DELPHIS com PH, o cara que viu os anos 80 de camarote

Se existe alguém que viu a década de 1980 passar de camarote, está pessoa se chama Delphis Fonseca. Na época ele era conhecido como Delphis com PH. O nome artístico incorporava as duas consoantes. Brincar com o próprio nome não era algo comum. Deu certo. Ele se tornou um dos locutores mais importantes de FM naquele período. Revolucionou a Transamérica(100,1). Foi para a Jovem Pan 2(100,9), que revezava-se no primeiro lugar de audiência com a Cidade FM(96,9), onde também trabalhou. Fez jornalismo na Rádio e TV Bandeirantes. Hoje, Delphis é um profissional multimídia, irrequieto e mais do que nunca perfeccionista. O Jundiaí Agora o entrevistou(na foto principal, à direita de Rita Lee. O outro radialista é Rubens Palli):

Como foi o início da sua carreira?

Sempre fui apaixonado por rádio. Aliás, eu e meu Dafnis Fonseca(que foi locutor na Antena 1, da Metropolitana, passou pela Transamérica e apresentou telejornais na Gazeta e TV Cultura). Ele também trabalhou na área. Desde pequenos escrevíamos paródias. Cantávamos. Com 17 anos fui visitar a rádio AM do Guarujá. O filho do dono era meu vizinho. Comecei a ir com frequência. Eu sentava ao lado do locutor, o Tuca Jr. Um dia ele mandou falar hora certa no ar. Quase morri. Mas, mesmo engasgado, consegui. O Tuca pediu para eu voltar para ler algumas coisas no ar. Eu voltei e fui ficando mais solto e conquistando espaço. Ganhei um programa e fui perdendo a timidez que tinha em altíssimo grau. O rádio me dava proteção já que ninguém me via. Isto foi me dando coragem. Apresentávamos shows e sorteios. Isto tudo ocorreu em 1984. Era uma rádio pequena. A gente fazia tudo. Criava uma paródia, fazia o arranjo, tocava violão, gravava, editar e colocar no ar. Tínhamos total liberdade. Fiz imitação, paródia. Tenho que citar que nesta eu eu tinha o Serginho Leite como ídolo. Ele arrebentava na Cidade FM. Depois, ele foi para a Jovem Pan. Eu tentava levar a energia dele para a rádio do Guarujá que na época era mais convencional. Hoje é líder.

Na Transamérica você foi inovador. Como chegou àquele formato?

O momento foi inovador, na verdade. Isto porque queríamos fazer de forma diferente. A Transamérica era uma rádio pequena que tinha a pretensão de bater a Jovem Pan, que liderava a audiência. Só que a Transamérica era uma rádio toda gravada, gerenciada pelo pessoal do Banco Real. Então, escolhemos a irreverência como caminho. A Transamérica tinha um humor picante que ficava longe de gosto duvidoso. Hoje tem coisas legais. Mas as vezes tem que para pensar se é humor de verdade… Este formato que criamos veio do amor pela música, de gostar de cantar, da influência do Serginho Leite, que eu considero o melhor locutor de todos. Ele era inteligente, um músico capacidade, tinha um humor muito legal e era um imitador de primeira. Ele foi o cara que me inspirou. Eu morava no Guarujá e ouvi o Serginho. Depois vim a fazer programa e show com ele. Foi um sonho. Trabalhei com o Serginho Leite na Transamérica. Fizemos radionovelas num estilo bem humorado. Isto tudo foi a raiz do meu trabalho. Na Transamérica escolhemos o caminho mais difícil. A gente se juntava, começava a falar abobrinha, pegava a ideia de um, juntava com a do outro. Tudo era feito a várias mãos e com máquina de escrever. Não existia computador naquela época. E, desta forma, acabávamos colocando no ar coisas novas. O pessoal do Banco Real não tinha nada a ver com aquele bando de doidos que faziam a rádio. Era um problema. As vezes tomávamos bronca e tinha que tirar algo do ar por acharem ofensivo demais. Foi algo inesquecível. Lembro com muito carinho daquele tempo…(na foto acima, Delphis está do lado esquerdo)

Você ficou marcado pelas paródias? Você compunha todas? Como era o processo de criação?

Eu fazia as paródias com meu irmão, o Dafnis. Na época, ele não trabalhava na rádio mas sempre dei crédito para ele. As vezes, inclusive, ia até o estúdio. Fazia voz, falava no meio da música…

Você tinha total liberdade? Teve problema com a censura? 

