Vivências de pequenas grandes coisas ampliam o coração. São três histórias bonitas. Minha mãe, nos seus quase 94 anos, é professora de tapeçaria e bordado, duas vezes por semana, para crianças da Casa da Fonte, projeto do terceiro setor com investimento socioeducacional da Companhia Saneamento de Jundiaí (CSJ). É costume dela, uma vez por semana, distribuir pirulitos para as crianças e adolescentes que frequentam o espaço. Atitude de quem reconhece que a doçura é primordial.

Um dia desses, uma de suas alunas, de nove anos, comentou com as demais que gostaria de ganhar muito, muito, muito dinheiro e, se isso acontecesse, daria tudo à “vó Irene”, porque ela se preocupa em distribuir as coisas para os outros. Interessante: é uma criança com quatro irmãos, moram em três cômodos e a mãe, que os cria sozinha e sem qualquer colaboração paterna, se esforça bastante, no trabalho de faxina, para não faltar o dinheiro do aluguel e do alimento. O comum seria a menina pensar na quantia para desejos pessoais, no entanto, é capaz de enxergar além de si própria. Encantei-me ao saber. E é uma garota de certa forma calada, que não costuma expressar o que sente.

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A terceira história aconteceu comigo. Comprava pãozinho francês na padaria de um supermercado que não costumo frequentar. Após colocá-los no saquinho de plástico, encontrava-me com dificuldade em dar um nó na ponta. Uma menina, de uns oito anos, ao lado da mãe me observava. Ficou na ponta do pé e me ofereceu, cautelosa, um amarrilho, que se achava na parte superior do balcão. Eu desconhecia. Que graça! Gente de coração educado para a solidariedade e atenção. Crianças assim fortalecem a esperança em uma sociedade generosa.


MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE

Com formação em Letras, professora, escreve crônicas, há 40 anos, em diversos meios de comunicação de Jundiaí e, também, em Portugal. Atua junto a populações em situação de vulnerabilidade social. Acesse o Facebook de Cristina Castilho.