A pressão sobre a presidente da Câmara de Itupeva, Tatiana Salles, aumentou sensivelmente na noite de ontem, durante a sessão ordinária dos vereadores. Durante quase 1h30, aproximadamente 40 manifestantes se mostraram visivelmente irritados com a demora para se apurar se o vereador Valdir Miranda Bonifácio, o Valdir Ceará, cometeu quebra do decorou parlamentar já que está sendo acusado de assédio sexual. Algumas falas de vereadores, como Ana Paula Marciano e Ezequiel Alves de Oliveira, deixaram claro que a investigação precisa ser feita e, caso haja protelação, os manifestantes devem continuar indo à Câmara para exigir que a representação protocolada no dia 16 de abril chegue ao plenário.

Junto aos vereadores, um coro não parava de gritar “Abuso é crime”, “Fora Valdir” e “Mexeu com uma Mexeu com Todas”. Esperava-se cerca de 100 mulheres nesta manifestação. O ato não contou com este número de pessoas e nem foi preciso. Homens se juntaram ao grupo que, vestindo roupas cor-de-rosa, levantou cartazes e uma faixa com a foto de Valdir Ceará e os dizeres “Não é Não”. A presidente do Legislativo justificou que deixou de fora a representação durante os trabalhos da noite de terça por conta das análises do documento que a Procuradoria da Câmara precisa fazer. Do outro lado, o grupo de rosa endureceu o discurso e prometeu não arredar pé de todas as sessões até que o caso seja finalmente aberto, analisado e votado.

Antes da sessão, por volta das 18 horas, Tatiana Salles concedeu entrevista ao Jundiaí Agora. Ela deixava o prédio da Câmara e retornaria cerca de 40 minutos mais tarde. “Os manifestantes virão de rosa. Eu virei vestida de branco. Branco do paz. Paz política”, adiantou. Cumpriu a promessa. Em resumo, a vereadora falou ao JA aquilo que iria discursar minutos mais tarde durante a sessão. Uma frase dada ao Jundiaí Agora, contudo, não fez parte da explanação dela em público. “Isto está sendo armado por politiqueiros”, afirmou.

Ao ser questionada sobre a demora em colocar a representação em pauta, Tatiana afirmou que não viu a acusação e que não há um prazo específico para isto. Segundo ela, os advogados ainda estão avaliando o documento. “Eles disseram que a representação não está pronta para ir à plenário. Assim que o jurídico da Câmara se manifestar, podem ter certeza de que tomaremos as providências”, comentou.

ENTENDA O CASO

VEREADOR É ACUSADO DE ASSÉDIO. MULHERES VÃO PROTESTAR

PRESIDENTE DO LEGISLATIVO DEIXA REPRESENTAÇÃO FORA DA PAUTA. ATO SERÁ REALIZADO ASSIM MESMO

O breve discurso da presidente da Câmara de Itupeva foi interrompido algumas vezes por uma manifestante mais exaltada(veja vídeo abaixo). Ela repetia que Valdir não a a representa na Câmara. Quando Tatiana terminou de falar, a multidão a vaiou e voltou a gritar palavras de ordem contra Valdir Ceará.

O que as manifestantes não conseguem entender é o fato de Tatiana, sendo mulher, estar ‘protelando’ a chegada da representação para que providências sejam tomadas. “Eu sou mulher. Mas não sou delegado de Polícia nem sou juíza. São eles que conduzem um inquérito. Eu sou mulher mas devo ser justa. Não podemos simplesmente tirar conclusões. Acho que estas manifestações seriam mais válidas se fossem feitas na frente da Delegacia de Polícia ou no Fórum. Lá existe condições de se investigar criminalmente e dar uma sentença caso o vereador seja culpado”, conclui.

O aposentado José Strabeli, porém, deu uma interpretação diferente do regimento interno da Câmara que – pelo menos em teoria – desmontou a argumentação de Tatiana. Segundo ele, “o decreto 201 de 1967, da Presidência da República e ainda em vigência que afirma que em casos de denúncias contra vereadores ou mesmo o prefeito, estando a Câmara de posse da documentação, o caso deve ser levado ao plenário na sessão seguinte”(clique aqui para ler o decreto). 

