E o mundo acordou com a notícia que não queria: Olimpíadas de Tóquio ameaçadas, mais uma vez. Desta vez o governo japonês estuda a possibilidade de proibir a entrada de turista. Lembrando que o turismo é a maior fonte de renda dos Jogos Olímpicos, dando forças aos patrocinadores que investiram milhões (ou seriam bilhões?) na realização do evento, além da margem de lucro que beneficiará o próprio país sede, em benfeitorias futuras. Esta decisão deixa os vários grupos e lideranças esportivas e políticas num conflito entre o racional e irracional.

Neste caso, o alerta é despertado em função das novas linhagens do vírus, espalhadas pelo mundo e do zelo que a população japonesa tem pelo seu maior patrimônio: seu povo. Sim, lá o povo tem o status de patrimônio, diferente daquilo que acontece em algumas republiquetas onde o povo é um mero amontoado de “mortos-vivos” que vive da idolatria esquerdo e “direitopata”.

Causou tumulto, no Mundo, em especial entre autoridades envolvidas com o movimento olímpico, que antes de pensar na vida de seu povo que viajaria para lá e para cá, cruzando os ares e o mundo, levaria e traria novos e diferentes tipos de vírus, modificados e potencializados. Autoridades existem para falar o senso comum: uma pena! Uma lástima! O mundo perderá um Jogos Olímpicos…sem refletir ou enunciar que o mundo se  nega a perder mais seres humanos.

Se o atleta vai perder o ciclo olímpico ou se a modalidade vai perder seu apogeu, isto são conversas para outros tempos, não para o tempo pandêmico, onde cada dia se conta pelo número de mortos e Vida é o que interessa. Portanto, dane-se o Esporte, dane-se a modalidade, dane-se o movimento olímpico e salve a Vida. Salve a dignidade humana (se é que ainda existe). Salve a ciência, o isolamento, a máscara e a vacina. Isto, sim, é prioritário. Lamento a questão, mas entre o Jogos Olímpicos Moderno e a Vida Humana eu não tenho dúvidas sobre qual seria minha escolha. Não há escolha entre o racional e o irracional. Sempre e simples.

Num outro lado do disco, a pergunta que não quer se calar mas poucos impertinentes se atrevem a fazê-la por mexer no íntimo das famílias brasileiras: onde estão os pais dos jovens que insistem em sair para as baladas ainda hoje? Já estão mortos? Eles, os pais, já são mortos e para eles, os jovens, Vidas humanas não importam? Porque se estiverem vivos, por que aceitam o papel de cúmplices nesta saída louca de seus filhotes irracionais e genocidas? Estranho e difícil falar deste assunto, porque ele impele a colocar o guiso no pescoço do gato: dos pais ou dos jovens?

Afinal, para finalizar o raciocínio, estes jovens são filhos de que lar? Onde estiveram estes pais no decorrer do desenvolvimento destes filhos, que possibilitaram algo tão grotesco e tão perigoso? Porque trata-se de uma geração irracional e perigosa, visto o enorme número de evidencias e dados apontando para os perigos do contágio e da difusão da doença, mas os insanos, num gesto de divindade e blindagem se lançam às festas e roubam os lugares nos leitos hospitalares, trazendo, ainda, o vírus para dentro de casa. Onde estiveram os pais que não trancaram as portas no momento ideal? Questão para o futuro responder, mas muito atual e dolorida.

Impressionante como temos a capacidade de olharmos para nosso umbigo: manda as crianças para a escola. Tira as crianças da escola. Professores são fabulosos. Professor é tudo vagabundo. Fecha comércio. Como o comerciante vai viver? Abre comércio: o povo vai morrer. Mas e o povo nos ônibus da nossa cidade? Ou aquele povo é povo categoria D? E os velhotes de calçãozinho e sem camisas e sem máscaras, nas academias a céu aberto, da avenida Nove de Julho? Estes podem? São fortes o suficiente para superarem a Covid?

