Em 1998, o repórter Mário Simas Filho, da revista IstoÉ, veio a Jundiaí várias vezes. Ele produziu uma série de reportagens que recebeu o título de ‘A Indústria da Adoção’, relatando os casos de crianças que foram mandadas para o exterior por determinação da Vara da Infância de Jundiaí. No ano seguinte, as reportagens quase ganharam o prêmio Esso, o mais importante do jornalismo Brasileiro. Ele afirma que histórias falsas eram usadas para quebrar o pátrio poder das famílias. O juiz Beethoven processo a revista. Hoje, Simas é diretor de núcleo da mesma revista. Ele relembrou como foram os dias de trabalho em Jundiaí.
A primeira parte da entrevista com Mário Simas Filho:
Como tomou conhecimento do caso?
Tomei conhecimento do caso através do advogado Marco Antônio Colagrossi. Ele me disse que em Jundiaí um grupo de mães se reunia periodicamente na frente do Fórum para protestar contra o juiz, que estaria facilitando adoções internacionais de filhos de famílias pobres da cidade. O caso logo me chamou a atenção, pois havia um sutil paralelo com as mães argentinas que tiveram seus filhos tomados pela ditadura e organizaram um movimento com repercussão internacional.
Como foi o início da investigação? Veio para Jundiaí?
Fui várias vezes até Jundiaí para conversar com as mães em conjunto e separadamente. Fui à casa delas, às escolas onde as crianças estudavam, conversei com professores, diretores de escolas, vizinhos etc. Esse trabalhou durou mais de três semanas até a publicação da primeira reportagem, que foi uma capa da revista.
Qual a impressão que teve no início?
O que me motivou a investigar o caso, além das denúncias, foram os números do TJ (Cejai), mostrando que as adoções internacionais feitas em Jundiaí superavam as feitas em Campinas e outras cidades de muito maior porte
Ela se manteve durante todo o trabalho? Aliás, quanto tempo ficou em Jundiaí?
Foram quatro ou cinco matérias. Durante uns três meses ia a Jundiaí pelo menos uma vez por semana. Antes da primeira reportagem foram cerca de três semanas com idas diárias a Jundiaí, sempre na companhia da repórter fotográfica Luciana de Francesco.
Percebeu que a cidade ficou dividida entre os que defendiam o Beethoven e os que o criticavam?
Sim, havia uma clara divisão na cidade. Muita gente, inclusive o bispo da época, não me recordo do nome dele, apoiava o juiz. Mas grupos de mães, professores e assistentes sociais apoiavam as mães. Claro, o apoio às mães era mais velado, posto que as pessoas tinham uma espécie de medo do juiz.
Mário Simas Filho,10 anos antes das investigações em Jundiaí
Entrevistou o juiz Beethoven e a então promotora de menores, Inês Makowski?
Claro. Tanto o juiz como a promotora foram ouvidos e muito pouco disseram. Afirmavam sempre que não poderiam falar por se tratar de processos com segredo de Justiça.
Na época, advogados e delegados diziam que o principal erro do juiz era ter acelerado os processos. O que pensa disto?
Não acho que o único erro do juiz foi acelerar processos. Aliás, a lentidão da Justiça é um dos maiores problemas do país. O problema é que os processos de adoção eram absolutamente regulares. Mas, no processo anterior, o da quebra do pátrio poder, é que havia as fraudes. Histórias falsas, um mesmo atestado de assistente social usado em vários processos, declarações fraudadas, etc. Coisas assim permitiam a quebra do pátrio poder e a consequente disponibilidade das crianças para a adoção. Claro, a promotora fazia vistas grossas a tudo isso.
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