Quando uma mulher comentava comigo que havia engravidado na primeira vez que manteve relações, eu sempre torcia o nariz. Está de brincadeira? Como essa maluca se relaciona sem se proteger? Gravidez é uma benção quando comparada às inúmeras doenças que se pode adquirir numa relação sexual. Por outro lado, quando há o desejo de ser pai, muitos fatores podem atrapalhar a realização desse sonho glorioso, que a maioria das pessoas desconhecem, principalmente aqueles que afetam os homens.
Aproveitarei o mês dos pais para falar desses seres maravilhosos que aceitaram a dura tarefa de conviver com uma mulher (embora alguns tenham desistido desse arranjo, o qual eu posso entender completamente as razões).
Tenho vários casais amigos que tentaram engravidar, mas nunca obtiveram sucesso. Alguns desistiram, outros optaram pela adoção e uma pergunta comum sempre surgia em nossas conversas: porque não conseguimos engravidar?
Há vários motivos para essa ocorrência e passo a pontuar alguns.
Antigamente pensava-se que falhas na concepção eram devido a problemas femininos, hoje se sabe que não é bem assim. Estimativas do setor de Urologia da Unicamp revelam que as taxas de infertilidade masculina e feminina são similares, cerca de 40% para cada grupo, valendo afirmar que, quando surge o problema, ambos devem ser avaliados.
Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) mostram que a infertilidade afeta entre 50 e 80 milhões de pessoas. Um casal é considerado infértil quando após um ano de tentativas para engravidar (mantendo de duas a três relações sexuais por semana) o resultado continua sendo negativo. A partir daí, o melhor é manter a calma e procurar ajuda de um especialista, a mulher deve procurar seu ginecologista e o homem, um urologista.
A investigação básica, no caso do homem, inicia no levantamento do histórico clínico e a realização de um exame físico seguido de coleta de amostras diferentes de sêmen a serem fornecidas em intervalos de uma a duas semanas.
OUTROS ARTIGOS DE ELAINE FRANCESCONI
ESPECIAL HOMEM: A HORA DE TESTAR A MÁQUINA
SWIFTIES, MULHERES DE 50 MAS COM CORPO E MENTE DE 30
AS ESQUISITICES DO CORPO HUMANO
MEMÓRIA SELETIVA OU MEMÓRIA CONVENIENTE?
ALGUÉM SABE QUANDO É HORA DE TRATAR OS ‘VASINHOS’?
O MINISTÉRIO DA SAÚDE ADVERTE: A TPM É PERIGOSA PARA OS HOMENS
CHAMAR ALGUÉM DE GORDO É FALTA DE EDUCAÇÃO; DE PLUS SIZE PODE…
O MÊS DE JUNHO, OS TRÊS SANTOS, OS CASAIS E O AMOR
A principal ferramenta para constatar a infertilidade masculina é a análise do sêmen, exame conhecido como espermograma. Ele avalia fatores como volume, viscosidade, concentração de espermatozoides, motilidade, morfologia, entre outros tantos aspectos. No indivíduo com alteração da concentração espermática, ou cujo exame físico revelou alterações significativas, deve ser solicitada a pesquisa genética do cariótipo e de microdeleções do cromossomo Y.
É importante ressaltar que a análise seminal não é o teste de fertilidade masculino,pois é comum uma parcela dos espermatozoides ser esquisitos, com duas cabeças, por exemplo, entre outras formas bizarras. Essa avaliação deve abranger também uma investigação histórica do paciente e do casal, alémde um exame físico.
Bastante comum para uma pesquisa abrangente é associar exames de dosagem dos hormônios correspondentes à atividade testicular: testosterona total, FSH (hormônio folículo estimulante), LH (hormônio luteinizante) e prolactina.
Pode-se solicitar o exame de doppler testicular, também, por ser útil na suspeita de alterações das células do testículo. Existe, ainda, o teste de função espermática, mais sensível para determinar a qualidade dos espermatozoides.
A maior parte dos casos de infertilidade masculina ocorre em razão de problemas na produção do espermatozoide ou quando este não consegue alcançar o óvulo. São vários os motivos que podem levar o testículo a não produzir ou produzir pouco dessas células.
Um desses problemas pode estar relacionado às glândulas responsáveis por estimular a produção de espermatozoides pelos testículos(hipotálamo e hipófise), mas, outros fatores como: doenças de origem genética, tumores, más-formações, inflamações, degenerações, traumatismos externos ou cirúrgicos, aneurismas, infartos, excesso de hormônios masculinos, diabetes, hipotireoidismo e obesidade, podem fazer com que as glândulas diminuam ou parem de estimular a produção dos gametas masculinos, causando a infertilidade.
Alguns problemas nos órgãos que compõem o aparelho reprodutor masculino, como o epidídimo e ductos deferentes, também podem ser responsáveis pela infertilidade.
