Atualmente, é natural, em qualquer transação comercial ou pessoal, fazer o uso de um documento, muitas vezes papel, para que tenhamos a comprovação de que determinado acordo foi firmado. Dessa forma, temos, por exemplo, a garantia da televisão que compramos, o documento do carro e a escritura de nossa casa. Todos eles servem para que não tenhamos problemas no momento de comprovar que um item é realmente de nossa posse.
É fácil imaginar nos dias de hoje a fabricação de tais documentos, uma vez que a quantidade de pessoas que sabem ler e escrever é imensa. Porém, ser letrado há alguns séculos não era algo alcançado de maneira simples. Para aprender a escrever e ler, a pessoa precisava ter condições financeiras boas e ter alguns contatos com pessoas influentes, como membros da igreja.
Em todos os lugares do mundo, seja no Brasil ou em países da Europa, a quantidade de pessoas que conseguiam se expressar de maneira escrita era pequena, por isso, a profissão de escrivão era tão importante em séculos como o XV, XVI, XVII e XVIII. Além de saber ler e escrever, o escrivão também sabia como lavrar documentos oficiais e que serviam para reconhecer que uma pessoa era dona de algo.
Em Jundiaí, até o momento, o documento mais antigo de que temos notícia é o códice de Cartas de Datas de 1657, que está no acervo do Centro de Memórias de Jundiaí. Nele estão escritos os 59 documentos que comprovam a doação de terras feitas na vila feitas pelos oficiais da Câmara e quem é o responsável por lavrar todos esses documentos é o escrivão Mathias Machado Castanho.
Transcrição: E eu Mathias Machado Castanho escriuão da Camera o escrevj per mandado dos dittos ofissiais. (Centro de Memórias de Jundiaí).
A única referência que temos sobre quem foi Mathias Machado Castanho é encontrada no site “Genealogia Brasileira”, de Leônio Luiz Richa, segundo o qual, o escrivão de Jundiaí nasceu em Sardoal, vila portuguesa do distrito de Santarém, região Central, e se casou, em meados de 1650, com Jerônima Fernandes Preto, filha de Antônia Dias Preto e João Paes Malho, moradores e povoadores de Jundiaí.
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Mesmo não tendo muitas informações, é interessante nos questionarmos sobre como Mathias Machado Castanho chegou até Jundiaí e como ele passou a ser o escrivão da Câmera, sendo o responsável por organizar, no ano de 1657, todas as doações de terras de maneira escrita para que a qualquer momento essa informação pudesse ser retomada, caso fosse necessário comprovar que um morador da vila era realmente o dono de uma porção de terra.
Mathias Machado Castanho é uma figura muito importante para nossa cidade e para nossa história, pois se ele não tivesse chegado à Jundiaí e tivesse a capacidade de escrever e registrar os documentos, hoje não saberíamos como eram feitas as doações de terras em nossa região durante o século XVII.(Foto principal: https://bit.ly/2zObfqr)
KATHLIN MORAIS
Jundiaiense, mestra em Filologia e Língua Portuguesa pela USP, técnica em conservação e restauro de documentos em papel pelo SENAI e professora de Francês e Inglês na Quero Entender – Aulas Particulares.