CONCRETAS SITUAÇÕES e difíceis decisões…

CONCRETAS SITUAÇÕES

Hoje conclui mais uma disciplina na pós-graduação. Futuros mestres e doutores, muito disciplinados e sábios, jovens promissores do mundo acadêmico, onde ainda estou inserido. Pego-me pensando: até quando? Por que continua? O que move nesse espaço que tanto desgaste lhe traz? Por que tanta dedicação? Penso muito nisso tudo e não tenho o certo as melhores respostas. Tenho vagas ideias, concretas situações e difíceis decisões, mas continuo minha toada, com maestria e força. Sou persistente e tenaz.

Desde sempre me vejo professor e faço desta profissão um sacerdócio: sou fiel aos meus princípios, aos vínculos que crio nela e à crença de dias melhores por meio da Educação. Mesmo com governantes tão medíocres, ainda acredito que haverá uma saída e algo emergirá do povo educado (culto, escolarizado, sábio) em proposta a tamanho desarranjo social e cultural. Creio. Mas do que isso: incentivo e fomento.

Tive bons professores, boa formação. A base da escola pública, passada no Instituto de Educação (que depois resolveram fazer graça e nomear de Bispo D Gabriel, esquecendo de que o Instituto fora e é um marco na educação nacional), que me dava esteio ao saber culto e aos bons vestibulares e pais que me cobravam boas notas nunca foi motivo para desânimo ou depressão infanto-juvenil: naquele tempo não tínhamos esses direitos.

Estudava muito e isso me atraía cada vez mais. Professores sérios, comprometidos com a formação e a informação (diferente de alguns modernosos que apenas informam), atraíam nossas atenções à escola, onde passávamos o dia a estudar, praticar esportes (éramos bom nisso também) e a planejar a famosa semana de arte moderna, liderada pela nossa bela e jovial professora de Desenho, Sônia Carletti. A escola era tudo e nossa vida girava em torno dela, sem ser um fardo nem uma piada.

Do ensino médio para a faculdade, poucas coisas mudaram, porque eu estava determinado; e assim faço dois cursos universitários totalmente diferentes quase que concomitantemente: Educação Física na PUCCamp e a partir do segundo ano, lá estava eu iniciando minha licenciatura em Filosofia, no IFCH-Unicamp. Tempos difíceis, em casa e no país. Em casa porque a situação flanava de acordo com as sumidas de ‘seo’ Geraldo (que sumia pelo Brasil de Deus, deixando a mim e a minha mãe sem retaguarda) e no Brasil porque vivíamos períodos políticos de exceção, com regras duras de engolir e punições severas demais para a compreensão de um adolescente.

Mas ambos os cursos foram concluídos e bem. De lá para o Mestrado, engatando no Doutorado (ambos na Unicamp) onde fiz fortes e firmes contatos e amizades que fui retomar na Unesp, já professor. Do mestrado trago lembranças de uma orientadora leoa que lutava pelos seus orientandos: Rosália Maria Ribeiro Aragão. Com ela aprendi a desenvolver a empatia e a acolher meus alunos. Rosália era e é aquela pessoas que se debruça diante de uma causa e não abandona fácil. Não abandona.

Do doutorado recordo-me de minhas viagens; já professor na Unesp, parte dele na Europa, sofrendo e vivendo a frieza e o frio alemão, mas fortalecendo o espírito e o raciocínio rápido: brasileiro é resistente e capaz. Demonstrei e sobrevivi, forte e capaz. Mas foram aprendizados indescritíveis e inenarráveis: quando perco meu sono, durante a noite, me pego perguntando se algum dia eu contarei o que vivi. Dai me passa um calafrio, porque ninguém jamais contaria ou se relembraria daquelas aventuras germânicas, naquele frio insuportável, mas com a persistência de quem foi para vencer.

Nem eu acredito. E, fico imobilizado quando penso: se eu contasse o que era a vida naquele sótão, dona Carmen iria me buscar. Porque foi o bicho, mas fortaleceu corpo e caráter, hoje tenho certeza. O brasileiro que chegou com uma mochila nas costas volta doutor. A bolsa de estudos sanduíche entre Unesp e Universität Konstanz fora suficiente para me ensinar a valorizar a família, o saber e a seriedade; coisas estas que já tinha ideia mas não tinha experiência de vida.

Na Unesp a carreira foi bem acelerada, pois sempre fui predestinado, mas a distância entre Jundiaí e Rio Claro me machucou muito; de início pensava que um dia moraríamos os três naquela cidade pacata. Aos poucos fui vendo que a idade forçava a manter minha mãe em um grande centro porque os cuidados médicos eram cada vez mais necessários e em Jundiaí eu conseguiria garantir uma melhor qualidade de vida. Então foram anos de viagens diárias, entre anos de viagens que me traziam para o lar às sextas feiras, e anos de intensa agonia por ver que a estrada ficava mais longa quando havia problema para resolver em casa. No dia do atropelamento, juro que meu carro voou pela Anhanguera e os anjos da guarda me colocaram dentro do Hospital São Vicente, onde ela me recebeu com o sorriso de sempre, a mesma elegância e imponência e perguntou: quem contou? Eu não queria te preocupar.

Esses são fragmentos. Fragmentos de uma vida real. Pedaços de mim, que ninguém consegue aquilatar o valor que tem; que ninguém consegue imaginar como me são valiosos e ricos e como eles me fizeram um ser humano melhor. Viveria tudo outra vez. Do mesmo jeito, da mesma forma, com a mesma intensidade, com a mesma rebeldia e voracidade, sempre entendendo que a Vida é curta e rápida. E que é preciso fazer bem feito da primeira vez porque não se tem certo que teremos outra oportunidade para tal.

Isso eu aprendi bem e, talvez, por isso sou muito resistente ao erro; respeitar o tempo e a oportunidade de viver o momento sem reclamar. Buscar ser o melhor para si, para ter o que dividir com os outros em tudo. Fui da melhor escola pública do país para a melhor e mais jovem produtiva universidade pública do país, passei pelo movimento jovem da igreja católica para o candomblé e umbanda, crendo num só Deus e num Céu de redenção, porque o Inferno só pode ser aqui.

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E hoje concluo minha disciplina no Programa de Pós-graduação criado por mim e pela minha grande amiga, professora doutora Ana Maria Pelegrine e mais alguns outros poucos colegas. Será que reeditarei outra disciplina? Será que estarei no programa no próximo ciclo? Será que quererei dar aulas on-line? Não sei responder ainda, porque meus sonhos não param de me impulsionar. Estou diante de mais uma transformação em minha vida pessoal e alguns projetos profissionais e pessoais que virarão minha vida no avesso. Mas são compromissos futuros que tenho firmado com o Tempo, Senhor de Tudo. O que será do amanhã, responda quem souber….(Foto: nepszava.hu)

AFONSO ANTÔNIO MACHADO 

É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology. Aluno da FATI.

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