Prestar a atenção ao redor pode parecer trivial, mas é uma das coisas mais difíceis de incorporar no nosso cotidiano. E por incrível que pareça, independe de nossas atividades diárias: podemos ter um dia regrado, hora para acordar, para cuidar da casa, ir trabalhar ou uma agenda louca. Não importa. Às vezes são nossos pensamentos, que ficam focados no porvir, ou perdidos em devaneios. Então, o desafio é estar no presente, aqui e agora. E quando conseguimos essa sintonia, pode apostar: tudo começa a se encaixar e respeitamos nosso tempo, e o tempo dos outros. Acrescente-se o fundo musical: poderá se ouvir, ao longe, ou no poste próximo, o piado de um pássaro, que sempre esteve ali ou acolá. Se formos sortudos, o veremos, de relance ou lá, paradinho, na ponta do galho daquela árvore. O importante é que apertamos o botão do “liga”, e o ouviremos, e veremos, doravante. Hoje o assunto é observar as aves, livres.
A partir do momento que “ligamos a antena” para percebermos os cantos, buscarmos as espécies, adivinhar-lhes os nomes, um mundo se descortina. E que mundo maravilhoso, colorido, abundante e desconhecido! O Brasil é o segundo país em número de espécies de aves (1.919 espécies), ficando atrás apenas da Colômbia (SAVE Brasil).
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Desconhecido porque há ainda aves não catalogadas, e mais: com a chegada de novas tecnologias não invasivas, como por exemplo monitoramento por satélite, estamos começando a nos aprofundar no comportamento avícola. Isso sem contar que podemos nos estender aos insetos, como as borboletas, que possuem mecanismos absolutamente fascinantes, desvendados por matemáticos e biólogos, como a incrível rota de migração de gerações de borboletas monarca, do Canadá para o México e Califórnia.
Existe um lugar que se possa caminhar na mata, conhecer os pássaros, ter um guia, um grupo, para auxiliar? Sim! Em meia hora, pela Rodovia Bandeirantes, chega-se de Jundiaí à cidade de São Paulo para uma atividade mensal do Instituto Butantan, que localiza-se ao lado da Universidade de São Paulo, no início da Marginal Pinheiros: o “Vem passarinhar”! A meia hora estimada de estrada tem sua razão porque a atividade começa cedo, 7 horas da manhã. Mas é gratuito? Sim. Não precisa agendar antes? Não. Precisa levar algum material? Vai-se sentindo aos poucos as necessidades: para o dia, não precisa. Ah, mas levar um lanchinho pro pic-nic comunitário, no final, é obrigatório. Conheça a página deles no Facebook.
O que é o Instituto Butantan? A sede do Instituto Butantan está localizada em meio a um parque composto por uma extensa área verde, com cerca de 80 hectares (800 mil m2), e atrai mais de 150 mil visitantes anualmente, sendo um dos principais pontos turísticos da cidade de São Paulo. O Instituto possui edifícios históricos e contemporâneos que abrigam laboratórios de pesquisa, fábricas de produção de soros e vacinas, hospital, museus e biblioteca. Assim, além de acumular uma experiência centenária no desenvolvimento de pesquisa e produção de imunobiológicos, o Instituto também atua na divulgação científica por meio de seus museus, conforme informações do seu site.
Ainda, o Butantan possui três museus abertos ao público, localizados no parque do Instituto, sendo eles os museus Biológico, Histórico e de Microbiologia.
Fundado em 1901 pelo pioneiro cientista Vital Brasil, teve e mantém papel decisivo na saúde pública do pais, sendo conhecido mundialmente por suas pesquisas inovadoras em prol da comunidade. Resiste bravamente, ao longo de décadas, às flutuações das políticas públicas que permeiam os governos, e mantém a excelência de suas atividades até hoje, com 103 anos de idade. Há um vídeo institucional que mostra de forma bem legal a instituição. Clique aqui e assista.
Voltemos à observação: como começar? Os instrutores já dão as dicas: primeiro, descubra as espécies que vivem na sua cidade. Há um portal, o WikiAves (wikiaves.com.br) que pode ser super útil. Estando em Jundiaí, temos esse presente de valor inestimável que é a serra do Japi, riquíssima em biodiversidade de plantas, animais, rochas, água…tudo nela é precioso. Um verdadeiro santuário, integrando os chamados “corredores ecológicos”, os quais envolvem outros fragmentos, como a serra do Mar, da Mantiqueira, cada vez mais ameaçados de ficarem ilhados e vazios, onde ainda se pode fluir e reproduzir-se toda essa vida. Que inclui as aves, muitas delas!
Só dar o primeiro passo: um gracioso bem-te-vi pode ajudar, com seu “gogó” poderoso e cantos variados. Quem sabe esse pica pau, o picapau-de-cabeça-amarela (Celeus flavescens), também conhecido por “Supla”! É a ave da foto principal, lá em cima. Parece???
ELIANA CORRÊA AGUIRRE DE MATTOS
Engenheira agrônoma e advogada, com mestrado e doutorado na área de análise ambiental e dinâmica territorial (IG – UNICAMP). Atuou na coordenação de curso superior de Gestão Ambiental, consultoria e certificação em Sistemas de Gestão da qualidade, ambiental e em normas de produção orgânica agrícola.
Outras informações:
www.butantan.gov.br/butantan/Paginas/default.aspx
http://avistarbrasil.com.br/av18/
https://www.facebook.com/observatoriodeavesibu/
Fotos desta página: Elaine Corrêa Aguirre de Mattos