Há 40 anos, o mundo entrava numa das décadas mais importantes para a música. Os anos 80 foram inesquecíveis. E mexe com a imaginação até de quem nasceu depois. Isto se deve à produção cultural da época. E a música foi, sem dúvida, o grande destaque. O rock brasileiro voltou com tudo. Surgiram cantores e bandas que fazem sucesso até hoje. Os gaúchos Kleiton & Kledir saíram dos pampas feito um foguete e tomaram conta daquele Brasil que torcia para o fim da ditadura militar. O Jundiaí Agora conversou com Kleiton Ramil(de óculos nas fotos). Ele falou sobre os anos 80, sobre a carreira e como anda o trabalho com o irmão:

Como surgiu a dupla?

A dupla surgiu quando Kledir nasceu. Somos irmão, fomos criados juntos. Profissionalmente a dupla foi lançada em 1980 com o primeiro disco Kleiton & Kledir, mas nossa primeira apresentação em duo foi cantando a música Maria Fumaça(clipe abaixo), em São Paulo no festival da extinta TV Tupi. Mas como falei, a dupla já estava formada desde nossa infância. Só depois nos demos conta.

Numa época em que não se falava de globalização, internet não existia, Kleiton & Kledir emplacaram sucessos falando do Rio Grande do Sul sem tirar o sotaque, inclusive. Como conseguiram esta proeza?

Foi uma vida inteira dedicada a música até atingir o reconhecimento nacional. Somos artistas que foram sendo lapidados aos poucos, nos festivais de música, participando de eventos, aprendendo com o Almôndegas, nosso primeiro grupo e finalmente trabalhando em duo. Acredito que além do talento para música (somos de uma família musical) houve sempre muita dedicação e persistência devido ao amor que tínhamos pela música. Somos os dois engenheiros diplomados, mas a arte falou mais alto.

A dupla teve a música ‘Nem Pensar’ escolhida como tema de abertura de novela. Neste momento, o sucesso foi consolidado?

Uma música como tema de novela é a “cereja do bolo”. Quando você chega lá é porque já trilhou um longo caminho.

Quantos anos ficaram na estrada?

A dupla começou em 1980. Mas estivemos 10 anos separados (de 1987 a 1997). E antes disso teve o período da primeira banda, quatro discos gravados, e antes disso…

Por que se separaram?

Depois de muito tempo junto foi necessário uma pausa para tomar fôlego. Tiramos umas férias, um pouco longas, mas foi positiva para nosso crescimento interior e artístico.

Quando e por que decidiram se reunir novamente? Como está sendo esta experiência? 

O nosso som de hoje é a continuidade do que falamos antes, primeiro com o Almôndegas e depois na primeira fase de Kleiton & Kledir. Música popular, conectada ao sul do Brasil e com o resto do mundo agora e sempre. O leitor pode ver um vasto material no www.kleitonekledir.com.br

 Hoje, quando olha para trás, como analisam os anos 80?

Foi um período fértil para a música brasileira, e ficamos felizes de ter sido ali nosso começo. Não havia internet nem celulares, mas a cultura era efervescente e nós chegamos no centro do país com bastante experiência para fazer as coisas certas.

Para a economia foi a década perdida. E para a música?

Ironicamente, naquele período difícil, a música manteve-se firme. Parece ilógico, mas a arte popular em geral tem tanto poder que consegue se sustentar até nas piores situações sociais. Veja a música que vem “do morro”, no Rio de Janeiro, por exemplo. É o poder acima dos desmandos.

Ouvem rádio? Já perceberam que de 5 músicas tocadas, pelo menos três são dos anos 80(sejam internacionais ou nacionais). Aquela década será sempre ‘infindável’? Por quê?

Fico feliz em saber disso, pois realmente amo a produção musical dessa época. Não gosto da expressão “bom era naquele tempo”. Acho que temos que fazer fica bom agora. Hoje! Mas sem dúvida há períodos na história em que a qualidade das criações são superlativas. Por quê? Acho difícil responder.

Afinal, o que pode explicar o surgimento de tantas músicas, bandas, cantores de qualidade num espaço de tempo tão curto?

Acredito que muito de nossas vidas são situações aleatórias, imponderáveis. E em vários momentos do passado, e hoje em dia, sempre há muitos artistas talentosos. Das vezes depende da maneira como a sociedade se organiza, dos interesses dos grupos econômicos, para que eles venham vou não a tona, que façam sucesso. Sou criador e dirijo O Sul em Cima, um programa de rádio que faz sucesso há muitos anos e é transmitido em dezenas de cidades (www.osulemcima.com). Percebo que não falta gente talentosa nesse país, mas os veículos de comunicação nem sempre estão interessados.

Qual o fato mais importante que Kleiton & Kledir viveram nos anos 80?

Há muitos fatos importantes em nossa carreira. Eu diria que cada dia é preciso tomar a decisão acertada para prosseguir, ou  todo mês, ou todo ano. Viver cultura é um desafio constante e maravilhoso. É preciso gostar de correr riscos. Pode ser as vezes assustador, mas a liberdade é o bem maior que uma pessoa pode ter.

Como é saber que fizeram parte de um dos movimentos mais importantes da música brasileira?

Dá muito orgulho e é um privilégio. Temos muitos amigos de enorme talento que não tiveram o reconhecimento que mereciam. Mas o fato de Kleiton & Kledir ter chegado tão longe, dois guris que nasceram perto da fronteira do sul do Brasil, e ganharam o mundo, acredito que também seja uma recompensa para todo um grupo de nossa geração que conjuga o mesmo sotaque cultural.

Tinham noção disto na época?

Sim. Foi possível perceber quando rompemos a barreira do “anonimato”. Antes, no período pré Kleiton & Kledir, tudo era conseguido com muito esforço e dificuldade. Vivemos muito tempo com muito pouco, numa luta ensandecida para provar que tínhamos algo a dizer. Quando chegou o reconhecimento as portas se abriram para nossa música, nossas palavras, nossas reflexões. E claro, muito trabalho positivo. Lembro de um período em que fazíamos mais de 140 shows por ano, uma média de um show a cada dois dias. Isso na prática era uma prova de que tínhamos conquistado algo!

Poderiam ter feito algo diferente naquela época? Arrependem-se de algo?

Fizemos muito mas gostaríamos de ter feito mais. Tentamos excursões de shows na América Latina (muito difícil na época), gostaríamos de ter intensificado nossa carreira internacional, de ter ajudado mais os novos artistas,  mas as vezes torna-se humanamente impossível fazer tudo que se gostaria.Vamos em frente! (Fotos Rodrigo Lopes/Entrevista originalmente publicada em abril de 2019).

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