De acordo com ele, portanto, a representação já deveria ter sido apresentada na sessão da semana passada, no dia 23, quando também houve um ato para pressionar Tatiana Salles. “Se alguém encaminhou a representação contra o vereador Valdir Ceará para a Procuradoria do Legislativo, esta pessoa só pode ter sido a presidente da Câmara. Então, ela teve acesso ao documento. E se a Câmara não colocar este item na pauta nas próximas sessões, estaremos aqui todas as terças-feiras para continuar pressionando”, adiantou.

Vereadores – O que se pôde perceber durante a sessão de ontem era um clima de desconforto entre os vereadores. Antes da sessão começar, o JA tentou conversar com Valdir Ceará. Ele mandou avisar que não se pronunciaria. Durante os trabalhos, ele procurou olhar fixamente para a mesa diretora. Tomou muita água e, em alguns momentos, mexeu-se na cadeira, girando-a do centro para a esquerda com certa força, como se algo o incomodasse. Esta pode até ser a forma como o vereador assiste a todas sessões. Para quem não o conhece, transmitia uma sessão de certo nervosismo(veja sequência de fotos abaixo). Ele só se manifestou duas vezes – nas chamadas – e foi vaiado em ambas.

É preciso lembrar que o Legislativo de Itupeva vinha passando por um outro caso traumático: o processo da denúncia de quebra de decoro parlamentar contra o vereador Ângelo Bottan, o qual terá continuidade. No ano passado, uma conversa de Bottan teria sido divulgada. Nela, o parlamentar teria falado que queria indicar uma pessoa para trabalhar na Prefeitura e “ajudá-lo em seus interesses”. A denúncia foi feita por um morador da cidade e aceita por unanimidade.

O vereador Ezequiel Alves de Oliveira não mediu palavras ao comentar o suposto caso de assédio sexual. “A presidente está seguindo as normas. Ontem(segunda-feira) eu sugeri ao departamento jurídico que apressasse a análise da representação para que ela fosse apresentada nesta sessão, o que não aconteceu. O que posso dizer é que nós, vereadores, temos de ir até o fim. É preciso apurar, votar. Uma pessoa que é culpada precisa ser afastada ou banida da vida pública”. Como forma de provocação, Ezequiel afirma que costuma dizer que é incorruptível e que quer que outros vereadores também o sejam. “Alguns colegas não gostam muito deste meu comentário”, ironizou. Ao saber que as manifestações continuarão caso a representação não seja apresentada, Ezequiel aconselhou a turma cor-de-rosa: “Venham mesmo. É preciso que se manifestem. A Câmara é a casa deles. E eles têm direito a dizer o que pensam”. Ezequiel aumentou a pressão sobre a vereadora Tatiana Salles com estas declarações.

Ele também comentou aquilo que quase ninguém vê: o clima nos bastidores da Câmara. O vereador Ezequiel(abaixo, de bigode), ao revelar como se sente ao saber que um colega está sendo alvo de acusações graves, afirmou que é “muito triste saber que a pessoa que se senta ao seu lado pode estar envolvida com coisas assim”. O interessante é que enquanto dava entrevista, Ezequiel foi observado bem de perto, atentamente, por Valdir Ceará, conforme a foto abaixo não deixa dúvidas.

Foi a vereadora Ana Paula Marciano quem arrancou aplausos da plateia cor-de-rosa. Ela lembrou, na tribuna, que no próximo ano haverá eleições municipais. “Estou muito feliz de ver a Câmara cheia de jovens. Gostaria que sempre foi assim. E gostaria também de dizer que quem trabalhar de verdade, trabalhar duro, terá votos. E também falar que quem deve, seja lá quem for, vai ter que pagar”.

Depois da sessão, Ana Paula(abaixo) disse ao JA que os casos de importunação sexual proliferam no Brasil e que isto precisa acabar. Ela é favorável à investigação do caso envolvendo o vereador de Itupeva, com calma, seguindo todos os trâmites exigidos pela lei. Quanto à insistência dos manifestantes em pressionar a presidência da Câmara, Ana foi na mesma linha que o colega Ezequiel. “A Câmara é a casa da população. Os manifestantes podem e dever vir quantas vezes quiserem para mostrar o que pensam”, enfatizou. Assim como o vereador Ezequiel, Ana Paula também fez com que a pressão aumentasse para cima da presidente do Legislativo.

