Qual INDEPENDÊNCIA?

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Foto: Jaime Batista da Silva

Devo ser meio visionário ou devem-me faltar alguns neurônios, mas sempre me questiono sobre esta tal independência: qual independência? Do Brasil com Portugal? E do Brasil com o mundo atual, quanto somos independentes? Qual nosso grau de liberdade diante de países do primeiro mundo, diante dos quais tememos qualquer revanche? Como vemos nossa estabilidade econômica e cultural diante de grandes potências?

Muitas são as vezes em que nós mesmos nos colocamos como país carente e desinformado, em áreas onde detemos sabedoria e esbanjamos produtividade; por que isso acontece conosco? O que nos deixa tão vulneráveis e tão acanhados na relação internacional? O que precisamos perceber para que nossa autoestima se desenvolva e exerçamos nosso real posto, por merecimento?

Infelizmente independente não somos, porque não perdemos a abençoada mania de ver no exterior uma chance de fazer uma vida melhor. Ainda temos como modelo e meta a vida norte americana e, ainda sonhamos com a formação europeia, da mesma maneira que nossos antepassados, séculos antes. Talvez não percebamos que crescemos como nação e que já detemos saberes suficientes para um enfrentamento com soberania e engajamento diante de algumas áreas do conhecimento. Entretanto o que nos dificulta mudar de atitude?

Verificamos que em muitas das vezes nossa leitura de mundo nos aponta para um canto pequeno e improdutivo que apenas nos possibilita a subordinação e subserviência, sem possibilitar-nos deslocamentos sociais, culturais e produtivos e, acima de tudo, mantendo-nos instáveis e estáticos, sem chances para o salto de qualidade. E permanecemos vendo nossos projetos serem adotados e desenvolvidos por outros países de igual e até menor histórico de evolução.

Qual o problema, então, que cultivamos diante de nossas construções personais que não nos permite evoluir? Por que nos sentimos eternamente dependentes e imóveis? Qual complexo de inferioridade é este que se moldou a nós, como uma tatuagem de difícil remoção? Por que insistimos em não evoluir? Qual o medo nos atormenta que acreditamos nos outros mas não acreditamos em nosso potencia e sabedoria? Muitos já tentaram desenhar o caminho (ou será descaminho?) para romper este ciclo e, mais, muitos já indicaram e seguiram os outros rumos, porém, a nação como um todo, escorrega, patina, acovarda e não sai da dependência internacional.

O conformismo com que enfrentamos as relações exteriores é endêmico e assustador: o de fora sempre é melhor. Tratamos o estrangeiro com honras e pompas e não valorizamos o brasileiro; vemos evolução no Mundo e não percebemos nossa educação deslanchar e criar o novo. Que cultura é essa, com tantas cabeças pensantes brilhantes e produtivas que acaba se evadindo diante de tamanha inércia? Por que este mal nos acomete em todas as áreas do saber e da produção técnica?

Cada vez que me coloco pensando nisso, fico atônito e triste, sabedor que sou da potência de meu país. Vejo orientandos que saem em viagens e intercâmbios que retornam com propostas encantadoras, o que comprova suas capacidades; bem como noto o interesse de colegas do outro lado do Mundo por nossas propostas de trabalho e projetos de pesquisas, atestando nossa sapiência. Mas o que nos mantém imobilizados?

Voltar a discutir a aculturação recebida dos portugueses e não de outros povos, já se tornou bordão, mas hoje temos centenas e milhares de brasileiros em Portugal, pareando seus conhecimentos com a cultura europeia e fazendo frente a muitos grupos consolidados, testemunhando que nossos capazes e temos muito a ensinar. Mas por que não tomamos posse disso? Por que somos serviçais e não senhores deste saber?

Creio que traços de personalidade sejam responsáveis por tais posicionamentos, uma vez que tememos a exposição, a posição de destaque e a liberdade no mundo científico, mas o fato é que somos sobejamente desejados em grandes laboratórios e universidades do mundo. Nossa mão de obra em serviços de qualificação média e técnica é uma das melhores do mundo e nosso desempenho diante de desafios e movimentos complexos é muito bom. Por que insistimos em não avançar?

Não me sinto muito cômodo comemorando a independência, porque não me julgo livre, conforme pontuei acima. Penso, mesmo que falta algum detalhe para que meu país e meus conterrâneos e contemporâneos acreditem que somos livres e capazes; ainda temos pensamento provinciano e isso nos impele à dependência dos soberanos, em qualquer área do saber, ainda que tenhamos vasto comprometimento, enorme mobilidade e grande expertise para brilhar.

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O Brasil continua a criança em desenvolvimento. O Brasil continua a nação promissora de sempre. Diziam, no período do descobrimento que, aqui, em se plantando, tudo dá. Pois é, é um fato. O medo é que o tempo passe e a criança não atinja a maturidade suficiente para gritar sua própria independência e galgar o espaço que lhe compete há muito tempo. E mais, que os cidadãos mais lúcidos e afoitos escolham proclamar sua independência evadindo-se para onde venham a ser mais valorizados. Isso é bem provável.

Seria uma questão de personalidade? Seria uma questão de amadurecimento? Seria apenas por mais alguns poucos anos? Não tenho o poder de resposta e não consigo antever o tempo, mas sei que não somos independentes, isso eu sei. Inclusive, em nosso país, somos escravos de nós mesmos. Desta maneira, comemorar qual independência?

AFONSO ANTÔNIO MACHADO 

É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology. Aluno da FATI.

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