No dia 21 deste mês comemoramos o Dia da Língua Nacional – idioma oficial do país. Segundo Olavo Bilac, no soneto “A Última Flor do Lácio”, nosso idioma é esplendoroso, culto, belo e ouro nativo na ganga impura. E nele também cabem palavras como mequetrefes que está no título acima e que explicarei mais adiante…
O Português, falado e escrito no Brasil, recebeu influência de diversas Línguas: do tupi, falado pela maioria das nações indígenas que aqui habitavam; do ioruba e bantu vindos com o povo africano, trazido como escravo; do francês, usado pela elite que fazia estudos superiores na França; dos espanhóis e holandeses que invadiram o Brasil; dos imigrantes italianos e ingleses, no século 20; do grego, árabe e latim, herdados de Portugal.
A Língua é um fenômeno que está sempre evoluindo e se modificando. As palavras são mutantes e variam sua forma para se adaptarem à fala do povo, a miscigenação contribui com a mudança.
Toda essa diversidade, também nossa extensão territorial, nos proporciona uma variante idiomática interessante. Há termos usados em uma região que não são conhecidos em outras, mesmo dentro do país.
O termo que denominou esta crônica surgiu de uma maneira inusitada. Há cerca de um mês, indo ao mercado e preocupada com o coronavírus, perguntei a uma senhora que dele voltava:
– Os fregueses estão usando máscaras?
Ela respondeu:
– A maioria sim, mas tem uns mequetrefes que não!
Achei o termo tão interessante e simpático que resolvi aproveitá-lo e desenvolver uma crônica para o Dia da Língua Nacional.
Partindo dele, procurei outros e pensei. Ela poderia ter respondido assim:
– Tem uma muntuêra com máscara, mas alguns mequetrefes não!
Nessa procura, achei uma batelada deles, todos muito interessantes que grassam de Norte a Sul do Brasil.
Achei o verbo quiabar, muito usado em Minas Gerais – que é rica em variantes! O termo serve para qualificar um indivíduo que não cumpre com o prometido, por isso, dizem que os políticos quiabam sempre! A palavra tem relação com o vegetal quiabo, possuidor de uma baba escorregadia…
Para enriquecer o texto, procurei livros do Guimarães Rosa. Achei Sagarana, que não existe no dicionário. Foi um neologismo que ele criou a partir do radical germânico saga– lenda ou aventura –edo sufixo tupi-guarani rana– ao feitio de.
Guimarães Rosa, que era mineiro, usou e abusou da riqueza do dialeto regional e das variantes usadas pelo povo para escrever seus romances, principalmente Grande Sertão: Veredas:
– O diabo vige no home – disse o jagunço Quelemem.
As besuntadas estilísticas que usou dão vida às tramas em todos os seus livros.
Achei, ainda, estas preciosidades:
– Ouvi só um tirico à toa!
– Nesta cidade, nadica de ordem!
– Deixa eu pegar meus trens, que já vou!
– Esse decreto tem coisarada demais!
– Arrede daí, é perigoso!
– É ali, bem pertim!
É claro que usamos essas preciosidades na forma coloquial, mas que são interessantes, ninguém há de negar, uai!
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Subindo ao Nordeste, também rico nesse tipo de termos, há alguns bem engraçados. Quem diria que piquenique (termo francês) por lá é um convescote entre amigos? Que uma senhora grávida é uma buchuda? Que um homem embriagado é um calibrado?
Encontrei tantos e achei que era coisarada demais e muita conversa fiada para escrever.
Nessa pesquisa, encontrei um termo bem interessante. De onde vem o termo cueca?
Eco/eca é um termo grego que significa habitat (domicílio onde se resguarda algo). Assim, cueca é o domicílio de…
JÚLIA FERNANDES HEIMANN
É escritora e poetisa. Tem 10 livros publicados. Pertence á Academia Jundiaiense de Letras, á Academia Feminina de Letras e Artes, ao Grêmio Cultural Prof Pedro Fávaro e á Academia Louveirense de Letras. Professora de Literatura no CRIJU.
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