E o clima bélico continua no ar, sem avanços e sem baixas. Professores, alunos e gestores versus governo. Aqui e ali, uma massa falida aparece para fazer barulho desnecessário, com camisetas e bandeiras vermelhas e gritos de ordens sem sentido, porque as passeatas de quarta-feira(15) foram pelo ensino público moralizado e eles gritavam “Lula Livre”. Totalmente fora do enquadramento, perturbando a ordem precária das coisas e numa manifestação que sujou aquela que se previa, que representaria a causa da Educação. E ficamos, mais uma vez, entre ciladas e decisões.

Talvez eu precise aprender, ainda, mais sobre democracia, porém não vejo como conviver com esses pulhas que nos sonegaram por longos 12 anos (ou mais), que venderam o país, que destruíram a Previdência, agora virem gritar como se eles tivessem a solução. Falta-me entendimento, paciência e boa vontade para compreender isso tudo, misturado e sem sentido.

O movimento dos docentes, entendo por ser meu segmento, o dos alunos e gestores, sinto até mais resistência, pois estes ficam numa defensiva de pares que não me coloco a defender. Aluno deve estudar, produzir e, daí, reivindicar; quando não é este o quadro, quando as baladas passam a ser mais interessantes que as aulas, quando existe a presença de drogas e nudez de forma abusiva, começo a ter minhas dúvidas.

Em relação aos gestores, comentei em um post, no Instagram, que me surpreende eles lutarem por seus salários, visto que não lutam pela qualidade. Se assim o fizessem, seus filhos estudariam nas escolas públicas, o que não acontece. Então, se os filhos estão estudando nas instituições privadas significa que as públicas, que lhes pagam sustento, não são boas? Respondam, senhores gestores.

Sou até mais pretensioso: os docentes de instituições públicas, que tanto falam, gritam e batem nos peitos sobre melhor valorização, estão se atualizando? Estão preocupados com a evolução das ciências? Estão se voltando para novas leituras, novas propostas e novos empreendimentos na Educação ou ainda abraçam os manuais antigos e procedimentos arcaicos? Porque vejo seus filhos nos grandes colégios privados onde estas perguntas são respondidas com afirmação. Estranha esta luta.

Estamos diante de uma luta de braços onde ninguém quer perder e ninguém quer mostrar qual a real intenção na participação. O corte de verbas vai além de tirar dinheiro, vai além do cerceamento de projetos e estudos. Quem paga para saber o que não é dito? Quem está interessado em descobrir o que há por trás da nudez dos universitários? E por trás da maconha? E por trás das universidades que ficaram até agora caladas e de repente elas passaram a demonstrar suas relações de produções? Porque tudo isso tem um histórico, não é? Nada disso aconteceu semana passada. De onde vem isso? Quem iniciou a debandada? Quem começou a desinstalar a universidade e o ensino público? Qual a origem de tudo?

Aguardem cenas dos próximos eventos, pois a coisa está apenas começando. A França passou por uma crise cultural e educacional em 1968. Pagou caríssimo pela queda dos liceus e por abraçar a universidade livre; sua juventude sofreu barbaridade com a incultura, mas vagarosamente se afirmou no cenário mundial. E nós? nós estamos no turbilhão do desmanche iniciado há anos atrás (não foi ontem, não, desavisado político) e ainda iremos sofrer ainda mais. Caso seja preciso uma dica, lá vai: quando começamos a falar em evasão de cérebros? Pensem bem…


Gostaria de fazer uma correção em meu texto anterior, quando comentei sobre a coordenação da Divina Providência, escola que tenho em meu coração. A coordenadora que me recebeu e com quem fui conhecer a escola era a Heimar Fontes, não Neymar (nome de nosso funesto jogador eternamente infantil, rebelde e inconsequente). Heimar era muito habilidosa em sala de aula e na coordenação, passando-nos uma certeza em nossas funções.

Ela foi uma das grandes educadoras que esteve a frente de seu tempo; sua percepção matemática e sua prática pedagógica aferiam uma práxis que possibilitava ampliações de horizontes aos alunos e aos docentes que estivessem envolvidos no processo educacional daquela escola. Desculpe-me, Heimar, pela troca de nome, mas sua presença se faz eternizada quando se pensa em alguém que dominava sua proposta funcional. Você fez história na Vida de muitos de nós que aprendemos a respeitar sua forma de falar, de agir e de pensar. Saudades de você.


Fui ao CRP (Conselho Regional de Psicologia) retirar minha carteira profissional. Houve uma palestra (???) de duas horas para que pudemos nos inteirar de aspectos éticos da profissão e demais informações de ordem prática. Reencontrei amigos de curso, colegas de profissão e passamos uma tarde muito agradável pois Juliano Arruda e Estelamaris Rallo são pessoas de uma simpatia incrível, além de serem pessoas cultas, o que torna a convivência e as conversas mais consistentes e desejosas.

