Entra semana, sai semana, só não passa nossa ansiedade diante da situação descontrolada e desencontrada que estamos vivendo. Cada dia mais confuso, os plantões de informações mais confundem do que esclarecem e a população, em sua ânsia de resolver questões pendentes vai se aventurando, como se todos tateassem por becos escuros e desconhecidos, o que representa uma parcela desta verdade que vivemos. Vivemos o momento do nada saber.

Conforme já falamos em vezes anteriores, a grande preocupação da população está voltada para o baixo desempenho financeiro e as incertezas de mercado, as taxas hospitalares com números que não batem e a situação das voltas às aulas, cada vez jogada mais para a frente e deixando que gestores decidam pelos riscos. Triste momento este, em que nossas lideranças não nos representam.

Revisitando a história da humanidade, percebi que estamos vivendo a mesma caótica situação vivida no advento da gripe espanhola: os isolamentos, as notícias fantasiosas, o cenário econômico de pernas para o ar, desemprego, incertezas, escolas fechadas, hospitais sucateados e lotados, desconhecimento, desconhecimento e desconhecimento. O ciclo civilizatório nos trouxe (ou nos levou???) de volta ao passado, onde nada se sabia.

Hoje, com o avanço tecnológico, com grandes descobertas e evolução das ciências, continuamos lutando contra os mesmos paradigmas anteriores e mesmas inquietações de outras gerações anteriores: como sobreviver, como preservar, como suportar, como superar. Talvez entendamos que em novos tempos, onde a comunicação on-line substitui tudo e todos, e o comércio adquire vestimentas futuristas, também a Covid-19 possa ser facilmente suplantado.

Mas ele tem se mostrado forte, valente e persistente: está ai, firme e arrebatador. Não tem escolhido entre brancos, negros, amarelos e vermelhos, nem entre idosos, adultos, jovens e crianças; tão pouco se satisfaz com os grupos de riscos, cada vez maiores, nem com os jovens sarados e bombados. Eles têm encontrado morada naqueles que o desafiam e descuidam supervalorizando seus atributos físicos e fisiológicos. Em todos estes grupos de humanos encontramos alguns comportamentos semelhantes: ou de total enfrentamento ou de uma apatia que começa a tomar conta de parcela da humanidade, diante da incapacidade de compreensão da situação atual.

Na realidade, pouco entendemos sobre um fenômeno tão absurdamente novo, afinal, quem de nós pensou que teríamos uma quarentena que duraria 180 dias e ainda não tem data para terminar? Quem de nós pensou que seria totalmente hi-tech? Que veríamos e falaríamos por meio de recursos novos que a cibercultura já plantava em nossos ambientes? As teleconsultas e as teleaulas estão ai para nos garantir que tudo mudou e jamais voltaremos ao que éramos em fevereiro deste mesmo ano. Sim, deste mesmo ano.

Ah, meu filho não gosta de aula on-line! Ah, minha mãe não se sente à vontade na consulta on-line! Puxa, meu marido não se acostuma a comprar pelo site. Minha filha não quer encomendar seu pedido pelo computador. Triste situação estas, pois estes serão recursos a serem utilizados cada vez mais e em todo o futuro próximo, até o futuro longínquo. Esta é a realidade que temos para nos inteirar e nos servir.

Interessante que Raquel Ricuero, em suas obras sobre cibercultura, sempre diz: o virtual é o real e o real será virtual. E não demos crédito para tal proposta que agora salta aos nossos olhos e nos impõem espaços, tempos e formas, sem que tenhamos o direito de não utilizar: é o que temos. É o que nos resta. É o que teremos, para todo o sempre. Independe de nossa aceitação ou aprovação, visto que é uma proposta salvadora e cuidadosa. Ainda que o momento seja o de não saber nada.

Como já trabalhamos a ideia, também, não temos muito a escolher; o interessante e necessário é escolher viver. A partir deste ponto de partida, só conseguiremos manter este desejo ativo se optarmos pelas compras à distância, pelas aulas on-line, pelas consultas mediadas pela internet e pelas visitas remotas. O mais ainda é vulnerável e a abertura ou relaxamento de faixas de isolamento são artifícios propostos para diminuir algumas tensões sociais e econômicas(e aumentar outras).

Está longe o tempo de sol e praia. De banho de sol e piscina. Com segurança? Sim, com segurança estão longe de nosso convívio. Entretanto os relaxamentos sociais podem até indicar saídas e soluções para tais convivências, que serão assumidas por uns e preteridas por outros. A escolha fica a critério da consciência de cada um: precisa ir ao shopping? E à loja na parte central da cidade? Precisa ir ao restaurante? Tem que ir ao bar ou a lanchonete? E ao show? A pergunta é: precisa? E não se pergunta se a vontade buzina em nossa cabeça. A vontade está enorme, mas precisa?

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Como diria Paulo Freire, ninguém conscientiza ninguém. Podemos, quando muito, sensibilizar as pessoas e estas aos seus próximos mais próximos. Mas ninguém conscientiza ninguém, apenas sensibilizamos e a pessoa sensibilizada, munida de seu discernimento e inteligência se conscientiza do rumo a ser dado em sua Vida. Ainda temos muito a aprender e não foram estes míseros 180 dias que nos ensinaram; acredito que tenhamos terminado o pré de convivência social e zelo com nossa própria saúde.

Finda a pré-escola, resta-nos matricular no ensino básico e darmos sequência, se quisermos seguir. A escolha é pessoal, mas neste ritmo e neste modelo de isolamento e cuidado com tudo e com todos; realmente em momentos de pandemia, quem tem o controle da coisa é o vírus. Não é o presidente, nem o governador e prefeito, nem os líderes religiosos, nem os jovens ou idosos: quem manda é o vírus. Vivemos hoje, de fato e sem prazo para acabar, o momento do nada saber.(Foto: Aa Dil/www.pexel.com)

AFONSO ANTÔNIO MACHADO 

É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology. Aluno da FATI.

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