Além da Copa do Mundo, estamos assistindo ou lendo o quê? Será que a magia funcionou e se transformou em feitiço? Estamos hipnotizados pelos jogos? E esquecemos da corrupção e das falcatruas? Dizer que é momento de lazer e ócio e que isso faz bem para a saúde mental é uma desculpa incabível e descarada. Estamos no olho do furacão e não podemos perder mais um momento histórico destes para assistir jogos que não serão solução para nossos problemas fundamentais. A copa vai nos ajudar em quê? A anestesia sócio-cultural está lançada e percebemos que a nação para diante de seus astros, nacionais e internacionais, enquanto nossos descasos continuam galopando aceleradamente, sem soluções e sem perspectivas de melhoras. Mas, ao menos estamos antenados nas jogadas. Triste povo que não se valoriza.
E veio o tradicional dia de Santo Antônio.
Diante de todas as adversidades e modernizações, somos presos, sim, a costumes e tradições populares que causam reflexões e conotações diversas, na população. Isso porque sua fama de casamenteiro atrai toda gama de solteiros, disponíveis e afins, até sua proximidade, clamando por um par. Pedindo para o Santo a proteção e a acurácia na procura de parceria.
Claro que não discutiremos nem nos deteremos na proposta de buscar o par ideal porque isso demandaria ao menos uns 20 domingos de artigos, uma vez que deveríamos avaliar o que seria um par ideal. Par ideal para quem, baseado em que parâmetro? E, caso conseguíssemos pistas para a resposta, ainda nos faltaria um momento para analisarmos a formação do par.
Por que analisar a formação do par? Porque cada um tem seus interesses e seus focos, que se alteram no decorrer da Vida, de modo que tudo se altera, neste contexto, quando se altera um único elemento, uma única coisa. E esta mudança é suficiente para que já não tenhamos a mesma pessoa de segundo atrás.
Pode parecer loucura, mas nós, que estamos lendo este texto, já não somos os mesmo que iniciamos a leitura do título dele: as mudanças se processam rapidamente e se estabelecem de forma instantânea e fugaz, permitindo que estejamos em transformação a cada segundo, quer ou não queiramos aceitar. Talvez seja este o grande segredo da felicidade: compreender-se em transformação e em releituras permanentes.
Na terapia temos o processo instalado desde o momento em que o cliente admite a busca de ajuda. Desde que pensa em procurar um terapeuta, ele começou seu processo de releitura; percebeu a necessidade de ser ouvido ou de ouvir-se. Permitiu-se descobrir e desvelar…este verbo é mágico: desvelar. Quiçá pudéssemos estar nos desvelando a cada segundo, para nos ouvir e compreendermo-nos mais e mais.
E o outro? O outro será coadjuvante. Será a pessoa com quem temos identificação e com que vemos chance de construir um momento a dois, um espaço íntimo e uma caminhada realizada a quatro pés e quatro mãos, com interesses comuns. Mas a sua formação demanda situações de avanços e recuos, de ganhos e perdas, porque não somos iguais, nem temos todos os objetivos comuns. Esta junção precisa ser bem estruturada e bem analisada, porque não é uma escolha única: é uma escolha a dois.
E quem não quer fazer este trajeto? Existe outro trajeto? Outra proposta? Claro que há: cada um tem seu mapa interno e sua bússola. As pessoas precisam aprender a se olhar por dentro e procurar sua razão de viver; nesta procura está sua própria felicidade, que não é iguala de outro alguém. É ímpar, porque as pessoas são ímpares. Por isso é que podemos, sim, ser felizes sozinhos.
E isso se trata de uma escolha, de uma construção sócio-cultural, de um hábito. E é pleno, como esta felicidade também é plena. Estar consigo pode ser uma proposta pesada, mas real e possível, tendo em vista que demandará uma compreensão e uma elaboração de vida solo. Com gosto pleno, também, de felicidade.
Que Santo Antônio contemple a ambos grupos e que eles se sintam descobridores de seus pontos de alegrias e tristezas, mas que mantenham suas escolhas na mais alta consideração: desvelar-se é uma opção íntima, pessoal e relevante, caso queiramos nos levar à sério. Ajudem-nos, Santo Antônio.
Interessante ver os depoimentos daqueles que se expuseram, revelando o Brasil que desejam. Brasileiros de norte a sul, leste a oeste. Representações sociais, culturais, políticas, educacionais, espirituais que se manifestam indicando valores esquecidos ou perdidos ou negligenciados, possíveis de serem reeditados. Mas as urnas mostrarão isso? Teremos consistência e consciência para uma opção de tamanha monta? Conseguiremos excluir os corruptos, os embusteiros, os pistoleiros, os bandidos?
Será que as falas que nos representam serão, mesmo, materializadas em votos e, então, teremos um outro país? Lembro-me de haver estudado, em meu ensino fundamental (que era ginasial) um livro chamado “Dois Brasis”. Era algo chato, triste, difícil de entender, mas era a disparidade do Norte para o Sul. Ou do Norte e do Sul. Existia conversa que tensionava a divisão do Brasil em Norte e Sul.
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Mas, hoje, quantos Brasis temos? Numa cidade de médio porte podemos localizar diversidades tão grandes que nos levam ao desespero e à total incompreensão dos costumes e maneirismo. A tal globalização generalizou e pulverizou as diferenças e as incongruências, cabendo a nós as propostas de reconciliação e construção de um novo homem para o novo espaço. Mas…quando isso acontecerá?
Muita movimentação pelas cidades brasileiras. Das maiores às menores. Das mais avançadas às mais acanhadas do interior do país, vale também para todas as regiões do continente. Isso porque com o final da greve dos caminhoneiros temos a alegria de poder gritar que estamos realizados e plenos. E mostrar para o Mundo o triunfo e a imagem de um país forte e poderoso.
O fim da greve dos caminhoneiros deu-nos a possibilidade de voltar a Vida. E isso é genial, se não for divino. Hoje, graças às operações logísticas estarem todas em andamento, possibilitando a normalidade (existe normalidade?) do modo de vida, temos mais remédios nos hospitais; ‘Seo’ José pode realizar aquela operação de catarata que fora adiada por causa da greve; os mantimentos chegaram nas mesas de todos os brasileiros, os julgamentos estão mais rápidos, os portos voltaram a circular o progresso e o dinheiro volta às mãos da população. Não teremos como agradecer aos caminhoneiros por permitirem que o país retornasse a sua vida.
Apenas alguns carregamentos ficaram perdidos pelas estradas: os caminhões de “Vergonha na Cara”, de “Honestidade”, de “Verdade e Razão”, de “Coerência”, de “Fraternidade”, de demais outros valores andam sumidos sem pistas. Que será que anda acontecendo? Quando colocaremos tudo em seus devidos lugares? Parece que ao terminar a Copa do Mundo as coisas estarão andando. Que coisas? Esperemos….(Foto: www.heldermoura.com.br)
AFONSO ANTÔNIO MACHADO
É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduando em Psicologia, editor-chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology.