A gerente financeiro Ana Paula Silva de Almeida Stancati, 43 anos, ficou cansada de tanta corrupção e violência no Brasil. Pediu transferência para a Austrália e está lá há pouco mais de 10 anos. Ana Paula trabalha no lugar dos sonhos de muita gente, o Google. Mesmo assim, não esconde a saudade que sente das coisas da Terra da Uva. Mas não pensa em voltar…

Por que foi morar na Austrália?

Trabalhava em uma empresa em São Paulo e pedi transferência para cá. Estava cansada de tanta corrupção na politica e da violência de São Paulo.

Há políticos corruptos por aí?

Lembro de um ou dois casos ocorridos há poucos anos. A mídia mostrou as investigações sobre um ministro fazendo uso indevido de dinheiro público usando cartão de créditos corporativo para pagar os serviços de scortgirl (garota de programa ou acompanhante). Teve outro caso de favorecimento de contratos para empresas que doaram altos valores para a campanha de um certo político. Em ambos, os acusados cederam às pressões da opinião pública e também de outros políticos e renunciaram aos seus cargos. Não houve prisões. Foram processados e um deles condenado a devolver o dinheiro que pagou para a scortgirl. Nunca vi político ser preso aqui…
E a violência…
Há roubos. Mas numa escala muito menor. Vez ou outra se vê alguma notícia de assassinato mas mais por motivo de ciúmes, vingança. Nada necessariamente associado ao crime organizado.
Um dia o Brasil chegará ao nível da Austrália na sua opinião?
Não sei se isto seria possível. Existe uma série de determinantes, incluindo fatores culturais, sociais e educacionais. O Brasil tem potencial econômico e recursos naturais e humano para ser “gigante” e não deixar nada a dever para grandes potencias. Mas, infelizmente enquanto seus governantes focam em seus próprios interesses isso não sera possível.

A senhora trabalha aí?

Sim, em período integral, no Google.

É casada, tem filhos?

Sou casada com brasileiro. Tenho dois filhos nascidos na Austrália. Eles têm dupla cidadania(Austrália e Brasil): Chloe, de três anos, e Matthew, um ano mais novo

A senhora nasceu em Jundiaí?

Sou natural de São Paulo. Morei em Jundiaí dos quatro aos 19 anos de idade.

Onde morou em Jundiaí?

No Jardim Brasil…

E onde estudou?

Estudei no Colégio Divino Salvador e no Colégio Leonardo da Vinci. Fiz faculdade no Mackenzie com pós-graduação no Mackenzie e GV.

Vem com frequência à cidade?

Infelizmente não. Moro do outro lado do mundo. A última vez em que estive no Brasil foi em julho deste anos. Antes, fevereiro de 2012.

Quando vem, percebe grandes diferenças? Para melhor ou pior?

Notei bastante diferença desta ultima vez em que estive no Brasil. Referente a Jundiaí, a cidade cresceu bastante, se desenvolveu…

O que mais sente falta de Jundiaí?

Dos velhos tempos; dos amigos da escola, de encontrar com todo mundo no Paineiras no final da tarde; das domingueiras no Clube Jundiaiense; das festas nas casas dos amigos.

Teve dificuldades para se adaptar?

Sim, um pouco. No primeiro ano criticava muita coisa. A comida e alguns aspectos culturais. Depois refleti e vi que se meu propósito era ficar aqui para sempre teria que me adaptar. Umas das coisa que percebi foi que no Brasil criticamos muito qualquer coisa. Acho que nossa cultura nos fez muito críticos. A critica, se é construtiva, é positiva. Infelizmente (e me incluo nisso) muitas vezes criticamos por criticar. Por aqui você percebe que se faz críticas sobre qualquer coisa. Só que se não for construtivamente as pessoas não abrem a boca, não julgam. Que me perdoem quem não crítica à toa. Sei que estou generalizando minhas observações. Acho que a qualidade de vida aqui é melhor porque as pessoas tem mais oportunidade de curtir a vida, a cada dia, nos mínimos detalhes. Um exemplo: aqui as pessoas curtem o trajeto da casa para o trabalho. No Brasil, infelizmente, é sempre tudo tão corrido, com o trânsito horrível, ônibus atrasado…

Quais as principais semelhanças e diferenças entre o Brasil e a Austrália?

As semelhanças: clima é bem parecido. Sydney é bem cosmopolita. Não há um dia sequer em que eu não ouça, no caminho do trabalho, pelo menos quatro idiomas diferentes. No Brasil há uma mistura de nacionalidades grande. Esta mistura ocorreu mais no passado do que nas gerações atuais. As diferenças: gente boa e gente ruim existe tem em todo lugar. Não dá para dizer aqui é melhor do que ai porque o povo é isto ou aquilo. No Brasil tem muita gente boa também. As diferenças estão nas oportunidades oferecidas em cada país. Aqui a educação é prioridade do governo, independentemente de partido. No Brasil não dá para dizer o mesmo…

Foi bem recebida ou sofreu algum preconceito?

A cultura aqui é diferente; então no começo a gente acha que eh preconceito o fato de as pessoas não serem tão abertas como no Brasil, de não se convidarem para ir às suas casas por exemplo. Para isto é preciso que se conheçam realmente muito bem e já há algum tempo! Depois se percebe que é a cultura deles, que as pessoas aqui são abertas sim,  só são mais formais com planejar, convidar…

Como os australianos veem o Brasil e os brasileiros?

Pergunta difícil(risos). Há estudantes que vem para cá estudar, trabalham duro enquanto estão aqui para pagar os estudos e aproveitar um pouco a vida; há outros que vem para badernar (isso não é só os brasileiros que fazem). Há também brasileiros que são cidadãos australianos como eu e estão aqui com suas famílias, trabalham e contribuem com a comunidade. No geral acho que os australianos nos veem como um povo feliz, hospitaleiro e dizem que somos um povo bonito!

Os meios de comunicação daí falam muito da gente? Bem ou mal?

Raramente os meios de comunicação daqui falam do Brasil. E quando falam é para noticiar alguma tragedia do tipo deslizamento de terra em Angra, como o que aconteceu anos atrás e soterrou uma pousada. Ou então falam de política, como ocorreu no impeachment da Dilma). Mas os meios de comunicação, no que se refere ao Brasil, são bastante imparciais. Eles se baseiam em fatos e não são tendenciosos.

Procura saber o que está ocorrendo em Jundiaí também? Se sim, como?

 Ainda tenho família em Jundiaí. Então, quando  falo com eles, sempre fico informada sobre as coisas novas que estão ocorrendo por aí….

A senhora votará nas próximas eleições? 

Não. Poderia votar aqui no consulado mas estarei viajando a trabalho.

– Como está vendo, de longe, a situação política-econômica do Brasil?

Muito triste. É um país tão grande, tão bonito, com tantas riquezas mas com um povo tão sofrido. O povo brasileiro merece ser feliz.

Pensa em voltar?

Não…

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