Alguém precisou ir ao supermercado Tauste este sábado(20), inicio da tarde? De onde saiu tanta gente? Por que tantas famílias completas, passeando entre as gondolas? Só não me respondam que foram todos porque o Júnior “precisa escolher seu ovo de Páscoa”. São sinais desta magnitude que estragam nossa saúde mental e nosso perigo de contágio. Nesta hora percebe-se a diferença entre o alfabetizado e o alfabetizado funcional: um entende o recado, o outro nem o percebe. ‘Fica em casa’ significa ‘fica em casa’.

Em algum canto da cidade coisas boas acontecem: um coral ensaiando musicas clássicas e populares para uma apresentação on-line, a princípio. Grupos de idosos aprendem novos idiomas. Pessoas se reúnem, virtualmente, para exercitar o cérebro e massagear a memória, com exercícios e práticas saudáveis da saúde mental. Grupos de leitura reúnem-se, online, para discutir filmes e livros. Grupos de oração se encontram, por toda a cidade, sem contato online, apenas para fazer uma oração, numa hora determinada do dia: um pelo todo e o todo pelo um.

Outros pintam, outros bordam, outros dançam, outros cantam, outros escrevem, outros leem, outros caminham. Cada um buscando se reinventar para sobreviver, dentro das possibilidades cabíveis. Todos acreditando numa saída, ainda que difícil, mas tentando; não sem observar que estas tentativas são duras, doloridas, até. Entretanto, neste renascer é que se encontra outra categoria de força e de resistência, resultando numa robustez mental que possibilita ao enfrentamento diário.

Nem tudo o que se vê é irracionalidade, como nem tudo é insensatez. Vemos gestos de bastante esmero e sabedoria, como as combinações de música, escrita e habilidades manuais; ou a criatividade manifestada em quadros de colagens de fotos, realizados enquanto se assiste a filmes; ou a costura e a pintura, realizadas entre atividades físicas apoiadas em musicas suaves e bem ritmadas. A troca de experiência facilita ao fenômeno de associação e transferência, mesmo sem o contato físico.

Então vemos o poder da comunicação remota. Como a internet nos ajuda e nos possibilita estar aqui, lá e acolá ao mesmo tempo, com eficiência e eficácia, sem prejuízo para a troca de informações, ensino e manutenção de um novo conceito de saúde mental: a dinâmica está montada no uso da internet e sua lógica se fundamenta na apropriação do ciberespaço, de modo a sermos e estarmos onde bem quisermos estar e ser.

Esta nova fase de desenvolvimento da humanidade atende ao que de mais óbvio podemos entender. Na ausência do contato físico, somos levados a nos unir de outras maneiras possíveis e o ciberespaço responde favorável aos nossos anseios. Grande internet. Redentora e recolocada num patamar de salvadora de nossa saúde mental, sem ela nossos transtornos emocionais seriam maiores e mais doloridos, visto o fato de já serem grandes.

Com tantas restrições, entre o racional e o irracional, podemos ainda melhorar nossa qualidade de vida? Mas é claro que sim. Sempre temos espaços para avançar com segurança e com seriedade, desde que tenhamos ciência de que passaremos por alguma privação e algumas restrições severas, porém necessárias para a mudança de nosso modelo de vida. É uma reconstrução. É uma remodelagem necessária mas salutar: o resultado compensa.(Foto: Stoyan Nenov/Reuters/Agência Brasil)

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Assim como no verão temos o elogio à Vida e na primavera vivemos o explodir das cores, no outono precisamos nos recolher para colocar em prática nossas novas propostas de Vida. A Vida, como um todo complexo, não se passa apenas entre verões e invernos: não temos somente a Vida e a Morte, mas ainda a possibilidade de nos reinventar, de nos recolhermos para sairmos dele mais forte. Feliz por mais um outono recluso. Espero ressurgir mais forte, mas criativo, mais sábio e mais vivo.

AFONSO ANTÔNIO MACHADO 

É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology. Aluno da FATI.

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