HILDA HILST: Poesias e peças que tratavam da morte, medo e erotismo

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No dia 4 de fevereiro de 2004, perdemos Hilda Hilst, poetisa, ficcionista, escritora e dramaturga. Nascida em Jaú, no interior de São Paulo, morava, há 39, na “Casa do Sol”, em Campinas. Ela iria completar 74 no dia 21 de abril desse ano. 

Hilda iniciou sua carreira literária aos 20 anos. Após outro tanto, escrevendo poesias, dedicou-se à criação de peças teatrais. No auge do governo militar, escreveu, entre 1967 a 1974, oito peças para teatro.

Logo depois, deu um adeus à literatura séria, mergulhou na temática de amor e erotismo, renovou a linguagem e desorganizou a estrutura poética antes usada. Isso ficou evidente nos poemas do livro Amavisse:

“De uma fome de afagos, tigres braços/ vêm se juntar a mim na noite oca/ e eu mesmo estilhaçada, prenhe de solidões/ tento voltar à luz que me foi dada”.

Nesse período, publicou: A obscena Senhora D; O Caderno Rosa de Lori Lamby(1990); Cartas de um Sedutor (1991); Bufólicas e do Desejo (1992). Em 1995, no último livro de poemas inéditos: Cantares do sem Nome e de Partidas, escreveu:

“Que esse amor não me cegue nem me siga/ e de mim mesma nunca se aperceba/que me exclua de estar sendo perseguida e do tormento”.

Na época, o professor de Teoria Literária da Unicamp, Alcir Pécora, assim se expressou sobre ela: “Seus escritos figuram entre o que de melhor se produziu na literatura brasileira de todos os tempos. Seus livros estão longe da pornografia banal e recolhem verdadeiras gemas  da matéria baixa como antes já fizeram, em Língua Portuguesa, autores excelentes como  Gregório de Matos, Bernardo Guimarães, Eça de Queiroz, Cassandra Rios, Clarice Lispector e outros.

Hilda Hilst usava, frequentemente, temas como a morte, o medo, o malogro:

“Nada ficou em mim/além de eu mesma/tênue vontade de poesia” e “Me mataria em março/ se não fosse a saudade de ti/ e a incerteza do descanso/ e se não fosse verão/ e se não fosse o medo da sombra/ e o medo da campa na escuridão/e o medo de que por sobre mim/surgissem plantas e enterrassem suas raízes em meus dedos”.

A escritora Lygia Fagundes Telles dedicou, em seu livro Durante Aquele Estranho Chá, às páginas 45 a 51, o capítulo “Da Amizade” à amiga Hilda, do qual extraímos alguns excertos: “Hilda é uma temperamental, ouvi alguém dizer. Mas o que significa isso? – perguntaria um moço da geração atual. Vamos lá, eis aí uma palavra que saiu da moda, mas que me parece insubstituível: na temperança estaria a qualidade que equilibra e modera os apetites e as paixões. Nessa linha, o temperamental não pode ser refreado. Um comedido pode se conter até certo ponto mas, de repente, abre as comportas e solta os cachorros! Poderá ser moderado alguém com uma obra tão flamante?  Pode ser temperado alguém que escreveu esses poemas na recente coletânea que se chama: Do Amor?”

Pergunto agora: “Qual o artista verdadeiro que não é temperamental?” O caso é que alguns, por defesa, disfarçam feito o meu gato diante da tigela de leite: ele afetava falta de apetite com aquele ar indiferente, meio distante, mas quando a gente ia ver, a tigela estava vazia até a última gota!”. E segue contanto como conheceu Hilda Hilst e algumas passagens ocorridas na Casa do Sol: “Discos voadores! Não me lembro mais de quem viu uma frota desses discos. Vozes de mortos captadas no rádio, ouvi, nitidamente, alguém me chamando, me chamando…ela dizia! E o projeto de formarmos uma comunidade quando chegasse o tempo da madureza – velhice”, atalhou Hilda.

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Em 2016, nosso amigo jornalista falecido, Picôco Bárbaro, que a visitou muitas vezes na Casa do Sol, fez-lhe uma homenagem em seu livro Viva a Vida, publicou uma foto do inesquecível Erazê Martinho com Hilda, detalhou a visita e publicou uma poesia extraída do livro Do Desejo.

Em 2018, foi homenageada pela FLIP ( Festa Literária Internacional de Parati); o livro Júbilo, Memória, Noviciado da Paixão (1974) foi o mais vendido nesse ano.

Amanhã, dia 24 de fevereiro, das 19 às 21 horas, por meio virtual, a Câmara Setorial de Literatura promoverá uma oficina sobre a vida e a obra de Hilda Hilst. Quem quiser participar deverá enviar e-mail para: gelcjundiai@gmail.com até meia hora antes do início para obter o link.(Foto: Éder Chiodetto/www.select.art.br)

JÚLIA FERNANDES HEIMANN

É escritora e poetisa. Tem 10 livros publicados. Pertence á Academia Jundiaiense de Letras, á Academia Feminina de Letras e Artes, ao Grêmio Cultural Prof Pedro Fávaro e á Academia Louveirense de Letras. Professora de Literatura no CRIJU.

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