Assim que chegou à Câmara Municipal, o vereador Edicarlos Candiani Luna, foi procurado para dar sua opinião a respeito da polêmica envolvendo o vereador Valdir Ceará e a representação existente contra ele. “Falo depois da sessão”, disse de forma lacônica. Não foi necessário esperar o encerramento dos trabalhos para ter o ponto de vista do ex-presidente do Legislativo itupevense.

Usando a tribuna e dirigindo-se aos manifestantes, Edicarlos afirmou que estava muito feliz ao ver tantos jovens acompanhando a sessão. Teve um flashback lembrando que no início da década passada ia – como cidadão – às sessões para acompanhar os trabalhos. “Vocês um dia estarão aqui e terão de tomar decisões importantes. Por isso, precisam refletir bem o que estão vivenciando sobre os atos e suas consequências. A Justiça daqui pode falhar. Mas a Justiça lá de cima não falha”, disse. Ele assegurou que a documentação que vier da Procuradoria da Câmara será analisada de acordo com o regimento.

Tatiana Salles, a presidente da Câmara(acima), voltou a falar antes do encerramento da sessão. Também foi à tribuna. E mais uma vez justificou a suposta demora da chegada da representação para análise dos vereadores. “Não estou sendo omissa. A Câmara tem um procurador e ele tem autonomia para falar o que deve vir para discussão no plenário ou não. Não posso cometer injustiças. Não estou capacitada para julgar. Além disto existe a lei da causa e efeito. Sempre, antes de sair de casa, penso: não farei aos outros o que não quero que façam comigo. As coisas serão feitas sim. Mas no tempo certo”, concluiu. Ao encerrar a sessão, Tatiana abraçou e deu um beijo no rosto de Valdir Ceará.

Mais opiniões – O ex-vereador Rogério Cavalin assistiu à sessão. Ele afirmou que o Legislativo tem obrigação de investigar a denúncia. “É algo muito grave. Um parlamentar está sendo acusado e é preciso abrir o um processo interno. Se ele for culpado, sofrerá as consequências. Por outro lado, se for inocente, o processo será bom para ele, provando a inocência. O que importa é que a verdade precisa aparecer e a Câmara não pode se omitir”, disse.

A autônoma Cristina Le, a Crislê, acredita que há indícios de omissão por questões políticas neste caso. “Eu sei o que as vítimas de agressão ou assédio passam. Eu tenho uma medida protetiva. Sei o que é um abuso e quando há omissão. A mulher se sente sozinha. É preciso que esta representação seja analisada”, disse. Antes da sessão, ela acreditava que a pressão popular mudará o posicionamento da presidente da Câmara. “Na sessão da próxima terça-feira(7), acredito que o tema estará no plenário. Se não estiver, voltaremos aqui para nos manifestar e exigir providências”.

A funcionária pública Paula Freitas lembrou que a acusação de assédio tomou conta das redes sociais dos itupevenses. “É necessário que o Poder Legislativo faça o que deve ser feito. E, pelo que sabemos, a representação deveria ter sido colocada em pauta na sessão seguinte após ter sido protocolada. Ou seja, na semana passada”, concluiu, repetindo o argumento do aposentado José Strabeli. E, assim como Crislê, Paula assegura: enquanto as investigações da Câmara não tiverem início, os manifestantes farão pressão sobre a presidente Tatiana Salles.


Mais cenas da sessão em que manifestantes pedem que representação contra o vereador Valdir Ceará seja levada ao plenário:

Do lado de fora da Câmara: manifestantes exibiam palavras de ordem contra Valdir Ceará em cartolinas
GM na Câmara: guardas foram chamados, acompanharam a sessão e respeitaram o direito democrático de manifestação
Mulheres unidas: movimento cor-de-rosa promete continuar pressionando Tatiana Salles, presidente da Câmara

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