NÃO, MEU SENHOR, assim não dá…

MEU SENHOR

Não, meu senhor, assim não dá. Você só pode estar de brincadeira com o seu país. Numa noite despacha um decreto. Na tarde seguinte, revoga o tal decreto. Numa comunicação pede cautela, prudência e resguardo. No dia seguinte diz que o país precisa abandonar a quarentena porque ficará quebrado se os trabalhadores não exercerem seus postos. Peraí, senhor presidente, afinal qual é? Não, meu senhor, assim não dá.

A crise já é muito grave, não precisa de enfeites para ficar pior, mas este senhor está complicando o meio de campo: a cada pronunciamento solta uma nova pérola semelhante ao outro culto presidente deste pobre país, quando se referiu à H1N1 como uma simples marolinha, no momento em que ela vinha matando centenas e centenas de brasileiros. O que acontece com nossos governantes? De que planeta vieram?

Enquanto o mundo se preocupa em isolar seus habitantes, aqui vemos a histeria de querer colocar de volta, no mercado produtivo, os jovens, que também se contaminarão, ocuparão leitos destinados aos mais idosos e vulneráveis. Que brincadeira desmedida é essa? Tudo só consegue se complicar porque já não temos mais como nos defender deste estado de situação: são passeatas e carreatas pró e contra isto e aquilo, num momento em que deveríamos ter senso de justiça e clareza para fazer a melhor escolha.

Mas, não. Ao invés de clareza, optamos pelo partido. Se a direita quer branco a esquerda festiva quer azul; se a direita manipulada quer pedra, a esquerda folclórica quer água. Ninguém ouve ninguém e nenhuma das partes tem certeza do que faz ou diz. É uma Babel do século XXI. Final dos tempos da comunicação intergrupos.

Daí passamos as considerações. Vale lembrar que o outro ilustre presidente optou por encher o país de campos de futebol, magnificamente chamados de “arenas”, deixando de construir um mísero hospital. E, os esquecidos apontam para este outro ilustre presidente dizendo que ele não tem hospitais para enfrentar o clima que se aproxima. Ambos os grupos estão olhando apenas para seus umbigos. Para seus umbigos.

Estamos perdidos entre uma luta partidária insana, cheia de difamações e dedos, que apontam para frente, em riste, mas não consegue ter clareza nem assertividade em propostas que auxiliem a fortalecer a raça humana que se perde entre gripes, dengues, desempregos, roubalheiras e falcatruas. Tudo como era dantes, em terras de Abrantes. Este não é pior do que aquele sapo barbudo. São congêneres. São gêmeos univitelinos. São iguais.

Nossa cidade entra na luta, de maneira civilizada (até a página dois, porque os supermercados estão saqueados, os preços começam a subir, no início de uma quarentena que vai durar 100 dias), com vacinação contra a gripe, em situação bem exemplar: filas, atendimentos exemplares, postura profissional. Mas a dengue ainda existe em Jundiaí. E como. Apenas saiu do foco. Lamentavelmente saiu do foco, como tudo aquilo que interessa (ou não) à mídia fugaz.

E falando nela, que show de horror esta mídia. Repórteres que mal conseguem ler. Despreparados. Falam sílaba por sílaba como se estivessem participando de um programa de calouros. A leitura é de péssimo nível, enunciam errados nomes e casos. Aliás, parece que o Mundo parou e só existe o tal corona: a corrupção acabou, a fome sumiu, o assalto diminuiu e a desgraça evaporou. Triste cultura imediatista.

Isso deixa um péssimo reflexo: a repetição da mesma notícia, de maneira exagerada, com os mesmo dados, insistentemente. Além de aumentar a ansiedade e o estado de alerta, aos poucos vai minando o estado de prontidão e fazendo com que as pessoas se sintam dessensibilizadas com os fatos, momento em que o perigo se torna maior.

Uma notícia ruim repetida com muita ênfase por longo período torna-se mais perigosa do que o próprio perigo, porque baixa a guarda do espectador e deixa-o de volta a sua zona de conforto, expondo-o mais ao perigo prenunciado. Mídia, mídia…quando você trabalhará em função dos necessitados?

E com este terrível futuro à nossa frente, quem sabe do Ronaldinho, o pobre e inocente jogador de futebol preso no Paraguai, injustamente? Será que continua triste? Será que já comprou o cassino que pretendia? Será que já fez uma festinha íntima com 30 garotas finas da cidade de Assunción? Somente uma desgraça para superar outra, infelizmente.

E de bom, o que temos tido? De bom temos recuperado os contatos humanos, ainda que pelo Facebook ou Whatsapp. Estamos mais ligados aos antigos amigos, voltamos a saber deles, a conversar sobre coisas boas que fizemos ou soubemos. De uma maneira ou de outra, retomamos ao antigo núcleo de parceiros que a velocidade do mundo nos afastou. Isso é muito bom.

Recuperamos amigos e parentes que pareciam distantes (realmente estavam) e iniciamos um novo processo de aproximação, mais maduro, menos dependente e invasivo. Nosso medo e nossa ansiedade não nos permitem sermos curiosos, agora: vamos reconquistar os laços e fortalece-los, pois estamos só.

E estar só não é sentir a solidão. Estar só é caminhar sozinho, é construir sozinho, é edificar sozinho. Solidão é um estado d’alma dolorido, que não nos deixa ver o futuro nem o presente. Apenas traz o peso do passado. É possível estar sozinho e não ter solidão. Basta nos livramos das pessoas tóxicas, das notícias desagradáveis e dos pensamentos negativos.

Para tanto, uma boa leitura, uma boa música, exercícios físicos, ainda que dentro de casa e, ao menos, 15 a 20 minutos de um sol que nos aquece a alma. Mais que isso, só mesmo ouvir a voz de quem tanto amamos e crer, infinitamente, n’Aquele que nos criou e nos quer por inteiro. Sei que não é uma fórmula fácil, mas possível de se executar, quando buscamos ser mais íntegros e mais capacitados.

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Este período é um período de capacitação. Mostrar-nos fortes e exercermos nossa fortaleza será o passaporte para um tempo mais sadio e mais rico de seres humanos melhores. Não sou Poliana mas creio nisso. Aliás, será um período em que usaremos para reavaliar nossos governantes e não cairmos em ciladas baratas, como as que começam a aparecer, em tempos de crise.

Idosos, sim. Mas valentes e competentes. Não perdemos o discernimento nem a inigualável capacidade de perceber o bem, o mal e o enganoso. Espero chegar assim, ao meu fim. Lá longe, não tenho pressa. Feliz quarentena de 100 dias, meus lindos.

AFONSO ANTÔNIO MACHADO 

É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology. Aluno da FATI.

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