Comprei novo notebook. O que faço com o ANTIGO? (2)

Muitas coisas se pode fazer com o notebook antigo! Começamos a abordar esse tema do lixo eletrônico no último artigo, quando apontamos uma primeira alternativa: encaminhá-lo à iniciativa privada, ou seja, empresas que reciclam esse material, com lucro e que eventualmente têm parcerias com as prefeituras, facilitando o acesso pela população.

Mas o assunto é vasto e tem suas implicações: a primeira, para o ambiente. Se simplesmente colocarmos o laptop quebrado ou celular no lixo, literalmente, ou na caçamba, eles irão avolumar os lixões a céu aberto. Em decorrência, surge a segunda implicação, para a saúde: invariavelmente nesses locais eles espalharão contaminantes químicos nas águas e no solo, nocivo aos humanos e animais. A terceira tem a ver com a qualidade de vida, o nosso “consumo consciente”: será que precisamos sempre mais? Mais embalagens, mais memória da máquina, mais designs arrojados, mais cores?

Hoje vamos mostrar uma quarta implicação, que na verdade é uma alternativa social de destinação: as cooperativas de catadores de eletro-eletrônicos. É uma oportunidade de inclusão social que vem ao encontro de duas principais demandas: oferecer trabalho às pessoas que não têm oportunidade nos empregos formais e precisam trabalhar para seu sustento e de sua família, com dignidade, e ao mesmo tempo, retirar de circulação volumes imensos, diários, de eletroeletrônicos quebrados ou antigos, reaproveitando-os totalmente para que continuem sendo usados ou vendendo suas peças.

Figura 1

Qual a ordem de volume diário estamos falando? O Brasil produz 0,5 kg de lixo eletrônico/por pessoa/por ano e abandona, também em um ano, quase 97.000 toneladas (1 tonelada métrica = 1.000 kg) de computadores, sejam laptops ou de mesa. (Ilustração acima). E quase tudo vai para os lixões espalhados pelo País, como mencionamos, agravando mais esses depósitos não controlados de descartes gerais.

Mas iniciativas públicas e parcerias estão mudando a “cara” desse cenário, unindo alunos, laboratórios e ONG, oferecendo cursos gratuitos para alunos-catadores de núcleos, grupos e cooperativas de São Paulo e Região Metropolitana. É o Projeto Eco-Eletro – Reciclagem de Eletrônicos, desenvolvido pelo Instituto GEA, em parceria com o LASSU – Laboratório de Sustentabilidade, vinculado ao CCE (Centro de Computação Eletrônica) da Escola Politécnica da USP – Universidade de São Paulo

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Na página www.ecoeletrofase2.com.br/ecoeletro2/ a pergunta é parecida com a nossa: “Como agir com o meu lixo eletrônico?” e traz dicas de cuidados aos recursos naturais, de responsabilidade em relação ao nosso consumo: isso é o consumo consciente, que temos que exercitar pensando diariamente nos nossos hábitos e no que eles implicam, no nosso entorno. E lá se podem acessar e baixar apostilas com os cursos realizados, on-line

O mais legal é o esforço em abranger todo o ciclo: reunir os interessados e ministrar cursos presenciais, práticos, nos quais se ensina como lidar com essa sucata eletrônica. Se houver reparo, será feito, e a máquina será destinada para instituições e locais para ser usada por quem precisa; se não há jeito, é desmontada, aprendendo-se técnicas para evitar o contato com elementos químicos como o chumbo, mercúrio, e outros, tóxicos, e assim reaproveitar e vender o que for possível.

E olhem os preços médios: uma placa-mãe, hoje, está valendo R$ 10,70; um processador, R$ 50 e até mesmo a ventoinha, R$ 0,30!

Mas não é só saber o que fazer com esse descarte. Fechando o ciclo, entra uma parte importante que é a facilitação para a organização dessas cooperativas, tornando-as autônomas e minimamente estruturadas para poder negociar bem as peças, mantendo-se na ativa e buscando ajustes e aprimoramentos, estimulando e valorizando os seus integrantes. Já são nove cooperativas formadas e atuantes no mercado, lá sendo divulgadas, bem como as empresas compradoras (foto abaixo). Ciclo fechado!

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Já percebemos que há várias dinâmicas interligadas em relação ao lixo eletro-eletrônico, ou seja, pressão diária para o consumo do novo e descarte do antigo; mercadorias modernas e mais eficientes; produtos adquiridos que se quebram ou ficam defasados. Para minimizar o impacto que isso causa, surgem iniciativas empreendedoras: empresas, que reciclam; cooperativas de catadores, que coletam, reusam ou vendem das peças. Mas ainda são tímidas, necessitando de escalas significativas.

Isto porque essa dinâmica se mantém, em um ciclo sem fim: se os lixos eletrônicos crescem a uma velocidade 3 a 5 vezes maior que os lixos domésticos, seremos capazes de refrear esse processo avassalador?


Eliana-Corrêa-Aguirre-de-Mattos-1-1ELIANA CORRÊA AGUIRRE DE MATTOS

Engenheira agrônoma e advogada, com mestrado e doutorado na área de análise ambiental e dinâmica territorial (IG – UNICAMP). Atuou na coordenação de curso superior de Gestão Ambiental, consultoria e certificação em Sistemas de Gestão da qualidade, ambiental e em normas de produção orgânica agrícola.

 


CRÉDITOS:

Foto principal: www.ecoeletrofase2.com.br

Ilustração: http://bit.ly/2yKckhV

Foto abaixo: http://bit.ly/2yJRLC3