A história de JUNDIAÍ: por que é tão difícil um consenso?

Com relação à criação do povoado de Jundiaí, temos, ao menos, quatro versões diferentes. A primeira, divulgada por Azevedo Marques, é bastante romantizada e tem como base a vinda de Rafael de Oliveira e Petronilha Antunes para a região, pois eram fugitivos da polícia. A segunda, propagada pela revista Folha de São Paulo, toma como os fundadores Manoel Preto Jorge e Francisco Gaia e tem como base uma Carta de Data de 1657, na qual eles são referenciados como ‘os primeiros moradores que povoaram a região’. A terceira explicação também toma como base uma Carta de Data de 1657, João Leme do Prado afirma ter se casado com Ana Maria Ribeiro, filha de Rafael de Oliveira, que nesse documento é identificado como o primeiro povoador. Todas essas versões foram descritas por Miyoko Makino em sua dissertação de mestrado em 1981. Temos ainda, a tese de Fernando Ribeiro, 2016, que estudou o início dos povoados em nossa região e que afirma que Rafael de Oliveira, mesmo tendo trabalhado para a corte não conseguiu receber um pedaço de terra e foi para outras regiões tentar se fazer proprietário.

ENTENDA

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Se temos tantas versões para início do povoamento, por que se faz tão difícil saber como realmente nossa cidade começou? Uma das explicações se dá pelo fato de não haver, nos séculos passados, um sistema organizado de registro de acontecimentos como temos hoje. Encontrar alguém que sabia ler, escrever e ainda enquadrar um documento em modelo que pudesse ser reconhecido como oficial não era tarefa muito simples. Imaginando que talvez esse registro tivesse sido feito de maneira adequada, não é incomum que os documentos se percam no meio do caminho. Eles podem ter sido rasgados, jogados fora ou estarem perdidos sem que ninguém os tenha estudado ainda.

Quando temos os documentos, como no caso dos inúmeros livros de Atas, Cartas de Datas, Livros de Órfãos salvaguardados no Centro de Memória de Jundiaí, o número de pessoas capacitadas para ler esses documentos são ínfimas. Para desvendar os documentos de maneira correta, é necessária a formação em Paleografia e poucas são as pessoas que sabem disso, menor ainda é a quantidade de profissionais nessa área e quase inexistente é o número de cursos de formação.

Uma terceira explicação se relaciona com o trabalho árduo de um pesquisador. Em Jundiaí, temos grandes nomes, como Mario Mazzuia, Roberto Franco Bueno, Miyoko Makino entre tantos outros, que dedicaram uma parte ou a vida toda para entender como se deu nosso processo de estabelecimento. No entanto, o trabalho de um pesquisador íntegro é de formiguinha. Ele precisa ler muito, elucubrar hipóteses e explicações e principalmente, discutir seus achados com outros pesquisadores, para que vários pontos de vista possam ser observados, analisados e até mesmo contestados. Ou seja, atestar um acontecimento não se dá do dia para a noite.

Por fim, outro grande motivo para tantos desencontros entre as versões é a soma das duas razões anteriores: quando um pesquisador acha algum indício novo e a partir de então elabora uma nova hipótese, ele não pode simplesmente tomá-la como verdade. É necessário que o investigador encontre fontes que corroborem para seus achados, e como dito, achar essas fontes nem sempre é tarefa fácil. Caso ela seja encontrada, é necessário um estudo profundo do conteúdo para que então a notícia seja aceita como verdadeira.

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Em suma, é difícil chegar à uma data, pois, por vezes, não temos documentos, não temos pessoas aptas a ler o documento quando ele existe e quando encontramos os manuscritos e profissionais que conseguem desvendar o manuscrito, é necessário tempo para que as hipóteses sejam formuladas e discutidas de maneira correta.

Assim, para que as datas sobre a história de Jundiaí sejam definitivas, precisamos de mais pessoas qualificadas pesquisando, mais encontros promulgados pela Prefeitura Municipal, para que haja troca de informações entre os pesquisadores, mais incentivo para que a população se interesse pelo assunto e compreenda sua importância, pois como disse Marcus Garvey, “Um povo sem o conhecimento da sua história, origem e cultura é como uma árvore sem raízes.(Acervo pessoal).