Tivemos todos os problemas com censura que você possa imaginar. Desde a censura interna até a de Brasília. Quando da mudança do logotipo, escolhemos uma arte com um ‘T’ grande, vermelho, que é o logo da Transamérica até hoje. E começamos a falar, no ar, que aquele era o ‘Tesão da Transamérica’. Quando o gerente ouviu, foi até o estúdio e chamou a atenção de todos. E passamos a dizer que era o “T” grandão da emissora. Com a dona Solange(Solange Hernandes) censora do Governo Federal, havia problema com as paródias. Fizemos uma em cima da música Eduardo e Mônica, do Legião Urbana. Virou “Seu Funaro e o Povo”. Ela acabou não gostando. Tivemos de mudar para “Seu Ferraro e o Polvo”. Nem a palavra ‘povo’ podíamos usar. Era ridículo e é até hoje.

O bom humor estava presente em toda grade, inclusive nos comerciais. É fato ou só impressão de ouvinte?

Não era impressão não. A ideia era de que toda rádio tivesse a mesma cara de bom humor. É claro que o cliente tinha de pedir isto no seu comercial. Aí a gente criava textos irreverentes para os comerciais. No meio dos blocos comerciais a gente colocava esquetes brincando com a palavra Transamérica. Havia gravações do tipo “trans, trans, trans, Transaméricaaaaaa”. Queríamos deixar o bloco mais animado, divertido. Esta foi uma das grandes inovações que deu muito certo. Ideia do carioca Ricardo Henrique Biasi e Luiz Fernando Magliocca, que conhece tudo de rádio. Ele levou Serginho Leite(foto acima) e o Faustão para a Transamérica, antes da Globo, evidentemente…

Não surgiu convite para televisão?

Sim. Mas para realizar um trabalho oposto ao que ao fazia na rádio. Sempre fui profissional irrequieto. Gosto de muitos tipos de música, tipos de apresentação. Gosto de comunicação, de várias situações, rádio, TV, internet. Sou um pesquisador informal, no sentido de querer ver como é que se faz. Sempre gostei muito de jornalismo. Sou jornalista. Em 1986 fui para a TV Bandeirantes fazer telejornal. Trabalhei com a Marília Gabriela, Chico Pinheiro. Foi uma fase muito bacana. Sai em 94, já satisfeito. Tive programa na Rede Mulher. Era um programa de variedade. Montei primeiro curso do Brasil, no Senac, para apresentação na TV. Treino pessoas para apresentação em público, para vendas. Treino cantores e atores. Faço também o media training. Expressão complicada essa! Hoje tem muita gente fazendo isto e que nunca trabalho na área. Eu tenho muitos alunos brilhando em todas emissoras. O sucesso deles é o meu também.

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Seu trabalho naquele período é lembrado até hoje por fãs?

Sim! Recebo muitas mensagens no Facebook. Recebo gravações da época. Mandaram o áudio da minha estreia na Jovem Pan, conversando com o Beto Rivera. Também recebi áudio de uma entrevista minha com Cazuza, Raul Seixas, Renato Russo. E o legal é saber que estas pessoas já têm filhos ou até netos. Parece que foi ontem. E já se passaram 40 anos…

Qual a importância das rádios FMs para a música dos anos 80 e vice-versa? Uma existiria sem a outra?

Não. Este foi um casamento espetacular. Foi uma grande coincidência entre a renovação do rádio que tornou-se divertido, pra cima, com a música que viveu uma verdadeira revolução. O que é melhor? Arroz ou feijão? Os dois juntos são ótimos. O mesmo servia para a FM e as músicas daquele momento. Todos tinha sede de divertir, falar, comunicar. Os músicos tinha sede de fazer um rock nacional bacana. Não dá para pensar em FM sem as bandas e os cantores dos anos 80. Éramos parceiros. Pensávamos que era necessário fazer sucesso juntos. Eu fiz pedágio na rua, entregando adesivo da rádio com Leo Jayme, que era uma estrela. Ele dava LP e autógrafos. Os artistas participavam da vida das emissoras. Até cantavam vinhetas exclusivas…(Entrevista publicada originalmente em agosto de 2019)

Amanhã, Delphis fala sobre os artistas e músicas mais importantes da década de 80, das paródias e do período em que fez a voz do emblemático Djalma Jorge…

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