Essa coisa toda de politicamente correto é muito chata, embora concorde que certas pessoas e circunstâncias necessitavam de algum limite, principalmente com relação à cor de pele e excesso de peso. Piadinhas e frases terríveis sobre a abundância de gostosura são engraçadas apenas para quem as fala, para quem as ouve, abala a autoestima. Às vezes, de forma irreversível, levando as pessoas a atos extremos, distúrbios de imagem e/ou problemas psicológicos. Bebês fofinhos são lindos, mas adolescentes não, nem adulto, pois a mídia impõe um modelo de beleza impossível de alcançar por seres humanos normais. Hoje, chamar alguém de gordo é uma tremenda falta de educação. Mas, de ‘Plus Size’ pode. Coisas do politicamente correto…

Segundo a ABESO (Associação Brasileira Para o Estudo da Obesidade e Da Síndrome Metabólica), nos manter com IMC (Índice de Massa Corporal, calculada com a fórmula= peso/altura2) entre 18,5 e 24,9 é saudável e evita doenças crônicas como hipertensão arterial e diabetes, normalmente associadas ao excesso de peso. Só para ter uma ideia do quanto a mídia maltrata o ego feminino, preste atenção ao IMC de algumas mulheres famosas e referência de beleza atualmente:

– Gisele Bünchen 1.79 m/ peso 57 kg (IMC=17,8);
– Angelina Jolie 1,70 m/ peso 44.45 kg (IMC =15,3);
– Britney Spears 1,63 m/ peso 48 kg (IMC=18,1);
– Kate Moss 1.67 m/ peso 48 Kg (IMC= 17,2);
– Nicole Kidman 1.80 m/peso 54.55 Kg (IMC= 17,0);
– Charlize Theron 1.72 m/ peso 52.74 Kg (IMC 17,0).

Entre tantas outras, brasileiras ou não, belíssimas, mas segundo a ABESO, essas mulheres estão subnutridas.

Longe de ser minha intenção julgar o peso de alguém, mas a pressão inclemente que esse modelo de beleza atual impõe, leva, principalmente as mulheres, a recorrer a absolutamente “qualquer coisa” para emagrecer, desde dieta milagrosas, remédios revolucionários ou cirurgias modernas, que são verdadeiros venenos que provocam distúrbios fisiológicos, de forma lenta e gradual, quase imperceptíveis durante anos, mas que em algum momento cobrará seu preço.

Esse assunto me interessa sobremaneira, principalmente por que acompanhei durante os cinco anos de duração de meu doutorado na Unicamp, estudando o tecido adiposo de indivíduos que se submetiam à cirurgia de redução de estômago no Hospital das Clínicas dessa instituição.

Eu disse, anteriormente, que a pressão em ser magro induz principalmente mulheres a recorrer a qualquer tipo de tratamento, porque, 80% das pessoas que buscam o serviço de cirurgia no HC da Unicamp são mulheres, que dizem já ter usado vários métodos disponíveis para tentar perder peso.

Do meu ponto de vista, a cirurgia seria o último recurso para perda de peso, pois a vida daquele que se submete a ela, jamais será a mesma, mas para aquela pessoa que realmente necessita, é valiosa, ao adicionar anos à sua existência.

Sabe aquela frase: “Não como tudo que quero, mas engordo com tudo que como”? Resume muito bem a pessoa que realmente necessita da cirurgia, desde que ela seja sincera consigo mesma no quesito comida, ao responder perguntas simples como: quanto comi? Quando comi? O que comi?

A partir disto então, o médico considera a cirurgia para homens, mulheres e adolescentes entre 18 e 65 anos com IMC superior a 40 kg/m2, ou 35 kg/m2 com uma ou mais comorbidades associadas à obesidade, tais como diabetes, hipertensão, dislipidemias, entre outros.

A equipe que acompanhará esse paciente (no HC é assim, pois também é um centro de pesquisa, em clínicas particulares, esses profissionais são pagos à parte) é interdisciplinar, formada por endocrinologista, cirurgião bariátrico, nutricionista ou nutrólogo, psiquiatra ou psicólogo, anestesista, enfermeiro, assistente social e eventualmente outros (cardiologista, pneumologista, fisioterapeuta, odontologista).

A escolha da cirurgia é baseada em vários fatores, mas o mais importante é o quanto se deseja de perda de peso. As cirurgias são divididas em 3 grandes grupos: restritivas (diminui o tamanho do estômago), disabsortivas (diminuem a absorção de nutrientes no intestino) e mistas (uma combinação das duas anteriores).

Nas restritivas, a ideia é diminuir a capacidade do estômago em receber alimento, levando à sensação de saciedade mais depressa.


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CURIOSIDADES CURIOSAS


Para aqueles indivíduos que estão com um leve sobrepeso, ou obesidade declarada por IMC de até 30 kg/m2, ou ainda muito acima do peso para realizar cirurgia de redução de estômago (bariátrica ou gastroplastia), pode se beneficiar com o uso de uma banda gástrica ou um balão intragástrico, que poderá proporcionará perdas de até 15% do peso, mas o suficiente para atingir o objetivo. Apresenta baixa mortalidade (0,1%) e alguns efeitos colaterais desagradáveis como náuseas, refluxo, vômito, gases e cólica. Os preços variam em torno de R$ 8 mil reais, mas o mais importante é fazer com médicos recomendados.

A técnica cirúrgica mais utilizada atualmente, pelos excelentes resultados de perda peso, é a Derivação gástrica em Y-de-Roux, caracterizada pela criação de uma pequena câmara ou bolsa gástrica, excluindo o restante do estômago, inclusive as porções iniciais do intestino (duodeno e jejuno) e mais absortivas. Como efeito principal, leva à saciedade mais precoce, associada a efeitos causados pela reconstrução do trânsito intestinal. Proporciona perdas de até 70% do peso do indivíduo.

