20171101_104158A história e a arte das sepulturas do cemitério Nossa Senhora do Desterro, em Jundiaí, estão sendo mortas pelo tempo. Ano após ano, sem a devida manutenção, esculturas feitas em mármore de Carrara estão se deteriorando. O branco delas deu lugar para o cinza escuro, quase preto em alguns pontos. A parte mais antiga do cemitério é tombada pelo patrimônio histórico. Portanto, a Prefeitura deveria zelar pelos túmulos. A intenção da administração do Serviço Funerário é buscar parcerias para recuperar as obras. bom exemplo do descaso com este verdadeiro museu a céu aberto é a foto ao lado. A sepultura pertence à Baronesa de Jundiaí, Anna Joaquina do Prado Fonseca. Atrás do anjo é possível ver uma grande rachadura. A estátua está presa por um arame. Outras tantas principalmente as da família Queirós Teles, do Barão de Jundiaí, todas em mármore branco, precisam de um banho de jato de areia para retornar ao estado original. Aliás, a sepultura do Barão é conhecida como ‘Capela Dourada’ (abaixo). Anos atrás, ela ostentava uma cruz de ouro que foi furtada.

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Segundo Sílvio Ermani, diretor do Serviço Funerário, há cerca de 10 anos, as sepulturas da família do Barão passaram por manutenção. Naquela época, Sílvio também estava à frente do Serviço Funerário. “Fizemos uma parceria com o Museu Solar do Barão para recuperar estas peças. E vamos buscar uma nova parceria para cuidar das sepulturas”, assegurou.

História de Jundiaí – Andar pelas ruelas do Desterro é o mesmo que ter uma aula da história de Jundiaí. É estranho saber que nomes de praças, escolas e ruas um dia foram pessoas que, assim como nós, sofreram, riram, trabalharam e, enfim, morreram.

Passando pelo portão principal, do lado direito para quem entra, está o túmulo de Manoel Amaral Marcondes(abaixo). Ele foi prefeito de Jundiaí. No final da década de 30, ele fez uma reforma no Desterro. Acabou sendo assassinado e enterrado no próprio cemitério pouco tempo depois.

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Seguindo em frente, na direção da capelinha que quase foi demolida há cerca de 10 anos, existem três túmulos, cada um ornamentado por um Cristo. O do meio, pintado de branco, é o da sepultura do jornalista Tibúrcio Estevão Siqueira.

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Ainda nas proximidades do portão de entrada está a sepultura do Dr. Leonardo Cavalcanti. Ela realmente impressiona. A lenda diz que a moça que se debruçou sobre o caixão dele acabou morrendo de tristeza. Os funcionários mais antigos do cemitério do Desterro afirmam que isto não é verdade. Ela teria apenas desmaiado durante o velório. Ela era noiva de Cavalcanti.

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Os funcionários afirmam que existe um sem-fim de desconhecidos enterrados no Desterro. Não são os chamados ‘indigentes’. É que até o final do século 19 não se fazia o registro completo de quem morria. Se o sujeito se chamava ‘Pedro’ era assim que era enterrado. Não havia a preocupação de anotar o sobrenome, dados dos parentes, endereço e outras informações sobre o morto. Então, existem centenas de ‘Pedros’ no cemitério mais antigo de Jundiaí. A partir de 1920 é que os registros começaram a ser mais bem organizados, o que facilita imensamente a procura dos túmulos. Para se ter ideia, os funcionários afirmam que Petronilha Antunes, a fundadora de Jundiaí junto com Raphael de Oliveira, está enterrada no Deterro. O problema é localizar o túmulo.

Além da ‘realeza’ de Jundiaí, o Desterro guarda muitas autoridades. O prefeito Vasco Venchiarutti, famoso por ser o autor do projeto do Bolão, tem os seus restos mortais num túmulo aparentemente simples. Quem conhece, porém, afirma que o material utilizado é pedra e que seria mais caro que granito. Outro prefeito sepultado ali é Omayr Zomignani.

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Também há curiosidades como o túmulo de um escocês que trabalhava na estrada de ferro São Paulo Railway. Ele morreu aqui e aqui foi enterrado. Naquela época seria praticamente impossível levar o corpo para sua terra natal. A lápide tem inscrições em inglês.

Perto existem dois túmulos que mais parecem pequenas pirâmides. Ali estariam enterrados dois soldados que morreram em 1906, numa guerra no exterior. No cemitério, nenhum funcionário soube informar ao certo qual guerra em que eles tombaram. Nem o Google.

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No cemitério Nossa Senhora do Desterro também está sepultado o Monsenhor Arthur Ricci (abaixo).

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Os ‘santos’ de Jundiaí estão separados por algumas quadras. A sepultura de Maria Pólito está bem conservada. Tem muitas flores. Os parentes há tempos não aparecem ali. Nem se sabe se ainda existem familiares da moça assassinada com mais de 40 facadas e que teria começado a fazer milagres depois de morta. O túmulo é cuidado por funcionários já que Maria não vem sendo mais procurada pelos fiéis como antigamente.

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20171101_104748Para terminar, o túmulo do Dr. Domingos Anastásio, o médico italiano que atendia a população de graça. São tantas velas acesas todos os dias, em agradecimentos aos milagres concedidos, que é preciso apagá-las com baldes e mais baldes de água. Anastásio continua um ‘santo milagreiro”. Popular como sempre.

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