IMAGEMLidineia da Silva Santos tinha cinco anos e já estava acostumada a vender balas com os três irmãos e também com a mãe, Rose. Em 1996, a mulher não pode sair de casa. Ficou cuidando da caçula da família que estava doente. Os irmãos decidiram vir para Jundiaí. No centro da cidade, foram apreendidas por agentes da Vara da Infância e da Juventude. Lidineia foi para a adoção. A família acredita que ela deve morar na Itália. Os casal que a adotou teria mudado o nome da menina para Edneia. Nestes 21 anos, entre uma mudança e outra, perderam as poucas e velhas fotografias da menina. Rose teve mais uma filha, hoje com 15 anos, que ganhou o nome de Edneia. De Lidineia sobrou apenas uma foto cuja imagem está desfocada, embaçada. É o único registro de que a menina pertenceu à família que, como todas as outras que tiveram crianças retiradas pela Justiça e adotadas por casais estrangeiros, os parentes de Lidineia também se confortam com a possibilidade do reencontro (foto acima).

Sidneia da Silva Santos, 31 anos, é irmã da garotinha apreendida em Jundiaí. “A gente nunca tinha ido para esta cidade. Morávamos em São Paulo. Vendíamos balas para ajudar nossa família que era muito humilde. Na maioria das vezes minha mãe estava conosco. Naquele dia, ele teve de ficar cuidado da menorzinha, que é especial”, lembrou. E os quatro irmãos embarcaram num trem na Estação da Luz e seguiram para a cidade desconhecida. Desembarcaram na estação, na vila Arens, e seguiram até o centro com seus pacotinhos de bala, oferecendo doces para todos.

Não demorou muito e o pessoal da Vara da Infância aparecer. “Disseram que não poderíamos estar sozinhas vendendo balas e nos levaram para o Fórum onde ficamos por umas duas horas”.

Sidneia conta que Lidneia estava desesperada. “Ela gritava muito, chamava a minha mãe a todo instante. Quando vimos que ela foi separada da gente, sabíamos que ela não voltaria para casa conosco. Nós começamos a chorar também e imploramos para que deixassem a Lidneia vir com a gente”, afirma.

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Sidneia: “no Fórum de Jundiaí, quando tiraram ela da gente começamos a chorar e implorar”

Os três irmãos foram liberados. Menos Lidineia. Ela nunca mais foi vista. “Voltamos sozinhas para São Paulo”, lembra Sidneia. As outras ficaram três dias rodando por São Paulo antes retornarem para casa. “Dormimos na Estação da Luz, fomos ajudados pelas pessoas que passavam por lá”, contou Sidneia.

Quando retornaram para casa, a mãe estava desesperada pelo sumiço dos filhos. E ficou mais ainda quando soube que Lidineia tinha ficado no Fórum de Jundiaí. “Minha mãe tentou recuperar a Lidineia. Mas diziam que ela já tinha ido para Itália”, contou Sidneia. Rose passou a fazer parte do movimento das Mães da Praça do Fórum, que ganhou repercussão nacional. Mas nada adiantou.


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Nestas duas décadas, o marido de Rose morreu e ela ficou doente. “O sonho dela é rever a Lidneia”, explica. Já Sidneia acredita que a irmã, onde estiver, ainda se lembra da família. “Se ela vir uma foto, com certeza vai recordar da gente. Nós éramos muito apegados.