Pancadões, noites em claro e trote: TRAFICANTE diz que vai resolver

Pancadões, noites em claro e um trote. A ligação anônima feita na madrugada da última segunda-feira evidenciou a realidade de moradores do bairro Jundiaí-Mirim que só querem dormir para poder trabalhar. Um morador, ainda não identificado, fez uma falsa comunicação de crime, acionando PMs e bombeiros. Mas, na verdade, ele queria que as as forças policiais acabassem com um pancadão que ocorria em um posto de combustível. É preciso lembrar que desde o início do ano, por determinação do prefeito Luiz Fernando Machado, operações vêm sendo feitas na cidade com o objetivo de coibir os pancadões. O Jundiaí Agora foi até o bairro e entrevistou vários moradores(que não foram identificados por motivos óbvios). Todos disseram que o barulho nas madrugadas é insuportável. Por ironia, um rapaz que afirmou ser traficante se comprometeu em fazer aquilo que as forças policiais não conseguem realizar há anos. Ele disse que iria falar com o ‘patrão’ para dar paz aos vizinhos do posto.

A publicação do post no Facebook do Jundiaí Agora causou revolta entre policiais militares e guardas municipais. A nota tinha o título “Se não vai de um jeito…”. Para eles, o post estava incentivando os trotes. Como se sabe, o problema vivido pelos moradores do Jundiaí-Mirim é antigo. O objetivo do título foi mostrar como um morador desesperado para ter uma noite de descanso acaba tomando uma atitude irresponsável. Pelo telefone, o morador avisou que uma mulher tinha sido baleada. Várias viaturas foram para o local indicado que, na verdade, era palco de mais um pancadão.

“Vou falar com o patrão” – Depois de entrevistar os moradores, a reportagem do Jundiaí Agora foi abordada por um rapaz de aproximadamente 20 anos. Educado, pediu a identificação do repórter e o questionou sobre o motivo das entrevistas. Quando ficou sabendo que era o som alto, o jovem disse que era traficante e que “iria falar com o patrão para mudar os pancadões e parar de incomodar os vizinhos”.

O rapaz explicou que o objetivo do som alto não é incomodar ou afrontar os moradores e sim atrair viciados. “Mas não está certo fazer os velhinhos sofrerem com o nosso pancadão”, ponderou. Ele falou que explicará a situação para o ‘patrão’ para manter boas relações com a comunidade. “Nós cuidamos destas pessoas”, concluiu.

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Noites insuportáveis – Um homem de 55 anos que mora a cerca de 500 metros do posto disse que as noites de sábados e domingos são insuportáveis. “A polícia passa e não faz nada. Eu já liguei para denunciar e nada aconteceu. Os moradores aqui têm muito medo”. Ele disse que se tivesse condições mudaria de bairro. Sobre as circunstâncias do trote, o morador foi claro: “acho que foi justo o que esta pessoa fez. Foi o único jeito que ela imaginou para conseguir ter uma noite de sono e poder trabalhar no dia seguinte”.

Numa outra rua, a mais de um quilômetro de distância do posto, uma moradora de 62 anos também diz que o som do pancadão incomoda bastante. “Mas dar trote nas autoridades é errado. O certo é falar a verdade e pedir para a polícia vir. Mas a gente não vê policial aqui”, comentou.

Ações contra pancadões: foto acima aconteceu em janeiro; a ação com cães ocorreu no ano passado
Ações contra pancadões: foto acima aconteceu em janeiro; a ação com cães (foto acima) ocorreu no ano passado

Nas proximidades, uma outra moradora de 69 anos diz que as madrugadas de domingo são terríveis. O som alto vai até as 6 horas da madrugada. “Nunca tentei chamar a polícia. Será que resolveria?”, ironiza. Ela acha que o morador que fez o trote está certo. “Com certeza esta pessoa estava muito incomodada com o som alto que dava para ouvir aqui de casa também”.

CLIQUE AQUI E VEJA ARTIGO DO DESEMBARGADOR CLÁUDIO LEVADA SOBRE O DRAMA VIVIDO PELOS MORADORES DO JUNDIAÍ-MIRIM

A cerca de 100 metros do posto, uma senhora de 87 anos diz que é doente e sofre com os pancadões. “A polícia passa e não para. Teve uma única vez que levaram um monte de gente para a delegacia”. A idosa também acha que o autor do trote era uma pessoa desesperada e que queria chamar a atenção das forças policiais para um problema que ocorre todos os finais de semana até o início das manhãs das segundas-feiras.

Um vizinho afirmou não ter opinião sobre o trote. Porém, ele também se sente incomodado por tanto barulho. Já uma moradora de 32 anos não concorda com o trote dado na PM e bombeiros. Ela diz que gostaria de se mudar de bairro. Enquanto isto não acontece, ela vê viaturas policiais passarem pelo posto e não resolverem o problema.

Guarda Municipal – A assessoria de imprensa da GM de Jundiaí divulgou a seguinte nota: “a corporação mantém o patrulhamento comunitário 24 horas por dia, em caso de emergência os telefones 153 ou 4492-9060 estão à disposição.

As ações envolvendo os órgãos de segurança no combate ao “pancadão” são realizadas semanalmente, sempre feitas de maneira pontual. Essas mesmas ações vem agradando os moradores de vários bairros em que o problemas vem persistindo, sendo inclusive divulgado por meio da assessoria da GM.

No final da tarde da última segunda-feira, durante o patrulhamento no Jundiaí-Mirim equipe de motos, um homem tentou fugir da viatura e durante a abordagem foi localiza pinos de cocaína e uma sacola com outras 25 trouxinhas de maconha e 13 frascos de lança perfume. Tudo foi apresentado no 3º DP. O homem acabou sendo liberado mais tarde”.

LEIA A REAÇÃO DE POLICIAIS MILITARES E GUARDAS MUNICIPAIS AO POST PUBLICADO PELO JUNDIAÍ AGORA

PM – A assessoria de imprensa do 49º Batalhão da Polícia Militar enviou a seguinte nota: “A PM alerta a todos que, realizar ligações para números de serviços públicos de emergência, noticiando fatos mentirosos, é um ato criminoso. No ano passado, 2016, os trotes ocuparam as linhas de atendimento de emergência do 190, do Copom de Campinas, por 1.561 horas.

Solicitar os serviços da Polícia Militar, sem a real necessidade, além de ilegal é imoral, causa grandes prejuízos à toda sociedade, adiando ou impedindo outros atendimentos, desviando e ocupando o profissional de segurança pública com falsas ocorrências, provocando eventuais atrasos de casos emergenciais.

Quanto a perturbação provocada pela aglomeração de pessoas, conhecida vulgarmente como “pancadão”, informamos que são realizadas operações para coibir crimes atrelados a esses eventos, e orienta às vítimas da contravenção de perturbação do sossego que registre e formalize a denúncia na delegacia mais próxima, para que os fatos ilícitos praticados sejam levados a justiça, principalmente se o fato acontece em estabelecimentos comerciais e/ou áreas particulares.

A Polícia Militar afirma que, além de promover a segurança em áreas públicas, está à disposição para receber as queixas da população e realizar ações conjuntas com os demais órgãos públicos que tem a responsabilidade sobre outros tipos de fiscalização, conforme já ocorrera anteriormente”.