Não vai mais usar? Quebrou? Não serve mais? Joga fora! O problema é que não existe “fora”, quando pensamos no nosso planeta. Jogamos aqui dentro mesmo. Com o crescimento do consumo, a pilha de lixo só aumenta. O Brasil é o quarto maior país em geração de resíduos sólidos, em torno de 78 milhões de toneladas por ano. Jundiaí está um pouco abaixo da média nacional de produção de resíduos sólidos. Ainda assim, no final de um mês, cada jundiaiense gera 28,5kg de resíduos sólidos.
Sempre que colocamos o lixo na rua ele desaparece pouco tempo depois, como num passe de mágica. Mas o que acontece com o lixo depois que ele vai embora da frente da nossa casa? Metade dos municípios brasileiros depositam seus resíduos sólidos em lixões a céu aberto, sem tratamento nenhum. Apenas 27,5% dos municípios utilizam aterros sanitários, com tratamento adequado. Os outros 22,5% depositam seus resíduos em aterros controlados, uma categoria intermediária entre o lixão e o aterro sanitário, geralmente uma célula próxima ao lixão, que foi remediada.
Nem todo município tem seu próprio aterro. É o caso de Jundiaí, que destina seus resíduos para o aterro sanitário localizado na cidade de Santana do Parnaíba, a 50km de distância. Nesses casos, há também o impacto do transporte dos resíduos feito por caminhões, que contribuem para a poluição do ar e emissão de gases de efeito estufa.
“Ah, mas tem a reciclagem do lixo para resolver o problema”. Não é bem assim, apenas 20% dos municípios brasileiros adotam a coleta seletiva. E aí vem outra questão: coleta é uma coisa; tratamento e disposição final do resíduo é outra. Ou seja, nem tudo que é recicláVEL é reciclaDO. Curitiba, que é uma cidade exemplar nesse ponto, recicla 20% dos resíduos coletados na cidade.
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E ainda tem aqueles resíduos de difícil tratamento, como pneus, pilhas e baterias, resíduos de construção civil e demolição e resíduos eletrônicos. Segundo estimativa do Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos de Jundiaí, publicado em 2017, por ano, cada habitante da cidade gera mais de 4 kg de lixo em pilhas; quase 3kg de pneus e 2,6 kg de lixo eletrônico.
Diminuir a geração dos resíduos sólidos atinge o centro do problema do lixo urbano. Repensar o consumo é a primeira coisa, questionando se é realmente necessário realizar a compra desse ou daquele produto. Também, consertar o que quebrou em vez de jogar no lixo, sem ao menos tentar o conserto. Doar para alguém aquilo que não lhe tem mais utilidade. A reciclagem é a última opção para diminuir a pilha de lixo que jogamos todos os dias no planeta. (Ilustração: www.apaeonline.com)
FABIANA BARBI
Socióloga, com mestrado, doutorado e pós-doutorado na área ambiental (Unicamp). Foi assessora de projetos no ICLEI – Governos Locais pela Sustentabilidade e professora de Gestão Ambiental na Unianchieta e Faculdades Anhanguera. É autora do livro “Mudanças Climáticas e Respostas Políticas nas Cidades” (Ed. Unicamp, 2015). Twitter @barbi_fabiana – www.facebook.com/fabi.barbi.3