínas, exossomas, entre outros. Assim, podemos dizer que a realização do diagnóstico e controle da doença através das biópsias líquidas tem se revelado vantajosa na prática futura da oncologia. Os diversos estudos, incluindo o nosso, acerca das biópsias teciduais e líquidas no câncer oral, sem dúvida, se complementam. A biópsia líquida representa uma ferramenta inovadora para detectar precocemente e monitorar a evolução desse câncer, bem como a resposta terapêutica, e assim tem a capacidade de fornecer informações que não poderiam ser obtidas com uma biópsia tecidual. O uso da saliva, por exemplo, como meio para avaliação tem suas vantagens exclusivas como facilidade de manuseio, execução, adesão dos pacientes. É uma ferramenta custo-efetiva bastante interessante para o diagnóstico, triagem e avaliação do tratamento do câncer oral,no entanto, os resultados de diversos estudos ainda estão incompletos e mais estudos precisam e estão sendo realizados para consolidar respostas mais precisas, para de fato, chegarmos em marcadores robustos para a medicina de precisão no câncer oral.

Quais são os sintomas do câncer de boca?

Lesões que permaneçam por mais de 15 dias, manchas brancas ou vermelhas, nódulos, “caroços” na região, dor, dificuldade para mastigar ou engolir, que não desaparecem. Caroço ou inchaço na bochecha, dificuldade de mover a mandíbula ou a língua, dormência na língua ou outra área da boca, Inchaço da mandíbula causando desconforto com a dentadura, enfraquecimento dos dentes ou dor ao redor dos dentes, nódulo ou massa no pescoço (“ínguas”) e perda de peso, também estão entre os diversos sinais e sintomas que podem estar associados ao câncer oral. É muito importante mencionar que muitos desses sinais e sintomas também podem ser causados por lesões benignas ou mesmo por outros tipos de câncer e por isso, é importante sempre consultar um dentista ou médico se alguma dessas condições durar mais do que uns 15 dias, para que a causa possa ser avaliada corretamente, e se necessário, iniciado o tratamento adequado.

Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico se dá com um exame físico cuidadoso da boca e uma biópsia para confirmação diagnóstica. Infelizmente e em muitos casos, o diagnóstico é tardio devido à demora em procurar ajuda médica ou odontológica, o que acaba sendo grande desafio em todos os cenários de tratamento, público e privado.

Como é a prevenção e tratamento?

Conservação dentária, boa higiene bucal e autoexame são fundamentais para evitar que a doença seja apenas detectada em estados mais avançados. O tratamento do câncer de bucal é cirúrgico, mas pode ser radioterápico, dependendo da extensão tumoral e condição clínica do paciente a ser avaliada pelo cirurgião. Quando a doença é diagnosticada ainda no início, as chances de sucesso podem chegar a 90%, quando o paciente realiza um tratamento adequado.

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