QUE PAÍS É ESTE???

..Nas favelas, no Senado
Sujeira pra todo lado
Ninguém respeita a Constituição
Mas todos acreditam no futuro da nação…
Mas, que país é este???

Como não se incomodar com aquilo que gruda na pele? Como não se irritar com aquilo que zoa nos tímpanos? Como não detestar aquilo que é indigesto e não tragável? Como não se mostrar surpreso diante das mentiras ou falsas verdades repetidas no boca a boca, neste período? Como não se tornar uma pessoa agressiva diante das violências sofridas? Como não temer por um futuro perverso diante de tantas perversidades contidas nos discursos políticos?


Serei breve e desagradável, porque não estou conseguindo acompanhar a lógica perversa do momento e, diante deste contexto, nada melhor do que me calar, não ver e não ouvir. Os três macaquinhos representam meu estado de indignação, diante do quadro desenfreadamente pervertido a que estamos sujeitos ou somos os feitores.

Como ouvir que a lei que regula o salário mínimo será mudada nos três primeiros meses depois da posse, se para tanto há que se rever a Constituição? E que mais verba será destinada à Saúde e Educação, se o caminho também é o mesmo? Situações estagnadas e de difícil alteração passam a ser ponto de honra, com promessa de ser alterada a um passe de mágica. Que mago é esse que conseguirá nos livrar deste Inferno?

Como acreditar que serão liberados os remédios que a indústria farmacêutica brasileira tem no aguardo de tramitação legal se justamente existe a tramitação legal? Será suspenso, então, a análise do padrão destes medicamentos? Ou será suspensa a credibilidade deste infeliz que mente sem saber o que fala?

Como aquietar-se diante da promessa de salários triplicados para educadores se não há de onde tirar este dinheiro e se os estados estão quebrados e a União esfacelada? De que planeta sairá o dinheiro para tal necessidade? Este dinheiro chegará na ponta? Na mão dos educadores ou ficará por conta de algum projeto mirabolante e inexequível, como centenas de outros, anteriores, que gastam os fundos de implemento e não se concretizam? Como os projetos de erradicação do analfabetismo, só por exemplo. Só por exemplo. E não precisamos invadir o sertão brasileiro para localizar os analfabetos. Basta olhar ao nosso entorno.

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Tanto se discutiu sobre o controle da criação de novos cursos de Medicina, e o coleguinha vem dizer que se eleito facilitará e acelerará a criação de mais cursos, porque o Brasil precisa de médicos. Será? Ou o Brasil precisa de uma distribuição mais eficiente de profissionais que estejam realmente preocupados com a Saúde da população, fora do eixo Rio de Janeiro-São Paulo-Belo Horizonte-Curitiba?

E que nossa economia deslanchará já no primeiro semestre; e isso é verdade: deslanchará para uma fossa onde se misturará com demais dejetos e arrastará a pobre da população junto, uma vez que todos estamos nas mãos de pessoas com pouca ou nenhuma credencial para nos dirigir. E, de novo, só posso perguntar: que país é este?

Piada no exterior
Mas o Brasil vai ficar rico
Vamos faturar um milhão
Quando vendermos todas as almas
Dos nossos índios num leilão

Lamento, mas por tudo o que já estudei, tenho como ideia que a tristeza transforma, a depressão paralisa e o medo acorrenta. Estamos acorrentados, sem ter para onde correr ou por onde sair. Sem ser derrotista. Triste realidade. (Foto: centraldobarreiro.com)


AFONSO ANTÔNIO MACHADO

É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduando em Psicologia, editor-chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology.