Nestes dias, quando há muita controvérsia sobre a validade das vacinas contra a Covid-19, penso que escrever sobre a arte das palavras e seu poder é oportuno. Alguns doutores da área a defendem; outros a condenam. Dependendo da eloquência e persuasão do orador, somos impactados e aderimos à sua ideia. Estamos no auge das notícias falsas. Como agravante, temos a política partidária que não objetiva o bem da população, mas vencer o adversário, inimigo político perigoso!
O famoso Rudyard Kipling, escritor, poeta e autor do enredo de vários filmes – inclusive o recordista de bilheteria: “Mogli, o Menino Lobo”, tinha razão quando disse que a palavra é a droga mais poderosa do mundo, pois é uma forma de pensamento e o pensamento é uma forma de energia.
Há estudiosos da mente humana que afirmam: “De tanto ser repetido algo, o subconsciente o aceita, diz sim ao que ouve e o torna realidade. O poder da palavra expressa significa que as ondas vibratórias, audíveis ou inaudíveis, conduzem nosso destino rumo ao bem ou ao mal”.
O poder das palavras está no Evangelho e na Bíblia em inúmeras citações. Relembremos algumas:
“Lázaro, vem para fora!” (Jo 11,38-44).
“Levanta-te, carrega o teu leito e vai para casa”(Mt 9,1-8).
“Todos vão prestar contas das palavras ditas, no Juízo Final” (Mt 12:36).
“A serpente disse à mulher: no dia em que comerdes desses frutos, vossos olhos se abrirão esereis como deuses, conhecendo o bem e omal”(Gênesis 3-4).
No Antigo Testamento, o termo hebraico dabar(a Palavra de Deus, o Verbo Divino) é usado 394 vezes para designar alguma comunicação divina com as pessoas.
Há uma parábola antiga e muito citada sobre o poder e a arte da palavra: Penas ao vento.
Conta-se que um jovem se arrependeu de ter falado inverdades sobre uma pessoa. A mentira se espalhou e a estava prejudicando. O autor da maldade, arrependido, procurou um sábio e pediu-lhe orientação de como desfazer o mal.
Este disse:
– Pegue um travesseiro de penas, suba ao cume de uma montanha e solte as penas ao vento.
– Só isso?
– Depois, venha me ver.
Quando o rapaz retornou, informando que já soltara as penas ao vento, o sábio falou:
– Agora, recolha todas!
– Isso é impossível, disse o jovem.
– Justamente, da mesma forma será impossível desfazer o mal causado por suas falsas palavras.
O poder das palavras está também na literatura. Encontramos, em vários contos, o seu potencial de domínio. O que melhor expressa o poder da palavra é o conto persa: “As Mil e Uma Noites”, onde Sherazade é a personagem da narrativa que começa e termina a história. Como todos a conhecem, farei uma síntese: Xariar, sultão da Pérsia, descobriu que era traído pela mulher. Contou ao irmão e este lhe confidenciou que também era traído. A conclusão é inevitável: todas as mulheres são traidoras!
Saem pelo mundo para esquecer seus infortúnios. Encontram uma bela mulher que quer fazer amor com eles; ante a negativa dos dois, diz que acordará o gênio (que adormecera em seu colo) para matá-los. Para não morrerem, ambos concordam. Ao fim, ela pede aos dois os anéis que trazem nos dedos e diz:
– Agora, tenho uma centena!
Os dois voltam pelo mesmo caminho com a certeza de que todas as mulheres são falsas.
MAIS ARTIGOS DE JÚLIA FERNANDES HEIMANN
O sultão Xariar formula, então, um plano para nunca mais ser traído por uma mulher: dormir a cada noite com uma virgem e mandar matá-la no dia seguinte. O grão-vizir, incumbido de trazer as jovens, tinha uma filha de nome Sherazade, que se aprimorara na arte da filosofia, história e poesia. Certo dia, ela disse ao pai que queria desafiar o sultão. O pai ficou aterrorizado, mas ela insistiu. Chegando ao castelo, pediu permissão ao sultão para contar-lhe uma história, e aí começa o poder da palavra. No auge da narrativa, ela interrompe e deixa o sultão ansioso pelo desfecho. Assim se passam mil noites. Ao final, ele se rende, seu espírito vingativo abranda e ele diz: “Eu desfaço a lei cruel que impus às mulheres; desejo que sejas a libertadora das jovens que seriam imoladas pelo meu ódio.”
Sherazade usou o poder das palavras para um objetivo salvador, mas não é isso que vemos no cotidiano. Quanto mais o orador for eloquente, usando a força da palavra, mais sucesso terá; ele não precisa ser verdadeiro, basta ser convincente. As palavras são a arma mais poderosa do mundo, saibamos bem empregá-la!(Foto: www.mediabuzz.it)
JÚLIA FERNANDES HEIMANN
É escritora e poetisa. Tem 10 livros publicados. Pertence á Academia Jundiaiense de Letras, á Academia Feminina de Letras e Artes, ao Grêmio Cultural Prof Pedro Fávaro e á Academia Louveirense de Letras. Professora de Literatura no CRIJU.
VEJA TAMBÉM
MAMÃES, VOCÊS NÃO PODEM TOMAR A VACINA CONTRA A COVID. CLIQUE AQUI PARA ASSISTIR AO VÍDEO
ACESSE O FACEBOOK DO JUNDIAÍ AGORA: NOTÍCIAS, DIVERSÃO E PROMOÇÕES
PRECISANDO DE BOLSA DE ESTUDOS? O JUNDIAÍ AGORA VAI AJUDAR VOCÊ. É SÓ CLICAR AQUI