Fico observando as questões que se desenrolam ao meu redor e sempre me pego pensando: seremos fracos ou não nos percebemos em nossa existência? Será que não conseguimos enfrentar determinadas situações ou postergamos para que outros resolvam, por nós?
Afinal, quanto podemos? Quanto exercitamos nossa resiliência? Quanto enfrentamos situações adversas e quanto nos enfrentamos? Qual é nosso espaço e qual é nosso limite? Vamos pensar um pouco…
Solange é daquelas pessoas batalhadoras. Engajada em causas nobres, está sempre se articulando e incentivando que outros abracem causas sociais, culturais, educacionais. Em tempos bicudos como estes, que não se findam nunca, ela está a frente de um grupo que oferece encaminhamento de emprego para idosos, em serviços leves, mas de grande comprometimento com a ação social do empregador e do empregado.
Recentemente encontrei-a com muita pressa e aflita: estava realizando uma bateria de exames clínicos, porque descobrirá uma variação nodular, nas axilas. Aflição justificável e real, que merece zelo na investigação e no diagnóstico.
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Conversamos rapidamente, porque cada um de nós tinha seus afazeres e seus tempos contados, mas o suficiente para trocarmos opiniões sobre o estado de desespero em que o brasileiro está vivendo e, de modo geral, no caos instalado pelo país. Filhos, violências, mídias, novela, família, finanças, uma passada ligeira e rasa sobre os assuntos que nos tocam, de maneira geral.
Na despedida, ela me abraça forte e pergunta: rapaz, de onde você arranca esta força? E eu respondi: qual delas? Porque estou é precisando de uma. Estou apanhando muito da Vida e a cada dia fico mais perdido no meio do furacão. Qual força você está enxergando?
E ela retruca: você está sempre de bem com a Vida. Sempre ouve, sempre sorri, sempre apóia…é desta força que pergunto. Porque eu acho que vou desmontar, quando estes exames acabarem; se derem resultados bons, cairei de tanto cansaço. Se os resultados forem ruins, morrei de antecipação.
Olhei. Sorri. Pensei. E saquei a resposta, de pronto: Morre nada. Morrer não é assim!!! Não se morre porque se quer. Existe todo um ritual, que eu não domino, mas não é assim. Sei que se for ruim será um susto, mas nossas inteligência e vontade devem começar a atuar, desde já, para não permitir tamanho desgaste.
Talvez esteja ai parte da resposta que você me cobra: minha inteligência e vontade me empurram para ações pró-ativas que me permitem vislumbrar saídas boas para maus momentos. É um exercício de autoestima que sempre me coloco fazendo, porque só perco uma luta se não lutar ou se me entregar, caso contrário o pega será bom. É daí que tiro essa força que você me pergunta.
E você? De onde tira estas ideias de que não vencerá? De que não terá forças para enfrentamentos? De onde vem a visão da derrota, se a luta nem começou e nem sabemos se haverá luta? Eu entendo que a grande derrota, a derradeira, só vem quando a pessoa se derrota a si próprio (que não me leiam meus professores de Português). A autoderrota é a pior das aliadas. Somos fracos ou não nos enxergamos?
Ricardo vem enfrentando lutas homéricas. Uma atrás da outra. Uma mais severa que a outra. Mas vem bem. Está sempre pronto para os outros, sempre tem tempo para sua família, para seu curso universitário noturno, depois de uma jornada de trabalho, e para seus amigos. É uma pessoa interessante e batalhadora.
Talvez seja interessante por ser batalhador, mas o que se percebe com ele é sua constante busca pelo novo, ampliando seus limites culturais e sociais, buscando soluções e possibilidades de superação. Ricardo é daqueles que investe em si; não se acomoda nem se sente coitado, diante de tanto esforço e tanta angústia.
Seu diferencial se pauta na perspectiva que tem de um diferencial de qualidade em suas relações e em seus olhares diante da Vida. Não é uma “Poliana” que enxerga tudo lindo, nem uma “Alice” que vive num mundo de fantasias, mas não se arrasta pelos cantos, lamentando e debulhando-se em lágrimas e lamúrias. Suas dores doem, suas aflições afligem-no, seus medos são reais, mas ele dimensiona seus olhares e suas ações para propostas saudáveis e transformadoras.
Ricardo, apesar de ser um jovem senhor, é uma pessoa digna de ser elogiada (o que não gosta) e seguida: sempre acredita na vitória e na possibilidade de transformação dos momentos de luta. Aliás, sempre acha que a luta terá fim; não aborrece aos amigos e colegas de trabalho e faculdade, não é amargo e nem é pessimista.
Acredita em si. Intensifica seus desejos. Busca soluções.
Qual será a diferença entre Ricardo e Solange? Será que um é realista e outro é sonhador? Será que a maneira de encarar a Vida esteja fazendo tamanha diferença? Será que um é inocente e outro é engajado? Ou será que as ferramentas estão dentro de nosso cérebro e o que melhor se preparou, mais saídas terá para seus enfrentamentos?
Esta preparação não é nada teórico, tão pouco esotérico, muito menos de treinamentos esquisitos; isso acontece com as pessoas que mais se relacionaram, que mais se lançaram em direção à outras pessoas, que se permitiram e se aceitaram, numa derrota e num momento de fraqueza. Não há regras nem conselhos: na Vida, ou se exercita em busca da plenitude, ou não se percebe que a Vida passa e só lamentamos.
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Sentir medo é normal, temer o desconhecido faz parte do aprendizado, assustar-se diante da magnitude da situação é inteligente, tremer diante de ciladas e traições é razoável. Mas, passado o impacto, é esperado que assumamos as rédeas de nossa Vida e comecemos a caminhada. Seja lá de que maneira andaremos, o importante é sair em busca da solução.
E o melhor é que geralmente a solução está dentro de nós. Surpreendentemente tínhamos a resposta e não sabíamos. A pequena perspectiva de nossa própria existência limita-nos a olhar apenas para nossos umbigos e não percebamos que a linha do horizonte existe para ser ultrapassada e rompida. De onde vem esta força? De nosso interior.
De nossa autoestima. Simples assim. (foto acima: Adriana Zutini)
AFONSO ANTÔNIO MACHADO
É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduando em Psicologia, editor-chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology.