As crises também trazem oportunidades. A crise de abastecimento que vive o Brasil, por conta da greve dos caminhoneiros não pode passar em branco. Ela é uma grande oportunidade de impulsionar mudanças estruturais no sistema de transporte do país. Esse momento deixou evidente as vulnerabilidades e insustentabilidades do sistema atual.

Sem os caminhões rodando, na cidade de São Paulo a qualidade do ar ficou acima da média devido à queda de 50% nos níveis de poluição. Com isso, seis pessoas por dia deixaram de morrer por conta da poluição do ar, segundo estimativas do professor Paulo Saldiva, da Universidade de São Paulo. Em 2015, a poluição matou 101.739 pessoas no Brasil, o equivalente a 7,49% do total de mortes no país nesse período. A poluição do ar foi responsável pela maior parte dos óbitos (70.685).

O diesel é altamente poluente, sua queima é uma das principais fontes poluidoras dos centros urbanos brasileiros. O setor de transportes como um todo é o maior culpado pelas emissões de gases de efeito estufa, que agravam as mudanças climáticas nas grandes cidades brasileiras.

O transporte rodoviário no Brasil é o grande responsável pela maior parte dos fluxos de bens e pessoas. Isso ficou mais do que evidente nesse momento em que esses fluxos pararam devido a greve dos caminhoneiros. Não é segredo que a construção do sistema rodoviário foi priorizada para atrair empresas estrangeiras do setor automobilístico para o país.

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Só que já passou da hora desse sistema passar por mudanças, priorizando o transporte público a partir de energias renováveis, ciclovias e também o transporte ferroviário para transporte de carga e de pessoas. Um trem lança na atmosfera 10 vezes menos gás carbônico por tonelada do que um caminhão. Quantas vidas humanas isso significa? Além disso, a vida útil do trem é de 30 anos, enquanto a do caminhão é de 10 anos em média.Como uma das consequências disso, no Brasil, cerca de 450 mil toneladas de pneus são descartadas por ano. Eles demoram 600 anos para se decomporem na natureza e podem se tornar criadouros do mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, da zika e da Chikungunya.

Também não é segredo que há muitos interesses permeando a manutenção do sistema rodoviário como principal no país. Vivemos um momento propício para esse debate, em época de eleição. Mas será que esse é um tema na pauta dos presidenciáveis?


FABIANA BARBI
Socióloga, com mestrado, doutorado e pós-doutorado na área ambiental (Unicamp). Foi assessora de projetos no ICLEI – Governos Locais pela Sustentabilidade e professora de Gestão Ambiental na Unianchieta e Faculdades Anhanguera. É autora do livro “Mudanças Climáticas e Respostas Políticas nas Cidades” (Ed. Unicamp, 2015). Twitter @barbi_fabiana – www.facebook.com/fabi.barbi.3

 

CRÉDITOS:

Foto principal – www.portalmacauba.com.br

Foto pneus – meioambiente.culturamix.com

Foto congestionamento – rednitmanha.blogspot.com

Foto fumaça – dinamicarpneus.com.br