Durante nosso lanche, porque rendeu uma comemoração, rimos de coisas que nos tocaram e comentamos de coisas que vimos e sentimos, cada um em seu aspecto intimista: pessoas que não conseguem falar em público, mesmo com necessidade de fazê-lo; falta de conhecimento básico para se expressar; total ausência de empatia, em qualquer proposta de vida conjunta; formação desatrelada de compromisso social.

Esses assuntos foram geradores de muito papo e muita risada, pois lembrávamos de aulas ou de vivências em que  as questões eram aparentes e ficamos triste em perceber que poucos dão valor a sua própria formação. E formam-se como se tudo fosse uma questão de começou-terminou, mesmo falando em Psicologia. Entretanto, muito mais do que estar habilitado, há a necessidade de estar engajado no movimento da Saúde Mental e poder fazer diferença, ainda que a máquina seja forte e rígida.

Saúde mental nos remete a pensar num equilíbrio, se isso for possível, que estenda seus tentáculos a cada parte mais escondida de nosso ser. Muito mais do que ser menos agressivo e menos ansioso, mas estar em posse de si, garantir e sustentar sua autonomia, sem ter que renunciar a seus próprios desejos. É encarar a vida com mais leveza, com mais integridade, independente de classe social, raça, credo e preferencias. Mas isso implica em termos profissionais bem formados.

Entrar nesta discussão nos remete à luta pelo ensino, tratada nos momentos iniciais desta crônica; pego-me pensando: quais dos meus professores foram ativistas em suas causas? Ou melhor: quais tinham uma causa, a não ser viver sua vidinha pacata? No decorrer de minha escolaridade, vejo no cenário sócio-cultural, poucos deles. Alguns tiveram um discurso poderosíssimo diante de teorias e postulados, mas uma vidinha engajada muito pobre e frouxa em princípios. Não desmerece sua ação, visto que um poste, mesmo com cupim, sustenta fios de energia elétrica e semáforo. O que significa que, nessa comparação o poste cumpriu sua função. E bem. Mas deixou de se envolver. Fica a dica.

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Quando comento sobre meus estudos e meu laboratório, onde se estuda e pesquisa sobre a Psicologia do Esporte, sempre recebo olhares assustados ou de total desconhecimento da área, que não me causa estranheza mais. Explico o que é, como se trabalha, quem são meus orientandos, o que fazem e como fazem. Triste é perceber que, num determinado momento, eu próprio tenha que realizar cortes e acelerar processos, porque fiz escolhas erradas.

Em função de minha má escolha, não posso deixar que um grupo ou um espaço de pesquisa se contamine. Lógico que falo de espaço onde o líder sou eu e que a ordem deve ser normatizada por todos e eu me incluo nesse grupo, entretanto, nos processos seletivos, as pessoas mentem demais e se apresentam como não são: informam um período de disponibilidade inexistente, comprometem-se com questões que nunca voltarão a pensar, assumem compromissos que jamais tocarão. E daí, fica o coordenador a coordenar uma massa falida.

Estou vivendo este momento. Do alto de minha aposentadoria deparo-me com um grupo pouco empático com as questões que os une; diante disso sou levado a suspender um congresso internacional que custamos a engrenar e que nos proporcionou muitos dividendos intelectuais, produções conjuntas, intercâmbios, livros e publicações. Após suspender, todo mundo se surpreendeu e admirou-se da minha atitude, mas não se admirou de sua ausência ou proximidade. Percebo que por mais que se faça, nem todos conseguirão assumir sua autonomia e as responsabilidades que advêm dela, visto que ser autônomo implica, também, assumir as responsabilidades de sua formação.

Óbvio está que não me preocupa a gratidão (aliás, eita palavrinha que serve para tudo) nem a proximidade improdutiva; olho para quem pensa em crescer e ampliar o espaço por onde passou. Mas, quem manda eu pensar assim? Isso é invencionice minha e como tal, está ai para ser desconsiderada. E será. Mas cumpri meu papel: acolhi, engoli, ensinei, alfabetizei politica e academicamente, preparei.

Talvez tenha me deixado levar pelas promessas, mas o erro não foi meu: eu não prometi o que não podia dar. Cumpri meu papel, como continuarei a cumprir. Agora, em tempos mais difíceis, estarei mais atento aos deveres e direitos, do que já fazia antes. Brigarei pela bolsa de estudos de meus alunos e farei com que cumpram seus papéis de dedicação aos estudos, à pesquisa e às publicações. Os desajeitados serão liberados rápido, porque não se tira água de pedra, vamos combinar.

O que resta disto? Que são outros tempos. Que são outras cabeças e outras formações humanas. Todos são portadores de diploma universitário de boa instituições. Talvez eu não tenha pedido para ver o diploma do caráter ou da afetividade; mas esses vacilos acontecem quando se tem o péssimo hábito de acreditar. Eu prefiro morrer acreditando; o erro não será meu. Perdemos o Congresso Internacional, mas em seis meses mostraremos uma nova linha de produtividade. Ou não me chamo Afonso. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)


Afonso Antonio Machado é docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology. Aluno da FATI.

 


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