A variação de preço é grande e pode chegar a R$ 40 mil reais, dependendo do Estado brasileiro e equipe médica. A mortalidade é em torno de 0,5% e é a que mais altera o metabolismo, pois diminui drasticamente a absorção de elementos essenciais para os processos fisiológicos, tais como, vitaminas, minerais, especialmente o ferro, cálcio e vitamina D.

A partir da cirurgia, a vida desse indivíduo nunca mais será a mesma, pois terá que reaprender a comer devagar e muito, muito pouco. Deverá realizar acompanhamento com psicólogo, gastrocirurgião e endocrinologista, durante um período variável, e com o nutricionista para o resto da vida, pois terá que tomar suplemento vitamínico e mineral e realizar exames de sangue periódicos, até que parta daqui para algum lugar entre os anjos.

Os benefícios para aqueles que realmente necessitam são óbvios: maior controle do peso corporal, melhora das comorbidades (diabetes melito tipo 2, hipertensão arterial, função cardíaca, perfil lipídico, função respiratória) relacionadas à obesidade, do estado psicossocial e da qualidade de vida.

Melhora de doenças do sono, doença articular degenerativa, infecções, refluxo gastroesofágico, mobilidade, asma, síndrome dos ovários policísticos, infertilidade e complicações gestacionais, embora o risco de neonato com baixo peso ou prematuro seja maior em mulheres operadas, entre outros benefícios.

Mas o que muitos desconhecem é o lado B da operação, ou seja, as complicações decorrentes da cirurgia. As complicações pós-operatórias mais comuns são tromboembolismo pulmonar, deiscência da sutura (os pontos “abrem”), fístulas, infecções, hemorragia, hérnia interna e obstrução intestinal.

Nas técnicas disabsortivas há maior risco de se desenvolver diarreia com flatulência excessiva e desnutrição proteica, mas anemia ferropriva, deficiência de vitaminas e doenças osteometabólicas (metabolismo dos ossos) são comuns em ambas.

Nada disto, ou pouco disto, poderá ser evitado pelo médico ou paciente. São consequências da cirurgia e o modo como afeta dramaticamente o metabolismo. Agora, deve-se considerar a cirurgia como um marco na vida desse paciente, talvez marcar como AC (antes da cirurgia) e DC (depois da cirurgia).

Mas e se o paciente não seguir à risca a dieta, já que sabemos que, a maioria das pessoas que procuram essa forma de perder peso, hoje em dia, quer uma soluçãorápida e eficaz para sua falta de controle à mesa? Pode contar com tragédia à vista.

O estômago, com capacidade de até quatro litros de alimentos, agora está reduzido a míseros 50 ml, tamanho que atinge quando está vazio, ou seja, o operado passará o resto da vida com um estômago do tamanho de uma xícara de café, portanto a digestão também será afetada, nem tudo lhe será conveniente comer. Carnes por exemplo, será uma tremenda dor de cabeça, afinal a digestão de proteínas inicia no estômago.

Carboidratos também estão na lista dos mais indesejados, pois podem causar um fenômeno chamado “dumping” precoce ou tardio. No “dumping” precoce (10-30 minutos após a ingestão) ocorre taquicardia, diminuição abrupta da pressão arterial, mal estar, diarreia e náusea. No tardio (1h30 a 3h00), hipoglicemia severa, e posterior coma.

Além disso, após uma enorme perda de peso, cria-se um enorme ganho de pele flácida. A plástica pós cirurgia bariátrica é um complemento importante para se atingir o objetivo proposto: melhora da qualidade de vida e autoestima, pois o excesso de pele dificulta a locomoção e a higienização.

É encaminhado para o cirurgião plástico aquele paciente que atingiu o peso adequado e o manteve estável por 18 meses consecutivos sem grandes oscilações.


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Segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, a maioria dos cirurgiões plásticos que está habituada a fazer esse tipo de cirurgia plástica, elege o abdome como primeira cirurgia. A seguir, mamas, braços, coxas e face. Às vezes a ordem pode ser mudada de acordo com a vontade do paciente, desde que não contrarie a lógica.

As cirurgias associadas (por ex: mamas + abdome ou braços + coxas, etc.) devem ser feitas por um cirurgião muito experiente e, mesmo assim, não é regra geral, ele poderá optar por cirurgias isoladas para maior segurança.

Com relação à extensão do corpo a ser tratada por uma ou mais cirurgias, médicos confiáveis seguem as resoluções de segurança do Conselho Federal de Medicina e não ultrapassam mais do que 40% da superfície corporal.

Vale ressaltar que a cobertura do tratamento pelo SUS, apesar de demorado, é mais amplo que o particular, assegurando inclusive as cirurgias plásticas pós bariátrica, situação que muitas vezes requer bastante insistência para conseguir pelo plano de saúde.

O fato é, uns quilinhos a mais não vão te matar, o excesso exagerado de peso sim, se não hoje, em um futuro não muito distante, então é necessário preservar a saúde e levar as pequenas dobrinhas um pouco menos a sério, afinal, seria muita injustiça, além de ser linda, inteligente, divertida e charmosa, ainda ser magra!

 

GORDOELAINE FRANCESCONI

Bacharel em Zootecnia (UNESP Botucatu). Licenciatura em Biologia (Claretiano Campinas). Mestrado (USP Piracicaba) e doutorado (UNICAMP Campinas) em Fisiologia Humana. Professora Universitária e escritora