Não foi fácil para a mãe o nascimento da filha há quarenta anos. Fez-se primeiro da cruz da solidão. Fortaleceu-se no pulsar do sangue da bebê. Com seu trabalho, como diarista, pagaria a senhora que costumava olhar crianças. Foram seis meses assim até que, em um entardecer, a babá lhe disse que o desconhecido a raptara. Desequilibrou-se na calçada de suas desventuras, após fazer o boletim de ocorrência sem indício algum do destino da pequenina. Fez-se do álcool, das sarjetas, das noites ao relento. Um canto dela infeccionou com as dúvidas. Os dias do aniversário da filha, assombrada pelo passado, consolava-se um pouco ao olhar além do horizonte.

Trinta e poucos anos depois, a moça deu sinal de vida pelas redes sociais. Criada por um casal de outro Estado que não possuía filhos. Localizara as pegadas maternas pelo nome que continha em sua Certidão de Nascimento. Desejava apenas saber quem era sua família biológica, sem a perspectiva de criar laços. Mistério esclarecido: a senhora que cuidava dela a ofertou ao casal que não podia ter filhos e desejava muito uma criança. Naquele tempo, situações como essas não tinham um acompanhamento mais aguçado do entorno. A filha, no entanto, considerou “faz-de-conta” a história da mãe e deixou claro que não a perdoava. Fez-se novamente da distância.

Há poucos dias, 10 anos depois do reencontro sem encontro, chegou a intimação do Fórum por carta precatória. Era a solicitação para que a mãe assinasse a sua “doação” à família que a criara, com o propósito de que se tornasse oficialmente herdeira. Assinar ou abrir processo contra quem levou sua filha?

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Dia 11 de julho, de alma sangrando, assinou pelo bem da filha, que não a considera de maternidade, e dos netos que desconhece. Dores mais fortes em suas entranhas do que as do parto difícil que foi o da nenê, que acontecera na mesma data há 42 anos. Assinou firme. Assim esteve Maria diante da Cruz de seu Filho, oferecendo-O por todos nós. Mais tarde, postou em seu Facebook: “Hoje, um dia muito triste. Só Deus sabe o porquê, mas vai dar tudo certo, minha filha! Que Deus te proteja sempre”.

Contou-me em prantos. Onze de julho, festa de São Bento. A Cruz Sagrada foi a sua luz, não foi o dragão o seu guia. Grande mãe, de olhar com Céu.(Foto: rr.sapo.pt)


MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE

Com formação em Letras, professora, escreve crônicas, há 40 anos, em diversos meios de comunicação de Jundiaí e, também, em Portugal. Atua junto a populações em situação de risco.

 


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