Abaixo os problemas mais comuns:
Varicocele, com certeza a causa mais comum, também conhecida como varizes escrotais. Segundo dados da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), apenas 20% dos homens que possuem varicocele são inférteis, mas,até 85% dos homens com infertilidade secundária, que inclui aqueles que não conseguem ter um segundo filho, as possui, porque a varicocele é uma patologia progressiva em que as veias responsáveis por drenar o sangue dos testículos tornam-se incompetentes.
Como consequência, o homem com varicocele ejacula espermatozoides imaturos, incapazes de fertilizar o óvulo. Em alguns casos é necessário cirurgia.Veja bem, a varicocele compromete a qualidade do esperma, não a potência sexual. Calma garotos!
Costuma ocorrer mais do lado esquerdo do escroto e pode ser assintomática. Em alguns casos, causa dor, peso e/ou desconforto e pode comprometer a estética da região. Fiquem de olho!
Assim como a varicocele, a criptorquidia pode comprometer a qualidade do sêmen, porque, o testículo ao permanecer no abdômen (é comum ouvir falar que o testículo não “desceu”), permanece num local de temperatura mais elevada (36,5ºC no abdômen enquanto no escroto a temperatura está de 1 a 1,5ºC graus abaixo desse valor, fundamental para a formação correta dos espermatozoides), o que prejudica a produção de células reprodutoras saudáveis.
A criptorquidia é muito comum em recém-nascidos prematuros, acometendo, aproximadamente, 3% a 4% dos bebês a termo. Em torno de 65% dos testículos descem para a bolsa escrotal, seguindo o caminho do canal inguinal, por volta do 9° mês de gestação. Quando o testículo encontra-se palpável no escroto, significa que desceu, mesmo que possa se apresentar retrátil, subsequentemente.
Embora o testículo retrátil encontre-se na bolsa escrotal, casualmente, pode voltar para o canal inguinal, devido à ação do músculo cremaster, responsável por retrair os testículos anteriormente à puberdade. Essa condição, por sua vez, não necessita de nenhum tratamento, pois, habitualmente, é passageira, sendo corrigida, espontaneamente, antes da adolescência e, caso não ocorra a resolução espontânea até o final do primeiro ano de vida, recomenda-se cirurgia para evitar danos permanentes.
Meu filho mais velho apresentou testículo retrátil e, felizmente, não necessitou cirurgia. Era possível observar que movimentos como tosse, risada, soluço, entre outras situações, faziam o testículo retornar ao canal inguinal. Embora causasse preocupação na mãe de primeira viagem, o acompanhamento, pela pediatra, ajudava a acalmar.
Outra situação comum e pouco registrada (ou lembrada) pela família é a orquite viral provocada pela caxumba, embora ela também possa ocorrer em razão de infecções transmitidas sexualmente como: gonorreia e clamídia; bactérias, como a Escherichia coli; ou traumatismo escrotal. Os sintomas podem ser: febre, dor local que se irradia para a virilha, e inchaço do saco escrotal, com uma sensação de peso seguida, às vezes, por descamação da pele.
O não tratamento da orquite pode levar a uma diminuição do volume dos testículos, infertilidade, além da possibilidade da infecção evoluir para um abcesso. Há casos em que é necessária a retirada do testículo.
Algumas disfunções genéticas também podem causar infertilidade no homem, como no caso de portadores da síndrome de Klinefelter. A incidência dessa síndrome é de 1,2 a cada 1000 nascimentos e é caracterizada por hipogonadismo (pequeno desenvolvimento dos testículos), algum desenvolvimento mamário e o cariótipo mais frequente é 47 XXY (lembrando que o cariótipo normal é 46 XY), ou seja, apresenta um cromossomo X a mais o que, por si só, afeta profundamente a produção de testosterona desse indivíduo.
Essa anomalia genética está associada a idade materna avançada. Num casal com um filho com a síndrome de Klinefelter, o risco de recorrência é igual ou inferior a 1%. No caso de não ser infértil (raro) é necessário aconselhamento médico antes de ter filhos, pela chance aumentada de distúrbios genéticos em sua prole.
LEIA TAMBÉM:
ESPECIAL MULHERES 2: ESPERMATOZOIDE VENCEDOR, MENINA A CAMINHO
ESPECIAL MULHERES 1 – COMO PRODUZIR MENINAS
ESPECIAL MULHERES 5: A MÃE DA MÃE DA MINHA MÃE
ESPECIAL MULHERES 4 – FINALMENTE MULHER! QUANTA RESPONSABILIDADE!!!
ESPECIAL MULHERES 3 – A PRINCESA NASCEU. E AGORA?
