As homenagens e os EGOS partidários nas alturas

A recente polêmica sobre homenagear a ex-primeira-dama Marisa Letícia em um viaduto na capital paulista leva a algumas reflexões. Comecemos com a função das primeiras-damas. Nos municípios normalmente elas exercem atividades de caráter social. Na esfera federal também era assim até a década de 90 no Brasil, de lá para cá passaram a ter uma função meramente protocolar. Mas por que não promover atividades sociais relevantes? Mesmo não sendo algo oficial, mais a necessidade de se passar pelos trâmites burocráticos do executivo, todo programa devidamente bem planejado é digno. Temos o exemplo da ex-primeira-dama Michelle Obama, que lá implantou programas sociais voltados às crianças e adolescentes. Assim sendo, não vejo motivos para negar homenagens. Desde que os programas tenham rendido frutos. O que Marisa Letícia promoveu nesse sentido ao país? Um programa que tenha repercutido internacionalmente como o de Michelle Obama? Que os petistas de plantão mostrem. Analisemos também os egos partidários!

Se por um lado tal homenagem se mostra extremamente demagoga no caso de Marisa, temos outras questões a observar. Prefeitos e governadores, por piores que sejam, produzem algo bom, deixam alguma obra útil. Maluf, por mais que “levou”, deixou obras extremamente necessárias, que não conseguimos imaginar as cidades sem elas, exemplo o Terminal Rodoviário do Tietê na capital paulista, bem localizado (ao contrário de uma rodoviária na “Terra da Uva”).

Homenagear políticos é complicado. Vamos agora ao ex-governador e ex-prefeito de São Paulo Mário Covas. Não foi dos piores, ou seja, não se compara aos atuais, mergulhados num mar de lama, todo mês surge uma nova denúncia. Mas é um dos políticos mais homenageados obviamente pelos “companheiros” de partido. Numa rápida pesquisa na internet, encontraremos dezenas e dezenas de locais com seu nome, desde avenidas e rodovias a hospitais por todo o interior paulista. Tal como outros governadores, cumpriu com sua missão, fez obras que aí estão, servindo a população. A questão é: excessos.

Se no caso de Marisa Letícia a primeira grande homenagem pode soar como “intenção” de levar uma parcela da população a uma espécie de culto a sua personalidade, endeusamento, os excessos a qualquer figura política, independentemente do cargo ocupado, também levantam a mesma suspeita. Principalmente pelo fato de haver muitas pessoas que se dedicam às causas humanitárias e ao exercício da cidadania em todas as cidades, mesmo as pequenas; pessoas estas que caem no esquecimento, não recebem uma homenagem à altura do trabalho prestado em seus locais de atuação, muitas vezes por não terem “feito parte” do grupo político dominante ou atendido seus interesses. Se existem tantas pessoas dignas de receber homenagens em logradouros, escolas, hospitais, etc., por que vemos os políticos escolhendo sempre os mesmos nomes? Qual é mesmo o nome do Rodoanel?

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Bom, deixemos a região metropolitana para desembarcar em Jundiaí. O Terminal Central recebeu o nome do ex-governador. Era de se esperar, afinal a gestão que inaugurou era de seu partido. Mas por que o Terminal Vila Arens não recebeu a mesma placa, do mesmo tamanho, com o nome do homenageado? Perguntem aos jundiaienses quem sabe o nome do Terminal Vila Arens ou se viram uma plaquinha, por menor que seja, em algum lugar do terminal. Aldo Marani foi um dos três irmãos, pioneiros no transporte de passageiros em Jundiaí. Uma justa homenagem, mas sem placa, ninguém sabe.

O governador fez pelo Estado todo, está presente de norte a sul, leste a oeste em homenagens pelas centenas de municípios paulistas. Mas o jundiaiense se locomoveu desde a década de 50 pelos ônibus de Aldo Marani e seus irmãos. Para o serviço, para a escola, para o lazer. E não foi homenageado da mesma forma que o governador. Tratamento diferenciado? Coisas da política!

Na mesma Jundiaí um ex-prefeito, de muito tempo atrás, foi homenageado numa rua com cerca de cem metros apenas. Já o irmão de um ex-prefeito, mais recente, foi homenageado numa avenida com mais de dois quilômetros. Coisas da política! Que a gente vai pensando, raciocinando…e concluindo que tudo é status, vaidades pessoais e partidárias. Melhor seria então não homenagear ninguém mais. Batizem os logradouros, escolas, hospitais e tudo mais com nomes de plantas, constelações, qualquer coisa que não sejam seres humanos, porque de injustiças o balde já transbordou faz tempo. (foto acima: KFTrans)


GEORGE ANDRÉ SAVY

Técnico em Administração e Meio Ambiente, escritor, articulista e palestrante. Desenvolve atividades literárias e exposições sobre transporte coletivo, área que pesquisa desde o final da década de 70.