Aos 94 anos, o professor Paulo Geraldo Bevilacqua deve ser um dos poucos – talvez o único – que sabe Latim em Jundiaí. Tanto que chegou a dar aulas para padres. Para quem não sabe, o Latim é uma língua morta, ou seja, não é mais usada. O Vaticano a tem como idioma oficial. Isto não quer dizer que não seja mais importante. Dele surgiram o Português, Espanhol, Francês, Italiano e até o Romeno. A entrevista com Bevilacqua, que ainda leciona:
Há quanto tempo o senhor é professor?
Sou professor desde 1951. Saí do seminário em 50 e já naquele ano, comecei a faculdade de letras neolatinas na PUC de Campinas e em 51 comecei dar aulas no Anchieta do professor Pedro Clarismundo Fornari que me acolheu como um verdadeiro irmão mais velho, no prédio da rua do Rosário onde hoje é um hotel. Eu dava aulas de Latim e Português até 1955 quando fiz concurso para professor efetivo de Latim. Aprovado, lecionei esta matéria no ginásio (ensino fundamental) e no clássico (ensino médio) em outras cidades do interior de São Paulo e voltei a Jundiaí em 1970 para o renomado Instituto de Educação. Em 1972, o Unianchieta abriu a faculdade de Letras onde leciono até hoje ministrando minicursos de Língua Latina.
Qual a(s) sua(s) disciplina(s)?
A maioria de minhas aulas ministradas nas escolas foram de Latim, Português e Francês. Na faculdade de Letras ministrei os cursos de Latim e Literatura Latina, História da Língua Portuguesa e Linguística Diacrônica.
Quais os idiomas que o senhor fala?
O Francês é minha segunda língua. Também falo um pouco de Italiano e Espanhol.
Como o Latim surgiu na sua vida? Na época, gostava ou se viu obrigado a aprender?
Naquele tempo o Latim era obrigatório no seminário. Sempre gostei. Ainda hoje procuro sempre ler algo, como a Bíblia. e fazer traduções. Alguns anos atrás traduzi histórias da Obra “Metamorfoses” do Poeta Ovídio para uma linguagem mais acessível aos dias de hoje e publiquei o livro com o título “O Melhor do Poeta Ovídio”(acima). Neste ano de 2020 terminei a tradução de um livro de Santo Ambrósio de Milão sobre a Vinha de Nabot, mas ainda não o transformei em livro.
Comparado aos idiomas contemporâneos, é uma língua fácil de aprender?
Não, não é língua fácil. Ela exige muito raciocínio.
Houve um tempo que o latim era ensinado nas escolas. Acha que isto deveria voltar a acontecer?
Não acho que o latim deva voltar a ser lecionado no ensino básico e médio, mas sim nas faculdades de Letras, como matéria obrigatória.
Dos idiomas que nasceram do latim, qual é o que mais se aproxima dele?
É o italiano. Por exemplo: aqua(latim) se tornou acqua em Italiano, água em português e espanhol, e eau em francês.
O Português falado no Brasil maltrata muito o latim?
Não, acho que não. Na realidade, nós maltratamos é o próprio Português.
Além do senhor, tirando os padres, há muita gente que sabe falar Latim em Jundiaí?
Falar mesmo nem eu falo Latim. Alguns sabem ler, poucos, mesmo os padres.
Aliás, os padres precisam aprender ainda? As missas não são mais em latim há décadas, não é?
É isso mesmo, não são. No propedêutico alguns ainda aprendem. As aulas dos cursos do seminário em Roma eram em Latim, não sei se são até hoje.
Acha que as missas ajudavam a aumentar o interesse por esta língua?
Não acho que este idioma na Igreja despertava o interesse pela língua. Na língua do povo, sem dúvidas, há maior participação dos fiéis.
Dá aulas desse idioma?
Ainda posso dar aulas de Latim. Alguns padres e estudantes de Letras se interessaram em ter aulas. Também dei aulas de latim na Faculdade de Direito (Latim Jurídico) que despertou o interesse de muitos alunos, então acho que estudantes de direito também possam se interessar, inclusive elaborei uma cartilha específica para o Latim Jurídico. Minhas aulas são presenciais e podem usar este e-mail para entrar em contato: brunosora@hotmail.com.
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