MEMÓRIA CELULAR E SEUS BENEFÍCIOS AO LONGO DA VIDA
A HUMANIDADE DENTRO DA HUMANIDADE
GLÂNDULAS: ESTRESSE, AUTOCONHECIMENTO E FELICIDADE
PROFESSORA DE FISIOLOGIA ESCREVE ROMANCES NA INTERNET
JUNHO VERMELHO E A IMPORTÂNCIA DE DOAR SANGUE
AMOR ONLINE: AS REDES SOCIAIS ALTERAM ESTE SENTIMENTO?
Quando comparadas com outras causas de infertilidade, as microdeleções do cromossomo Y são relativamente frequentes. O cromossomo Y é essencial para a determinação sexual masculina e, no seu braço longo, há regiões responsáveis pela espermatogênese.Essas regiões ao serem deletadas, por conter múltiplos genes essenciais para a espermatogênese, podem causar infertilidade masculina.
O uso de medicamentos também pode comprometer a fertilidade masculina. Algunsconhecidos são: a Sulfasalazina (tratamento de colite e artrite), a Cimetidina e Ranitidina (reduz a acidez estomacal), a Nitrofurantoina (antibiótico antigo); o Chumbo (presente em alguns remédios neurológicos); Espirolactona (diurético fraco); Colchicina e Alopurinol(tratamento da gota).
Há, ainda, medicamentos que podem levar à ejaculação retrógrada (o sêmen ao invés de sair pela uretra, retorna para a bexiga). São eles: os Alfabloqueadores utilizados no tratamento de doença da próstata e na hipertensão arterial, como Prazosim e Terazosin.
Exposição ocupacional a algumas toxinas também reduzem a taxa de fertilidade no homem, como contato com toxinas do meio ambiente, produtos químicos como os solventes e os pesticidas, alguns metais como o chumbo e o manganês e exposição ao calor em algumas profissões (o calor em excesso é nocivo aos espermatozoides). Os efeitos tóxicos geralmente são reversíveis assim que o contato com o produto é descontinuado.
Drogas ilícitas como:maconha, esteroidesanabolizantes e cocaína podem interferir nacapacidade de produzir espermatozoides (espermatogênese). Medicamentos anti-hipertensivos (como alguns diuréticos) podem prejudicar a ejaculação. O cigarro tem um efeito moderado, porém, negativo na espermatogênese e pode contribuir para a infertilidade. A exposição excessiva ao calor como o de banheiras quentes ou saunas pode diminuir a produção do esperma.
Até a imunidade pode comprometer a fertilidade do homem quando anticorpos anti-esperma atacam sem piedade os pobres espermatozoides. Doenças como lupus, artrite e tireoidite são exemplos.
Dependendo do tipo de quimioterápico e local da radioterapia, esses tratamentos podem prejudicar permanentemente a fertilidade masculina e, por isso, homens que não têm filhos devem ser alertados sobre o congelamento de sêmen ou biópsia testicular seguida de congelamento, como opções para a preservação da fertilidade antes de qualquer tratamento oncológico.
Agora é hora de falar sobre os exercícios físicos.Ajudam ou não na fertilidade do homem? Em demasia, diminuem a concentração dos espermatozoides e de testosterona, principalmente,se for realizado em alta intensidade. Alguns autores relatam uma diminuição de até 43% da motilidade e de formas imaturas. Os mesmos autores indicam que mais de 4 horas semanais de bicicleta também prejudica a qualidade do sêmen, por aumento da temperatura local. Conclusão: manter a área fresquinha assegura espermatozoides saudáveis.
Peso a mais, peso a menos….o ideal é sempre o meio termo, ou seja, manter o IMC entre 20 e 25, podendo ser aceitável até 30. Homens com IMC abaixo de 20 ou acima de 30 terão sua fertilidade prejudicada. Alguns estudos demonstram que homens com IMC maior do que 25 têm índice elevado de fragmentação do DNA do espermatozoide, o que pode levar à falha no processo de fertilização. A obesidade masculina pode gerar ainda alterações hormonais. Por sua vez, homens muito magros podem ter alternânciasna concentração, motilidade e morfologia dos espermatozoides.
Por último, problemas anatômicos ou funcionais que impeçam o adequado depósito do sêmen no interior da vagina através do coito, como ocorre, respectivamente, com a hipospadia (deformação congênita das vias urinárias, na qual a abertura da uretra se encontra na face inferior ou ventral do pênis).Problemas de ereção e a ejaculação precoce, podem igualmente favorecer a infertilidade masculina.
De acordo com a causa da infertilidade masculina, o médico indicará o tratamento adequado e o procedimento ideal para a resolução do problema. Para tudo tem solução e, mesmo que pareça complicado, buscar por ajuda é metade do caminho andado.
ELAINE FRANCESCONI
Bacharel em Zootecnia (UNESP Botucatu). Licenciatura em Biologia (Claretiano Campinas). Mestrado (USP Piracicaba) e doutorado (UNICAMP Campinas) em Fisiologia Humana. Professora Universitária e escritora