seloNas histórias dos jovens jundiaienses adotados por casais europeus e as famílias biológicas existem pessoas que são fundamentais para o reencontro. Liza Silva, que trabalha numa ONG holandesa que rastreia as famílias brasileiras é uma delas, assim como Quézea Regina Albolea Mastelaro. Ela era professora do Circolo Italiano e por seu intermédio duas irmãs adotadas puderam achar seus parentes brasileiros. Neta de italianos por parte de mãe, Quézea participou ativamente do reencontro de uma família. E viu um outro bem de perto. No caso em que esteve presente, dramas íntimos, mágoas e angústias foram revelados nos dois idiomas. Quézea foi a intérprete de sofrimentos guardados por 20 anos.

A professora morou na Itália por dois anos, de 1994 a 1996. Quando voltou foi convidada para dar aula, na Litteris, que nem existe mais. “Pensei que seria algo provisório. Acabei me apaixonando pelo ensino e faço isto há 21 anos. No Circolo, fui professora de 2003 a 2006. Já de 2014 a 2016 fui coordenadora”. A professora tomou conhecimento dos casos, na década de 1990, quando fazia faculdade de Direito. “Lia as notícias e havia comentários durante o curso”, explicou. Neste ano, Quézea(foto abaixo) e o marido foram para a Itália e ficaram lá de abril a julho. E naquele país, o casal não ouviu nenhum comentário ou viu alguma reportagem que remetessem aos casos das adoções ocorridas em Jundiaí.

INTERPRETE 3
A internet é a ferramenta preferida pelos jovens adotados para procurar os parentes do outro lado do oceano Atlântico. “Como eu era coordenadora, gerenciava a página do Circolo no Facebook. Um dia a Amanda entrou em contato comigo, pedindo ajuda para achar a mãe biológica, a Silvana. O namorado dela, na época, conseguiu alguns dados sobre a Silvana, porque era fazia parte do programa Bolsa-Família”, lembrou. Quézea cita também  o trabalho de uma jovem que também procurava uma parente adotada por estrangeiros. Através de um grupo no Facebook ela auxiliou o jovem Lucas a achar seus parentes em Jundiaí (veja links dos dois casos abaixo).

BORBOLETAS E LÍRIOS NO REENCONTRO DE MÃE E FILHAS

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O encontro das jovens que hoje vivem na Itália e a mãe ocorreu na comunidade do Parque Centenário, onde a mulher vive. E se Quézea não estivesse presente, a comunicação entre a mulher e as filhas seria quase que impossível. “No caso da Amanda foi necessário porque ela não falava português. A irmã mais velha lembrava muito pouco. Elas não conheciam a cidade. Então eu as acompanhei como intérprete e as levei em todos os lugares que elas precisaram”, disse.

Mas para chegar até o Parque Centenário, Quézea e as irmãs viveram uma aventura. Um funcionário da Prefeitura, Fred Zanatta, ajudou na busca à mãe delas. “Uma das jovens tinha pedido ajuda pelo Facebook e alguém respondeu em italiano. Era o Fred. Ele conseguiu encontrar o endereço da Silvana e todos nós fomos até lá. Quando chegamos na frente de uma casa onde havia uma mulher sentada na calçada, uma das irmãs reconheceu a mãe de longe. Ela saiu correndo do carro e foi abraçá-la. A mulher ficou um pouco passada, demorou para entender o que acontecia e chegou a passar mal. Depois, aos poucos, foi se recuperando. Elas conversaram, conheceram o irmãozinho mais novo, choraram muito. Foi tudo muito rápido. Não consegui nem tirar fotos”, recorda.

Depois, mãe e filhas combinaram um novo reencontro, no dia seguinte, no Circolo Italiano. Foi ali que ocorreu a gravação da entrevista que foi ao ar pela TVE de Jundiaí. A professora fez este trabalho de forma voluntária, não recebendo nada para ajudar neste reencontro. “As moças tinham muitas questões mal resolvidas e queriam respostas até para se conhecer melhor. Uma delas fez uma pergunta bem dura para a mãe”, informou a professora. É óbvio que Quézea não revelou qual foi a indagação da moça. São coisas que só mãe e filhas podem saber e tentar resolver. Em italiano, em português ou com ensurdecedor e doloroso silêncio…


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