JUSTO, JUSTÍSSIMO. Mas quem vai fazer o quê. E quando?

justo

Muito séria a situação quando todos reclamam do fechamento de atividades consideradas não essenciais. Evidente e justo que se faça gritaria, que cada um dos comerciantes e proprietários de pequenas empresas proteste, fale mal e lute pela sua sobrevivência. Justo, justíssimo. Mas quem vai gritar para o povo usar máscara? Quem vai gritar para o povo se conter dentro de casa, sem comemorações em bares e clubes?

De uma sabedoria ímpar perceber que o Estado de São Paulo está destruído e com sua arrecadação comprometida; igual conhecimento deve ser estendido ao país, à beira de um colapso na saúde e na economia. Entretanto, quem vai falar ao presidente que ele atrasou no pedido das formalizações para conseguir mais e melhores vacinas para o país? Quem vai dizer ao líder do negacionismo que perdemos o trem da história do Mundo?

Também entendo que lugar de criança é na escola. Que a educação formal é muito mais consistente e adequada no início da escolaridade e que os pais estão preocupados com a formação de seus anjinhos. Mas quem vai pedir para os educadores entrarem na lista de vacinados, prioritariamente? Quem vai convencer os governantes que os professores precisam imunizados, antes de serem contaminados pelos seus alunos?

São três exemplos de lógicas que podemos entender como “lógica perversa”, uma vez que ambos desembocam na porta das UTIs, que já estão comprometidas. Apesar dos negacionistas dizerem que elas sempre estiverem lotadas, agora elas estão abarrotadas de pessoas necessitando de cuidados especializados e lutando pela sua vida contra um vírus desconhecido e com mutações. Esta lógica perversa funciona como um tiro nos pés a cada proposta burlada.

A situação só consegue ficar pior quando vemos que a polícia é acionada, chega, para a festa, fecha o boteco, mas todos seguem impunes, diferente daquilo que acontece na Europa, onde a multa é alta e o pagamento implica na perda, além do dinheiro, de algumas licenciosidades. Nós continuamos a sonhar com o Armagedon, com a espaçonave que descerá suavemente e nos conduzirá para outro espaço e tempo, mesmo que não sejamos merecedores.

É cansativo falar de conduta, quando nem todos estão preocupados com suas condutas: continuam se aglomerando em grupelhos de quatro ou cinco. Continuam suas escapadelas semanais; continuam seus agitos “na encolha”, mas sentem-se na necessidade de choramingar por mais liberdade e por mais velocidade na mudança da política sanitarista. Acham que isto é justo, justíssimo. Para eles, é claro. Como mudar se o vírus está ai, destruindo tudo o que sobra em sua frente e mais: sendo levado para dentro das casas por aqueles que acreditam estar em segurança nas casas dos conhecidos, que visitam seus outros conhecidos e, estes, vieram de visitas a outros conhecidos?

No jogo de xadrez em que não somos nem rei e nem rainha, nem bispo tão pouco torre, fazemos o papel de peão e devemos zelar para que nossas peças principais não sejam atacadas. Mas quem está preocupado com isso? Quem está se lixando pelo outro? Próximo? Próximo de quem? A quem interessa o próximo? A enjoada palavra empatia até já deixou de ser dita, porque não colou. Não fez muito sucesso. Não sobreviveu à pieguice do discurso sem prática.

Tudo beirando a um total “salve-se quem puder”. Que seja justo, justíssimo para mim e para os meus. Não chegando em mim, continuo minha Vida e quando chegar, verei o que fazer (mesmo sem ter o que fazer), num momento em que se percebe que o tal coronavírus não tem preferências entre homens ou mulheres, brancos ou negros ou amarelos ou vermelhos ou marrons, heteros ou homo ou cis ou trans ou seja lá o que mais, crianças ou adolescentes ou adultos ou idosos: ele é escolhido pelo cliente que mais o procura. Ele, o coronavírus, não escolhe. Ele é escolhido.

Assusta muito ver a pessoa ir a festa, à chácara, à praia, á balada e dizer que foi só com um grupinho de amigos cuidadosos, porém tem medo de ir ao ambulatório ou à missa ou ao dentista. Como se o vírus escolhesse a atividade e o local: não. Ele não tem preferência. De certa forma, o coronavírus, dentro de sua lógica, também é justo, justíssimo.

Daí, olhando de fora, vemos que o Mundo começa a ficar chato, porque as pessoas estão chatas. Elas estão divididas em dois grupos, que se estranham e se manifestam em ocasiões específicas. Até se entendem, quando não é necessário analisar mais criticamente uma questão lógica, de ciência aplicada e de preservação da Vida. Caso contrário, estão sempre armados e sempre prontos para os insultos, ofensas e perda de raciocínio lógico.

Enquanto os adeptos à gratitude entendem que acordar e só orar a Deus e falar ao menos 777 vezes (porque sete é um número que acreditam ser enigmático e cheio de mistérios) a palavras gratidão os coloca como melhores seres do planeta Terra, salvos por um compromisso espiritualizado. Já os que creem na ciência vomitam fórmulas e planilhas estatísticas (mesmo sem saber, sequer, o que é estatística) dizendo que na Alemanha um cientista disse que na Holanda uma pesquisadora descobriu que no Canadá um médico inventou algo que combate o vírus.

E, sem qualquer fundamento, seguem suas vidas, pregando suas verdades e se aglomerando. Às vezes, ambos pedem aos seus deuses ou orixás ou entidades ou seres superiores pela sua salvação. E esquecem que não se salvam sozinhos. Jamais. A salvação, neste caso. Virá de um coletivo liderado por alguém capacitado – alguém justo, justíssimo – com boa interação social e poder de persuasão, para conseguir colocar cada um em sua jaula e esperar o bicho passar.

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Sim, jaula, pois é que aparece, quando se ouve as queixas de não aguentar mais o quarto ou a sala ou a cozinha. Jaulas, pois não oferecem prazeres. Triste espaço destes tristes homens. Está difícil? Sim está. E o muito difícil sem lógica se transforma no impossível, o que se torna, assim, intransponível. Quero crer no possível e no transponível, para poder superar tanta ansiedade e aflição, o que ainda é difícil, mas mais inteligente e cabível, diante do que temos como recursos psicológicos.

Sem política de uma saúde pública decente, sem líder inteligente, sem vacina e sem boa vontade da população embestada só nos resta lamentar. Mas percebo que o sol nasce bem bonito antes das seis da manhã, que sempre tem uma brisa que ameniza a temperatura, que a chuva tem regado os jardins e mananciais, que meus amigos estão sadios. Eu estou sadio. Ai, paro e pergunto: não será momento de agradecer, ao invés de maldizer tanto? Acho justo, justíssimo…(Foto: Pedro Guerreiro/Ag. Pará/Fotos Públicas)

AFONSO ANTÔNIO MACHADO 

É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology. Aluno da FATI.

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