Com apenas sete meses, Laís Maria não tem ideia de que pode estar prestes a ajudar as mulheres de um país inteiro a buscarem mais informações e optarem pelo melhor tipo de parto para elas e para os bebês. Na próxima quarta-feira(18), uma equipe profissionais peruanos da área da saúde virá para Jundiaí conhecer a família da bebê. Lá, como aqui, são realizadas milhares de cesarianas desnecessárias. Patrícia Almeida Marietti, 30 anos, mãe de Laís que o diga (as duas na foto acima). Antes dela, Patrícia teve quatro filhos. Todos vieram ao mundo através da cirurgia que corta o útero para a retirada da criança e da placenta.

A história de Patrícia, o marido Eugênio Augusto(35) e dos filhos Débora(8), Davi(6), Júlia(4), Lucas(3) e Laís é impressionante. Mas ganhou dimensões ainda maiores quando o casal decidiu publicar o vídeo do nascimento da caçula no Facebook(abaixo). Até o momento, 110 mil pessoas já viram a postagem. A cinco mil quilômetros de Jundiaí, no Peru, a doulas Belen Desireth Cruz assistiu ao vídeo e o mostrou para uma equipe que trabalha com parturientes. Doulas são mulheres que cuidam das grávidas antes, durante e depois do parto. A doulas Belen, dois ginecologistas, um pediatra e outras pessoas da equipe chegam a Jundiaí na próxima quarta-feira. Ficarão até domingo. Conversarão com Patrícia, Eugênio e como os médicos que assistiram o nascimento de Laís. E levarão para o Peru informações que provam que partos naturais humanizados são bons para as mulheres e seus filhos.

Aqui vale explicar o que são os partos normal, natural e humanizado. A forma como o processo é conduzido é a principal diferente entre os partos humanizado e normal. No primeiro tipo, o centro de tudo é a mulher. É ela quem dita o ritmo, sendo tratada com carinho e podendo estar até na companhia da família. O parto normal, ou vaginal, é diferente do humanizado já que há interferência médica. A mulher pode receber, inclusive, anestesia.

O Jundiaí Agora – JA – entrevistou Patrícia Almeida Mariete:

Somente Laís nasceu através de parto humanizado. Para os outros quatro, o parto foi cesariana. Por quê? 
Não foi escolha minha. Eu e meu marido não usamos métodos contraceptivos. Acreditamos que filhos são bênçãos de Deus. Eu terei quantos Deus permitir. Sempre quis ter parto natural. Mas o médico que me atendida dizia que eu não tinha dilatação. Isto aconteceu nos três primeiros partos. Só depois, buscando informações, é que descobri que falta de dilatação é um mito. Mas na época achei que era o certo a fazer. Na segunda gravidez cheguei a falar para o médico que queria ter parto natural. Ele disse que eu nem poderia entrar em trabalho de parto já que o útero poderia se romper. O terceiro foi pelo mesmo motivo. Na quarta gravidez, o motivo foi diferente. Uma amiga tinha passado pelo parto humanizado na própria casa. Ela deu para nós o DVD  Renascimento do Parto.
Passamos a enxergar os partos de forma diferente. Vimos como cesarianas são feitas de forma desnecessária. Com elas, os bebês e as mães não passam pelo que devem passar no trabalho de parto…
O médico do quarto parto é o mesmo que assistiu ao nascimento de Laís, dr. Bráulio, de Sorocaba. Ele deu uma aula para mim e para meu marido sobre parto humanizado. Só que na hora do nascimento, o Lucas encaixou de lado. E ele era muito grande. Fiquei 20 horas em trabalho de parto. O médico tentou virá-lo. Eu sentia muita dor. Tinha muito sangue e havia risco de ruptura uterina. Achamos melhor fazer a cesariana. Mas foi muito diferente das outras. As luzes foram apagadas. Houve silêncio. Assim que Lucas nasceu, o médico o colocou no meu peito. Ele não foi para o colo de uma enfermeira. Não foi limpo nem aspirado. Ele ficou comigo. Não houve ruptura do útero. Um dos médicos da equipe chegou a perguntar se era o meu segundo parto já que meu útero estava muito bem. As cesarianas são para casos de extrema necessidade.
Como foi a preparação para o parto da Laís?
Foi muito parecida com o do Lucas. Fizemos o pré-natal em Sorocaba. O médico atende lá. Queríamos que ela nascesse na água. Compramos uma piscina…
Quais os seus principais medos?
Os de todas as mulheres. Mas não pensava no rompimento do útero. O parto ocorreu em um hospital. Havia médicos à minha volta. Qualquer problema fariam a cesariana.
O que dava a certeza de que era a escolha certa?
Tudo estava dando certo. Deus estava preparando tudo. Até o lado financeiro!!!
Como foi na hora ‘H’? Exatamente o que pensava? Melhor? Pior?
Foi melhor do que pensava. As dores começaram em casa. Fomos para Sorocaba. Sei que cheguei lá com dores muito fortes. É estranho, mas a intensidade das dores é apagada da cabeça. Não se consegue pensar direito. Parece que se entra em outro mundo. Da saída de Jundiaí até o nascimento levou cinco horas. O parto em si, três horas.
Por que decidiram fazer o vídeo?
Eu nem sabia do vídeo. Contratamos uma fotógrafa. Depois do parto é que ela contou que tinha feito o vídeo que começa comigo falando. Aquilo ocorreu cinco dias antes, num encontro de gestantes. Resolvemos publicar para ajudar outras mulheres. É possível optar pelo parto humanizado mesmo após as cesarianas. O risco precisa ser, obviamente, analisado junto com o médico.
O que acharam da repercussão?
Ficamos felizes. Acreditamos que tenha ajudado muitas mulheres. Alguns utilizaram o Facebook para conversar. Tentei responder com o máximo de detalhes. Recebi centenas de mensagens. Uma mulher com história muito parecida com a minha, inclusive participante do mesmo movimento católico que o meu, também conversou comigo. Uma outra disse que graças ao vídeo decidiu ter parto natural depois de duas cesarianas. Para mim valeu!
 
O que os peruanos farão aqui?
Foi a Belén, uma doulas, que assistiu ao vídeo. E no Peru está havendo uma movimentação a favor da humanização do parto. Eles virão conhecer a nossa história e falar com o dr. Bráulio e a equipe dele. Vão trocar experiências, informações e levar tudo isto para o Peru. Pelo que entendi, no Peru as coisas ocorrem como no Brasil. Há um grande número de cesarianas desnecessárias.
Mais um bebê a caminho? Mesmo que não, se tivesse um sexto filho seria por parto natural? 
Não(risos). Mas se Deus me permitir, com certeza será de parto humanizado.
O que você pode falar para as grávidas em relação à escolha do parto?
Sugiro que busquem informações de qualidade. É muito importante escolher de forma consciente a forma que seu filho virá ao mundo. É preciso passar por isto de forma consciente. Para o próprio bem e pelo bem da criança.