A manhã era fria, a respiração ofegava, a febre era bem alta e rua era cumprida e longa. Num braço ela segurava uma garotinha de 4 anos encapuzada, no mesmo braço no ombro carregava uma bolsa pesada e com a outra mão ela guiava uma menina de 11 anos, também com uma febre altíssima.
As três caminhavam em silêncio, que foi interrompido pela tosse, o barulho do vento e em seguida a lamentação da criança maior:
– Mãe tá chegando – perguntou a mais velha.
– Está sim, falta pouco – respondeu a mulher séria.
Não me lembro do resto, mas, tenho guardado no meu coração aquela força determinante que me carregava e conduzia a mão da minha irmã. Naquela caminhada só lembro do meu coração encostado no seu e a sua mão me cobrindo do vento pela rua.
Mãe é isso. Mãe segura a touca para o vento não derrubar, sabe o que diz a respiração do filho, pede para Deus abençoar o alimento, enxerga o tempo que estamos vivendo. Faz tudo isso sem perceber.
Não importa o grau de escolaridade, o jeito simples ou refinado a fórmula é uma só: amor. Não dá para falar sobre mãe. Não dá para descrever, porque mãe é surpreendente.
Em um ato heróico, elas emprestam a barriga para a gente morar, nos escondem do mundo nove meses, aceitam as mudanças do corpo, sacrificam as suas necessidades para atender as nossas durante a gestação e depois isso perdura para o resto da vida.
OUTROS ARTIGOS DE CIBELE VAZ DE LIMA:
POR UM MOTIVO OU POR OUTRO, NÃO DEIXE DE COMER MAÇÃ
Aqui em casa não é comercial de margarina não, é quase seriado americano. Sobre a minha mãe: Ela se irrita com quem suja a toalha com café; ela faz a gente rir quando cochila e sonha no sofá; ela brinca com a nossa paciência quando não para de falar uma mesma coisa; ela não entende piadas; ela não se esquece das artes da infância; ela fica mal humorada de vez em quando quase sempre; ela tropeça para sair do carro; não toma remédio para a tosse alérgica; ela acredita em tudo que a Ana Maria Braga (um beijo para a Ana, que sou fã) fala sobre alimentação menos o que eu falo, só porque eu sou nutricionista; ela esquece de compromissos importantíssimos; ela sente dores fortes e nos deixa tristes e desolados por isso, e no mesmo instante já está de pé arrumando a casa para todos. E na sua ausência a casa é silenciosa e estranha.
Quando chego do trabalho ela corre logo passar um cafezinho.
Quando estou doente ela vem logo com remédio.
Ela gosta de fazer o bolo que eu mais gosto de comer.
E quando ela faz todas essas coisas, eu sinto um sussurro no meu ouvido, mesmo em silêncio.
– Filha eu te amo!
Ser mãe é só para uma alma muito grandiosa. E ser mãe é muito mais do que gerar um filho, muitas não geram no útero e geram no coração. Quando a gente é criança acha que mãe é eterna, e daí vai descobrindo todos os dias que um dia vivido é um dia a menos que nos temos umas as outras. Aproveite todos os dias o aconchego da sua mãe
Termino o que quero dizer com uma poema de Adélia Prado:
“Minha mãe achava estudo a coisa mais fina do mundo. Não é. A coisa mais fina do mundo é o sentimento. Aquele dia de noite, o pai fazendo serão, ela falou comigo: ‘Coitado, até essa hora no serviço pesado.’ Arrumou pão e café, deixou tacho no fogo com água quente. Não me falou em amor. Essa palavra de luxo”
E eu acrescento: Não me falou em TER AMOR. ERA AMOR. Feliz dia das Mães!
OUÇA O POEMA ‘ENSINAMENTO’, DE ADÉLIA PRADO, NA VOZ DE ROBERTO MALLET
CIBELE VAZ DE LIMA
É nutricionista, especialista em qualidade e segurança dos alimentos. Atua na indústria alimentícia e como palestrante. Observadora e pesquisadora de comportamento humano na área da alimentação.