Há um grande esforço em andamento para criar a sensação de que o Brasil entrou em crise. E parte deste esforço está em tentar demonstrar que o presidente Michel Temer, o ex-deputado Eduardo Cunha e seus aliados do PSDB, em particular o senador Aécio Neves, são os grandes responsáveis por esse cenário medonho e sem precedentes.

É óbvio que o Brasil está em crise!

Essa crise, porém, se arrasta há mais de 10 anos. O que acontece hoje nada mais é do que o prolongamento, a sequência natural de um período dantesco da história recente de nossa pobre República, e que começou ainda no governo do presidente Luiz Inácio, logo depois de eclodir o primeiro maior escândalo de corrupção da história do Brasil: o Mensalão!

Foi ali, na pressão para recuperar a imagem de seu governo, atolado na lama pelo primeiro escândalo, e na tentativa desesperada de se reeleger que Luiz Inácio lançou as bases que levariam o Brasil exatamente à situação que se encontra hoje: um misto de pornochanchada de república de bananas, com cataclismo econômico terceiro mundista.

Os mais atentos já sabem: Não foi o atual presidente quem começou o escândalo. Muito menos o senador Aécio Neves, embora atolado até o pescoço com gravações mais do que duvidosas. Por um motivo bem simples: Aécio Neves perdeu a eleição em 2014.

O Brasil acumula um número monstruoso de desempregados. Praticamente 13,6% da população economicamente ativa está sem trabalho. São 14 milhões de brasileiros sem trabalho. Ao mesmo tempo, a decadência moral está cada vez mais evidente no comportamento das principais instituições que deveriam conduzir o país neste mar turbulento.

A ternura do sr. Procurador Geral da República com os irmãos Batista, responsáveis pelo grupo JBS e pivôs da recente tormenta, por exemplo, não desceu bem pela garganta da grande maioria dos brasileiros, ainda irritados com o dinheiro dos seus impostos sendo drenados para esta (e outras empresas) através de créditos do BNDES. E, como se sabe, não foram Temer nem Aécio Neves os responsáveis pelos critérios dos empréstimos generosos.

O fato é que, no pacote de delações realizadas pelos irmãos Joesley e Wesley Batista, todo foco está concentrado no atual governo. Os US$ 150 milhões destinados pelos irmãos aos ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff, a dupla que efetivamente presenteou suas empresas com os empréstimos generosos do BNDES, CEF entre outros bancos estatais, quase não são mencionados pela grande imprensa. Também não estão em destaque na investigação conduzida pela PGR, o que demonstra um curioso senso de urgência do dr. Procurador.

Ao mesmo tempo, como parte da invenção bem orquestrada, partidos de esquerda puxados pelo PT, centrais sindicais e outros congêneres estão mobilizadas para fazer barulho exigindo a realização de eleições diretas. Um ritual mão na roda para o ex-presidente Lula, em vias de ser julgado pelo juiz Sérgio Moro, com garante risco de sofrer uma condenação em segunda instância a tempo de bloquear sua candidatura em 2018.

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Isso tudo acontecendo num momento em que reformas importantes avançavam no Congresso e importantes resultados econômicos vinham sendo anunciados. Em especial a reforma trabalhista, que poria um fim no famigerado imposto sindical. Exatamente o que empurra sindicatos e centrais sindicais para as ruas. O Brasil patina. Escorrega em indefinições e num festival de incoerências que vem tomando conta do noticiário.

Enquanto isso, um batalhão infindável de jornalistas, juristas, paraquedistas e outros istas de plantão se esforçam para nos fazer acreditar que Michel Temer, o PMDB e Aécio Neves, são os grandes vilões da história. Ele mesmo e sua gangue, os responsáveis pela crise que se arrasta lentamente nos últimos 10 anos. Ele mesmo e sua quadrilha, responsáveis pelos dois maiores escândalos da história da nossa República: o Mensalão e o Petrolão.

Não fosse o pequeno detalhe: nem Michel Temer nem Aécio Neves estavam no comando do país nos últimos 10 anos. O que só torna o Brasil um país ainda mais bizarro. O único no mundo onde um governo favorece empresas e estimula desvios de dinheiro de estatais com base em propinas pagas para o líder da oposição. É ridículo isso. (foto acima: www.saberatualizado.com.br)

 

INVENÇÃORONALDO TRENTINI

Jornalista e escritor. Com passagens pelo Jornal de Jundiaí, Jornal da Cidade, Jornal O Tempo e A Tribuna de Jundiaí. Foi secretário de Comunicação na Prefeitura de Jundiaí. Escritor independente, é autor da série Mistério & Sombra, disponível na Amazon.com.br, entre outros livros.