O que os OLHOS não veem…

OLHOS

Pobre imaginação que não se dá conta de tudo aquilo que supostamente acredita! Realmente, o que os olhos não veem o coração não sente. Fico tentando encontrar o espaço de tempo e o lugar por onde estiveram tantas colegas e amigos, nestes 190 dias, que não viram os professores se debruçando e debulhando e desestruturando para dar suas aulas online. No início eram elogios, aplausos, reconhecimento aos bravos domadores de pequenos mal-educados. Hoje são apenas os que ganham sem trabalhar. E eles continuam virando o dia e a noite, para tentar motivar suas aulas e prender a atenção daquela criança insatisfeita e insolente, que faz birra e é mimada, mas que não se interessa por aula alguma.

O fato é: olhos algum veem o que os professores estão fazendo para garantir o acesso remoto e manter suas atividades em dia. Aliás, sem nenhum preparo, sem nenhuma experiência prévia, todos concluíram o primeiro semestre com maestria e venceram o desafio de se conectarem com os alunos, trazer o novo, corrigir tarefas, procurar saídas e fazer entregas de material aos que não acompanhavam as aulas online. Foram e são plantões e mais plantões, dentro de uma casa revirada e superpovoada (porque professor não é filho de chocadeira nem é estéril) e nem sempre adequada ao estúdio educacional. Mas os olhos não veem…

Nessa ocasião, por volta dos quase 200 dias de reclusão, quando já começamos a pensar numa forma de voltar à ativa, em sala de aula (porque remotamente já estamos desde março), estamos ouvindo relatos de pais insatisfeitos com as atividades, porque eles, pais, têm que trabalhar e a escola não volta; ou estão insatisfeitos com as aulas remotas porque eles não conseguem responder ás questões propostas pela escola e, ainda, precisam responder as mensagens em seus celulares, além de auxiliar na tarefa dos filhos. Isso demonstra que cuidar dos filhos era um plano B, porque a escola dava conta, de uma maneira ou de outra. Mas os olhos não veem…

E mais: hoje como antes a escola mantinha acessa a porta de comunicação, pouco utilizada, porque ela era um grande depositório de estudantes, da mais variada faixa etária, fazendo o papel do grande amigo que toma conta da criançada, enquanto os pais resolvem seus compromissos. Mesmo que desde que escola é escola, ela não seja um depósito de crianças e jovens, visto ser apenas e tão somente o espaço onde se tem a mediação da educação acadêmica e instrucional. O papel afetivo e de guarda é um extra, para não assumir a posição dos pais cujo dever é zelar e amar seus filhos. Fica muito complicado pensar que muitas crianças e jovens esperam por horas até que seus pais apareçam para buscá-los ou vão para casa onde ficam sozinhas, justamente pelos horários diferentes cumpridos pela família. Isso os olhos não veem….

Mas sempre podemos ter mais vieses para analisar, se quisermos acirrar nossos ânimos. Diante de toda a mídia e estatística especulativa que noticia a morte de tantos policiais e médicos e enfermeiros de UTI onde estamos que não nos perguntamos (ou preocupamos com) por quantos são e serão os coveiros mortos pela Covid-19? E o número de funcionários da limpeza, da cozinha e hotelaria de hospitais que entregam seus serviços em ambientes infectados e perdem suas vidas sem serem anunciados com pompas? Fico tentando lembrar qual das mídias já nos trouxe estes dados ou apenas apontou luzes sobre eles, que estiveram e permanecerão na ribalta, mesmo que nossos olhos não os vejam…

São reflexões que nos garantem: temos dois tipos de pessoas. Aquelas que importam e aquelas que não importam. E, de certa forma, minha dor fica maior quando percebo que muitos amigos e pessoas de bom nível intelectual, financeiro e cultural estejam com seus sentimentos endurecidos, muito tempo antes as pandemia, de modo a se perceber apenas no momento da crise que vivemos em uma comunidade fria, egoísta e agressiva. Ainda que esta comunidade esteja andando nos melhores veículos, comendo as melhores comidas e seguras em seus castelos de pedra. Isso os olhos não veem….

Nossa hipocrisia e nosso perfil público precisa demonstrar firmeza e empoderamento diante de tudo, mesmo que estejamos falidos e despedaçados: vale aquilo que olhos humanos não podem ver. Percebo isso nas frias relações vividas no condomínio onde moro, que se perde em discussão insana de questões de interesse duvidoso, especulativo, mas diante do sério se cala e não avança para resolução pontual. Ou na politicagem do momento, quando e onde todos se apresentam com argumentos cheios de resoluções, propostas surreais e argumentos ou estratégias vãs. Neste campo, então,que pode nos ferir com mais profundidade, os olhos não veem…

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Frente a uma semana que se acaba, com muitas dores e perdas significativas de pessoas queridas e próximas, sigo meu caminho. Longo. Longo e triste, mas vou. Poderia dizer: triste, vou sozinho. Mas vou. Não é nem foi e tão pouco será a pandemia que entristeceu meu caminhar. São e serão as pessoas com que divido meus atalhos, cuja sensibilidade se tornou pétrea e insana e que relutam a admitir que são humanas. Parece que algo desplugou dentro de alguns que sentem prazer em ser máquinas; pobres e frios avatares que circulam pelos espaços ocupados por humanos e busca de tempos melhores. Estas coisas os olhos não veem…(Foto: universaljp.org)

AFONSO ANTÔNIO MACHADO 

É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology. Aluno da FATI.

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